Novos hábitos

Leone Borges
Pela Metade
Published in
5 min readNov 20, 2020

Existem autores, professores e até alguns médicos que dizem que os “hábitos” são comportamentos construídos com o tempo, o que torna essa tarefa um pouco complicada – a meu ver – já que ninguém tem muito tempo disponível atualmente. Estão todos sempre correndo de alguma coisa, para algum lugar ou as duas coisas ao mesmo tempo.

Só que, ao passo que nós nos interessamos por algo ou por alguém “damos um jeito” e arranjamos tempo, seja na reorganização de prioridades ou até mesmo quando deixamos literalmente algo de lado em vista de algo mais pertinente naquele momento. Algumas vezes isso resulta em mais esforço, outras vezes isso pode significar otimização de tarefas, mas na maioria das vezes — no meu caso — resulta em procrastinação.

Eu por exemplo, não tinha o hábito de ler. Mas, descobri recentemente que até gosto de ler, no entanto, meu gosto pra leitura (assim como pra comida e pra quase tudo) é muito específico. Muito disso se deve ao fato de eu não ter sido apresentado a leituras tão cativantes quando criança e não ter desenvolvido isso ao longo desses primeiros anos de aprendizado. Mas pra ser justo, a verdade é que eu fui criança nos anos 90, e tive a sorte de crescer rodeado de enciclopédias e livros de literatura nacional, aqueles clássicos sabe?

Machado de Assis, José de Alencar, Euclides da Cunha… O mais contemporâneo que eu tive contato naquela época foi o Jorge Amado.

E não me entendam mal, eles são excelentes escritores e sou super grato a Dona Auriele (minha mãe) por ter me dado acesso a esses livros. Principalmente eu sendo tão novo e tendo crescido em uma periferia no Brasil dos anos 90. Nesse ponto eu reconheço que fui uma exceção a regra. E sou bem grato e consciente do meu privilégio.

Mas ao mesmo tempo, sabe-se que esses livros não são os mais atrativos pra uma criança. E que RARAMENTE um pré adolescente vai se interessar sozinho em ler algo desse gênero e gostar genuinamente. Devem existir casos, com certeza. Mas não foi o meu caso.

Justamente por serem esses autores e esses livros eu nunca me interessei. Achava chato, muito complicado, e era impossível me concentrar naquelas leituras, me empolgar então era quase utópico… Mas eu tentei, sempre que pegava um livro desses pra ler eu me perdia sozinho, caia no sono, enrolava e procrastinava até não querer mais.

Aclarando:

  1. Existia um desinteresse natural;
  2. Os livros não eram direcionados pra minha idade e por isso não geravam um interesse genuíno;
  3. Não possuiam uma liguagem adequada e atrativa para aquela fase que eu tava passado;
  4. Não existia o exemplo de leitura em casa, não era comum nas minhas relações familiares que as pessoas lessem;
  5. Com o passar do tempo a imagem de que: ler além de chato, era coisa pra gente muito inteligente ou pra gente rica se instalou.

Anos mais tarde, um pouco mais velho, foram surgindo algumas coisas que me interessavam pontualmente como:

  • Harry Potter (que na época só havia lido um livro, muito mal lido e só AGORA estou lendo de fato, mesmo AMANDO a saga inteira, por conta dos filmes);
  • As crônicas de Nárnia que é um livro super antigo, mas que tem um caráter muito afetivo para mim;
  • John Green, Nicolas Sparks, que eu li alguma coisa (A culpa é das Estrelas e a Última Música) mas nunca me prenderam de verdade.

E porque toda essa contextualização? Para deixar bem claro que: sim, hábitos demandam tempo, mas podem ser contruídos em qualquer fase e/ou etapa da vida. E mesmo não lendo desde sempre, em 2019 consegui ler 13 livros e esse ano (2020) até o presente momento (novembro) já li 21 livros.

Então como surgiu o interesse pela leitura? E como manter esse novo hábito constante?

Na realidade, eu me empolgo com novidades, tecnologias e com conversas inspiradoras. Então, esse interesse foi surgindo com o tempo, com algumas conversas com meu marido, que gosta muito de ler e sempre teve esse hábito. Ele teve excelentes insights baseados no meu gosto musical, nas coisas que gosto de assistir e nos assuntos que normalmente me interesso. E o mais importante, ele me acompanha nas leituras e vamos dividindo pontos de vista.

Eu acredito muito que o exemplo em casa, contruibui para bons hábitos e que entender bem o gosto pessoal ajuda muito!

Além disso, o fato de ter me mudado para um outro país gerou em mim o desejo de criar novos hábitos e gastar meu tempo de uma forma diferente. Certamente o fator amadurecimento adiciona muitos pontos a essa soma, e nos faz querer algo novo, tipo um hobby ou algo mais pra relaxar. Outro ponto que me fez repensar meus interesses e hábitos foram as pessoas que quis manter ao meu redor, como vejo o mundo, o modo como quero poder contruibuir nas conversas, o repertório que posso trazer para o meu trabalho, as mudanças que desejo ver e realizar, enfim. As motivações, com certeza são pessoais e vão se adequando a cada estilo de vida e personalidade.

E por fim, claramente o fato de ter comprado um KINDLE e não utilizar o gadget, me fez sentir que eu havia jogado dinheiro fora. Então, tudo começou a fluir a partir desse ponto. E no fim das contas: foi ótimo! Porque ter um leitor digital mudou completamente a minha experiência com a leitura.

  1. Pela facilidade de poder ler em qualquer lugar;
  2. Porque se você quiser comprar um livro, basta fazer um clique e ele está LITERALMENTE na sua mão (não precisa esperar chegar ou sair pra comprar);
  3. Em geral os ebooks são bem mais baratos do que o livro físico;
  4. O Kindle é muito LEVE, não cansa os olhos durante a leitura, não reflete luz, enfim…

Existem milhares de vantagens e eu sinto que poderia pregar a religião do Kindle para sempre. Então minha dica é: se você não conhece o Kindle, dá uma buscada no google, no youtube… é um gadget bem bacana, e muda muito a qualidade e quantidade de livros que você consome. Atrelado a isso, eu tive e tenho uma experiência bem positiva com Amazon, que é ótimo e facilita todo o processo.

Claramente ainda tenho dificuldade com algumas leituras, com tipos específicos de texto e narrativa, mas no fim das contas: está tudo bem! Afinal, novos hábitos são construídos com o tempo.

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Leone Borges
Pela Metade

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