Carta aberta para a Talita de 16
Oi. Eu sei que nesse momento você está muito deprimida, desolada e desesperançosa. São 17h30 e você teve um péssimo dia. Chorando e assistindo Malhação. Não por escolha, mas por ser a única coisa que te conecta e desconecta, ao mesmo tempo, da sua realidade.
Essa carta é uma tentativa minúscula de te dizer que tudo vai se resolver. Não necessariamente da maneira como você espera, mas da maneira como suas escolhas resultaram em um ou vários objetivos finais.
Por isso, espero que me “escute” com atenção. Seja menos dura consigo mesma mas não tão maleável. Você não é a pessoa mais esperta do Universo e também não é a mais estúpida. Por isso, estude. Eu sei que é um saco estudar coisas das quais você não se interessa, mas tudo que você aprende se torna parte de um conhecimento maior; o seu auto conhecimento. Talvez o Teorema de Pitágoras não faça sentido mesmo daqui a 10 anos, mas ele vai te mostrar, pelo menos, as coisas que te interessam e que não te interessam.
Não desista quando um texto parecer incompreensível (sim, odeio te dar esse spoiler, mas é provável que você o leia novamente na faculdade) ou um assunto completamente estúpido. Eles fazem parte do Universo que você vive. Vão fazer parte de você. Mesmo que seja pra reclamar com seus amigos.
Falando em amigos… eles são legais. Eles te compreendem. Mas as vezes, eles podem te deixar presunçosa e arrogante. Então, é importante que você também seja sua amiga. Mas seja sincera, principalmente com as coisas que não são legais. Vai criar um senso de ética no seu coração. Seus amigos te amam muito… ao ponto de serem permissivos nas suas atitudes idiotas. Não seja. Compreenda o que você fez, porque você fez e seja sincera consigo mesma.
Isso também se aplica a “aquela” pessoa. Você acha que você deveria ser o centro do Universo dele (ou muito intimamente, que ele deveria ser o centro do seu Universo) mas não é; e isso te causa muito sofrimento. Posso ser sincera com você? Ele é incrível mas existem muitas outras pessoas por aí, tão incríveis quanto. E ser o centro do Universo dele não vai fazer de você uma pessoa mais legal, mais bonita ou mais incrível. Você já é tudo isso, só não entendeu ainda.
Toda a angústia de agora, em algum momento, vai se tornar raiva. E depois rancor. E depois uma vontade absurda de se vingar de alguma forma. Qualquer forma. Mas essa vingança não vai chegar. Porque vingança não vai trazer o que você deseja. Em alguns meses, tudo vai ficar “bem”. Depois, vai piorar. E melhorar e piorar. Essa montanha-russa ainda vai demorar alguns anos, mas no fim das contas, você vai entender o porquê das coisas. Vai conseguir enxergar o aprendizado por trás dessas lições. Vai ver o quanto você amadureceu e cresceu diante delas.
Às vezes, quando você tiver 27 anos, vai pensar o que poderia ter feito de diferente. Os lugares que deveria ter ido, as pessoas que deveria ter conhecido, as coisas que deveria ter escolhido. Mas não existe motivo para aflição. Tudo aconteceu como aconteceu e isso foi bom.
A adolescência é um saco, eu não vou tentar te convencer do contrário. Esse ódio que às vezes toma conta de você e cinco minutos depois se torna alegria, são só os hormônios tentando te tornar adulta. Tudo parece uma tempestade sem fim, mas a medida que você entende de onde essa tempestade vem e pra onde ela vai, nada se torna impossível.
O que eu sugiro a você hoje é: tenha paciência. Tenha paciência com você mesma. Tenha paciência com seus pais. Hoje eles parecem dois adultos perdidos… mas é o que eles são. Tão perdidos quanto você. E a medida em que o tempo passar, você vai se tornar mais compreensiva com isso.
Além da paciência, por favor, se cuide. Preste atenção em seus sinais. Preste atenção na vozinha que fala com você, através do seu coração, te dizendo quais são os lugares que você tem que ficar e quais você deve se retirar. Ela é você mesma, tentando se comunicar. Preste atenção a sua insônia e a taquicardia. A falta de ar. Você acha que tudo isso é físico mas na verdade, alguns anos depois, você vai entender que é psicológico.
No fim das contas, você tem todo o potencial do mundo. Você vai continuar a ter preguiça de acordar cedo e vai viver uma série de coisas lindas e pavorosas. Você vai conhecer pessoas, lugares, momentos e livros incríveis. Vai viver uma série de momentos muito tediosos e muito magníficos. Você vai amar e se sentir amada. De várias formas, por várias pessoas.
No fim das contas, vai dar tudo certo. E talvez, só talvez, o seu eu de 48 anos, volte de novo pra escrever uma carta. Para a Talita de 27 anos.
Com amor,
T.
P.s.: algum dia espero que você crie coragem para ser a adulta que escreveu o que realmente queria, naquela quinta feira de outubro…
