A Quarta e o Amor

Leone Borges
Pela Metade
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3 min readSep 7, 2018

Apesar de ser sexta!

As nossas memórias são coisas engraçadas, eu diria que até mesmo interessantes. Vou compartilhar com vocês uma dessas memórias, e aí pode ser que seja bacana, ou não, veremos.

Na quarta passada era véspera de alguma coisa, eu não lembro bem do que. Faz tempo, foi quarta… Também não lembro mesmo se era a da semana passada ou retrasada. E na realidade, isso já nem importa muito, o que importa mesmo é o que foi dito, e disso eu me lembro bem.

E na verdade, eu só lembro bem porque fiquei pensando por dias! Tá, tudo bem, não foram dias, talvez tenham sido algumas poucas horas, mas sabe àquelas horas looongas?! Pois é, desse jeito. E sabe todas aquelas palavras não ditas?! Lembra? Me machucaram tanto que, eu fiquei apenas com uma dúvida em mim: eu ainda era um ser humano vivo? Porque aquilo que não foi dito, não era possível.

É estranho e nebuloso como em um momento — e quando digo momento, entendam anos — você pode me amar, como você pode dar tudo de você pra mim e de repente, nenhuma palavra mais?! Perceba, foram meses de sorvetes, pizzas, jantares, filmes e canções. Cheguei a pensar que eu estava enlouquecendo ou até mesmo criando caso, sonhando quem sabe… Eu sei, não houve toque, beijo, nada. Talvez um abraço, talvez olhares. Isso, olhares, apenas eles se tocavam. Trocávamos olhares como ninguém, veja só.

Seria menos dolorido se não tivéssemos uma música nossa, um dia nosso, uma banda nossa. Tudo nosso, ou melhor, nada nosso. Mas nem nos pertencíamos de fato, quiçá todo resto. Tudo tão belo, que por fim ficou feio, áspero. Inesperado. Findado. Fadado a deixar abertas muitas portas e nem comento nada sobre as janelas, fendas e buracos.

E toda aquela vontade, pra onde foi? Não era de verdade? Toda aquela coragem e maturidade? Ficou no estúdio ou no quarto. Você esqueceu de tudo, só pode. Ou talvez nunca tenha sentido, lembrado ou apenas perdido. Posso até me arriscar a achar que você nunca as teve. Já era quinta e nada.

O fato, é que existe um Amor entre nós. E amor com ‘A’ de acordei maiúsculo. E o que seria de mim, de nós, do mundo sem esse específico, terno e concreto Amor? Nada, presumo e resumo. Talvez esse Amor tenha lhe tomado com mais força e ternura, de modo tão irresistível que por isso, naquela quarta você não me disse nada, todas as suas palavras se perderam e ainda assim eu as escutei, pior, as senti.

Com parresia ou sem a mesma, você partiu em um trem, talvez não literalmente, mas tão rápido como um. Mas o que é literal e poético na verdade é a decisão que você sabiamente, mas não intencionalmente me obrigou a tomar. Qual? A decisão de também eu ceder ao Amor, ser dele e sem hesitar, tomá-lo com meu. Devolver-me apenas.

E nessa quarta me dei conta, sou um ser humano vivo, e não foram as suas palavras não ditas que me fizeram perceber isso, mas o seu doce e difícil ato de sem restrições amar o Amor por completo. O que é fato, não é questionável. É fato.

Acho que dessa vez doeu um pouquinho, né?

E é isso gente, até mais!

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Leone Borges
Pela Metade

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