Como superar o "bloqueio criativo"?

Vulnerabilidade é a chave para a criatividade.

Matheus Galvão
Pela Metade
4 min readOct 29, 2019

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Se você quer se tornar um profissional da segmento criativo, precisa vencer o seu pior inimigo. E posso dizer com uma certeza firme e apurada que esse inimigo está em você.

Estamos no século 21. Uma chuva de notificações atrai nossa atenção. Textos, livros, filmes, músicas e séries estão disponíveis aos montes. Instantaneamente.

Foco é uma qualidade rara, mas o ponto é que não creio que ele seja encontrado antes de outra coisa mais essencial.

Não acredito em bloqueio criativo. Acredito em uma resistência a iniciar projetos. E uma das principais causas pode ser o excesso de vontade de ser original.

Não há fórmula para a originalidade

Alguns dizem que originalidade é o segredo do “sucesso” (seja lá o que ele for). Ser original em um mundo onde todo mundo tem acesso a praticamente as mesmas coisas é humanamente impossível.

Estamos sempre reproduzindo o monomito.

Autores escrevem o tempo todo. Os padrões são os mesmos, as histórias se parecem. Mas aquilo que mais nos atrai é a forma como um autor consegue expressar suas próprias vulnerabilidades usando diferentes formatos.

Vulnerabilidade. Para mim é aí que encontramos a resposta para a criatividade.

Esta é a mesma razão pela qual você foge de trabalhar em sua própria criação e sempre está se distraindo com mais um filme, mais um livro, mais uma playlist.

Você tem medo. Assim como uma presa, você é vulnerável.

Stephen King é o cara. Ele tem tudo o que um bom autor precisa. Foco, disciplina e, o principal, capacidade de mostrar vulnerabilidade no que cria.

Em diversas ocasiões King confessou que morre de medo. E é sobre isso que ele escreve. É por isso que ele escreve. Medo. São raras as pessoas que gostam de expor seus medos e fragilidades. Fomos acostumados a parecer homens e mulheres fortes. “Os fracos não têm vez”, é o que dizem.

O que mais encanta as pessoas nas artes é o fato de elas trazerem temas sensíveis e apelar para a vulnerabilidade, exatamente porque é o momento em que elas podem sentir o que lhes é negado na vida.

Quem tem medo tem algo a dizer

Se eu te der uma lista de artistas que fizeram “sucesso” a maioria deles mostrou vulnerabilidade em suas formas de expressão artística. Tanto por meio deles mesmos, quanto nos personagens criados.

  • Amy Winehouse
  • Adele
  • Kurt Cobain
  • Elis Regina
  • Stephen King
  • Steven Pressfield
  • Kafka
  • George Orwell
  • J.K. Rowling

Mostrar-se vulnerável é o seu maior desafio. É o meu também. Enquanto você não entender isso, sofrerá o que muitos chamam de bloqueio criativo. Sofro o tempo todo.

O bloqueio criativo nada mais é do que o medo te travando. O medo de mostrar o que se passa na sua cabeça. É o medo do que as pessoas vão pensar ao lerem, escutarem ou assistirem o que você criou.

As pessoas vão julgar de um jeito ou de outro. Por que, então, sofrer por antecipação?

Uma palavrinha sobre disciplina

Os meus momentos mais produtivos foram os momentos de angústia. Quando eu estava mais desesperado, com medo, confuso. Esses são os instantes mais criativos.

São as ocasiões em que eu rumino os pensamentos e começo a organizá-los.

O tempo todo estamos pensando. A sensação que eu tenho é que as mentes criativas têm um fluxo de pensamento acelerado porque elas reagem rapidamente aos estímulos.

Tudo é motivo para uma viagem profunda e aleatória.

É como se tudo fosse, literalmente, uma droga que pode te levar a uma bad trip ou a uma catarse. E tudo bem, porque as duas são lugares incríveis.

Se você sentar e organizar os pensamentos — pintando, escrevendo, compondo… — as coisas vão fluir. De repente, você vai se bater com algo que ainda pode estar sem forma, mas que tem uma essência.

Eu comecei a escrever este texto há uns 30 minutos. Decidi colocar no editor de texto uns pensamentos simples e, do nada, eu estou na segunda página. Estou organizando o pensamento e, por incrível que pareça, focado em algo.

Hemmingway dizia que o primeiro rascunho é sempre uma porcaria e acredito que quando eu voltar a ler esse texto para revisá-lo vou perceber falhas, repetições, lacunas. Coisas que eu poderei corrigir reorganizando o pensamento. Retocando.

O que está na nossa cabeça é sempre intangível. O desafio do escritor (ou qualquer outro profissional — criativo ou não) é tangibilizar sua obra para quem vai consumir seu trabalho.

E isso só vai acontecer quando você expressar seus medos e vulnerabilidades, quando acreditar que o que está fazendo é valioso para alguém porque aquilo transforma ou clareia seus pensamentos.

Se acontece com você, certamente acontecerá com seu público.

O desafio é você enfrentar seu eu controlador, aquele que diz que você não precisa se expor. Você nasceu, já se expôs. As pessoas te acham bonito, outras te acham feio, lerdo, preguiçoso… Há gosto para tudo e todos.

Não se subestime. Seu medo é sue maior aliado. Quando bater o bloqueio criativo, foque em perceber o que você está com medo de mostrar e então use a criatividade para mostrá-lo assim mesmo.

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