Ilustração: Agatha Catunda

Das coisas que aprendi quando fui embora

Fui embora aqui significa: mudei de cidade, fui morar sozinha, saí da casa dos meus pais ou qualquer variação disso.

Muitas coisas mudaram até aqui. Desde o dia em que encontrei meu nomezinho (três + dois sobrenomes) na lista dos aprovados no vestibular, muitas coisas mudaram. E com as mudanças, muito aprendizado.

Na cidade em que eu nasci, no interior da Bahia, é muito comum fazer essa transição. Eu não fui a primeira e nem serei a última. Dos primos, eu fui a quarta a ir embora. O fluxo é mais ou menos esse:

Versão simplificada da vida de um jovem jequieense

É claro que existem exceções (por motivos de querer e poder) e, apesar de não ser um membro da high society de Jequié, eu tive sim, boas oportunidades e muito incentivo — o que tornou esse processo possível. Bem diferente de fácil.

Ir embora me ensinou uma porção de coisas e a primeira e mais valiosa delas, veio antes mesmo de partir:

1. Você precisa se perguntar: o que eu quero? Muita coisa boa acontece se você fizer isso. Primeiro: você será obrigado a definir o que quer. Segundo: será forçado a pensar em como ou o que fazer para conseguir isso. Eu queria ser designer. Tracei metas e me empenhei em cumprí-las. E é muito importante…
2. Não desanimar. As vezes isso será tudo o que você tem. Nunca subestime o valor do entusiasmo. Porque, na real…
3. É muito difícil fazer algo (realmente) bom. Você vai precisar se esforçar além do previsto. Só pra ter a oportunidade de me sentar em uma das cadeiras da UNEB eu dediquei 7 dias da minha semana, 10h (+/-) todos os dias, aos estudos. E não terminou quando vi meu nome na lista. Nem quando recebi meu diploma. E continua porque…
4. A vontade é o que te move pra frente. Quando consegui meu primeiro estágio, eu não sabia muito bem como usar o Photoshop, por exemplo. Eu disse que conhecia o básico da ferramenta e que tinha muita vontade de aprender. Convenci os entrevistadores e comecei a assistir tutoriais no Youtube t-o-d-o-s o-s d-i-a-s, até porque…
5. Dinheiro é importante também. Se você sonha em ser a senhora absoluta da sua vida (ou o senhor absoluto), vai precisar de uns trocados no final do mês. No momento em que comecei a ganhar alguma coisa pelo que eu fazia, descobri o que era independência financeira. É libertador, mas pode ser perigoso se você não souber…
6. Equilibrar seus gastos. Especialmente se você mora sozinha e precisa pagar contas de água, luz, internet e taxa de condomínio, por exemplo. Aliás, essa é uma das experiências mais transformadoras da vida adulta. Morar sozinha te ensina, sobretudo que…
7. Responsabilidade é obrigação. Não dá pra não ser. Se você não for responsável, em algum momento alguma coisa vai "dar ruim". E as vezes, não tem pai e mãe por perto pra te ajudar, o que te faz entender que…
8. Família é muito importante. É quem vai vibrar por cada pequena vitória sua e onde você encontrará o apoio necessário quando a vida insistir em parecer impossível. Ah, e quando eu digo família, inclua seus amigos também. É essencial…
9. Cultivar boas amizades. Escolha com sabedoria. Essas pessoas serão sua família e com quem você irá passar a maior parte dos seus dias. E por último, mas não a última coisa que aprendi…
10. Valorize seu tempo. É o seu bem mais precioso. Parece clichê, mas é realmente importante e você nem precisa ir embora pra levá-lo a sério. Invista o seu naquilo que realmente importa. Quais são suas prioridades?