“I don’t think anyone wants to be one of a hundred colors in a box.” — Peggy Olson

Dear Peggy, o que aconteceu com você?

Mad Men feelings e o questionável fim de Peggy Olson (Contém spoiler).

Agatha Catunda
Published in
3 min readSep 11, 2018

--

Eu não lembro exatamente quando ou porque comecei a assistir Mad Men e não tenho certeza se teria continuado a assisti-la caso a curiosidade de Matheus — meu namorado — não transformasse meu “ok, só mais um episódio” em “não acredito que vai acabar…”.

Veja bem, esta não é uma série qualquer. Pra começar, o ritmo dela é diferente de muitas outras: nada de episódios tensos, interrompidos de forma súbita e com aquele sentimento de sublime expectativa sobre o que acontecerá depois. Pelo menos não na primeira temporada. (Isso acontece mais além, não desista!)

Vencida pela curiosidade alheia e determinada, enfim, a conceder mais uma chance para uma série que viria a ser uma das mais interessantes e com uma das personagens mais “vou lutar pelo que é meu” que já vi, descobri que o ritmo lento e a falta de pressa em expor a trama e os personagens logo nos primeiros episódios é parte do que a torna admirável.

“If you don’t like what’s being said, change the conversation.” — Don Draper/Peggy Olson

Mad Men é responsável por representar/criticar/fazer pensar sobre o universo no qual ela é construída — o cotidiano de uma agência de publicidade de Nova York nos anos 60 — e todas as profundas mudanças de um período marcado pelo auge e o fim do “American way of life’’, a Guerra Fria e questões como feminismo, contracultura e direitos civis, por exemplo. Mas tudo isso seria apenas um exímio pano de fundo se a narrativa não fosse tão bem construída. E é aqui, pelo menos pra mim, que a série se destaca: a maioria das mudanças no ambiente em que os personagens estão anexados são consequências das mudanças sofridas pela sociedade na época, que funcionam como estimulantes dos conflitos que já estavam inseridos na própria narrativa.

Uma das trajetórias mais interessantes é a de Peggy Olson, a personagem esforçada que citei lá em cima. Pra mim, o seu desenvolvimento durante a trama é o suficiente para acreditar que ela é tão protagonista quanto Don Draper. E em uma série em que todos os personagens têm comportamentos questionáveis, Peggy é, no mínimo, justificável.

Peggy like a boss que, no fundo, sempre foi.

É recompensante ver a evolução da personagem, sobretudo por conta de toda dificuldade pelo fato de ser mulher em um ambiente dominado por homens e em uma época em que a objetificação feminina era algo natural. Ainda que injustamente dificultada em muitos momentos, é inspirador acompanhar a trajetória construída por Peggy para si mesma e a partir do seu trabalho.

Todo o seu esforço para fugir do status quo, entretanto, parece não fazer sentido no final da sétima e última temporada. De todos os fins, o de Peggy foi o único que me deixou decepcionada. Abrir mão de um cargo de chefia em uma produtora, ainda que nascente, foge um pouco da personificação de muitas das difíceis conquistas emancipatórias femininas da década de 1960 evidenciadas pela personagem e, principalmente, pela sua ambição.

Dear Peggy, o que aconteceu com você? Insegurança? Medo? Ou você “simplesmente” mudou de perspectiva?

Fiquei com a sensação de que você começou a aceitar as coisas como elas são…cadê aquela menina/mulher que anda de cabeça erguida e enfrenta o mundo de peito e mente aberta?

Please, don't be just one of a hundred colors in a box!

Faltou explicação ou fui eu que fiquei apenas frustrada? Honestamente, esperava outra resolução :|

--

--