O que aprendi no show de Roger Waters

Thais Mello
4 min readOct 21, 2018

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No última quarta-feira (17/10), Rogers Waters (carinhosamente chamado pelos brasileiros de Rogério Águas kkk), um dos líderes de uma das bandas de rock mais icônicas dos anos 70, fez show em Salvador.

Nunca fui muito fã da banda, conhecia aqueles classicões: "Another Brick in Wall", "Whish You Where Here", "Money" e mais uma ou duas músicas. Confesso que fui mais pelo reconhecido "peso" do artista, do que por efetivamente gostar. ~além disso os shows anteriores da turnê no Brasil, já tinham sido cercadas por uma onda de questionamentos que despertaram ainda mais minha vontade de ir~.

Hoje resolvi escrever um pouco sobre algumas impressões pessoais sobre o show.

Um show para os olhos!

Puta merda, a primeira coisa que vi quando cheguei na Fonte Nova foi um super, ultra, mega blaster telão, uma qualidade de imagem INSANA, com a imagem de uma praia lindíssima, que em certo momento virou uma galáxia quase real, um prisão, aí DO NADA, brotaram colunas, reais, isso RE-AIS, por detrás do telão, com um porquinho, depois teve porcão inflável passeando pelo público, teve projeção daquele prisma de luz cláássico (capa do CD "Dark Side of The Moon", que todo mundo conhece) enfim… Antes do show já tinham me dito que as produções (especialmente visuais) visuais dos shows de Waters eram sensacionais, mas, eu não imaginava nada perto daquilo. A parte visual foi tão bem cuidada quanto a auditiva e se completavam com a sintonia de um balé russo.

Quando eu achava que não podia me surpreender mais com os efeitos visuais do show, aparecia alguma coisa mais insana!

Imagens fortes

A praia belíssima no começo me enganou… Naquele telão de resolução fodástica também passou muita coisa difícil de ver… Literalmente: tortura, pobreza, lixo, prisões, lágrimas, sangue, guerra… e subjetivamente: algumas imagens que aparentemente parecem uma viagem muito lôca do ácido (uma marca de determinada fase do Pink Floyd), eram quase tão duras quanto as críticas explícitas. A cena do desenho de um arranha-céu virando uma cobra nadando no que parecia em um mar de sangue me deixou bem chocada e fazia todo o sentido naquele contexto fazendo uma leitura mais profundo da imagem.

Não vá se estiver em um dia ruim

Eu fui iludida achando que iria apenas me divertir, ouvir um som bacana, e em duas ou três músicas seria conduzida à algum tipo de reflexão que demandasse alguma introspecção. Sabia de nada, eu inocente. o show basicamente inteiro eu fiquei em um estado de submersão nos meus pensamentos, voltando pra pegar fôlego as imagens e sons mais bonitos.

Um soco com força na boca do estômago

Essa foi a melhor expressão que conseguir achar pra definir esse show.

Angústia foi um sentimento que surgiu algumas vezes juntamente com o deslumbramento com o que estava vendo/ouvindo. Um mix bem estranho de sentimentos co-habitando o mesmo coração, no mesmo momento.

Estamos conectados, não importa em que lugar do planeta estejamos. Traduzindo: tá todo mundo fodido.

A questão da conexão virou um grande clichê, especialmente depois da Internet. Mas ali, vendo aquelas imagens e ouvindo o discurso cantado, falado e exibido visualmente por Rogério (migos!), tive uma percepção muito clara de que as questões humanitárias (ou a falta delas) são urgentes no mundo inteiro. Falta de empatia, compaixão, zelo, que desembocam em guerras, destruição, fome, prisões, torturas, entre uma infinidade de outras coisas, são comuns em maior ou menor grau no mundo inteiro, e ainda que não ocorra onde você está, ocorrendo ao seu lado terá (ou deveria) ter impacto sobre você.

As vezes na nossa bolha não conseguimos ter a dimensão real do que é isso, inclusive das semelhanças ~ que são maiores que diferenças ~na esmagadora maioria dos casos, mas, que de dentro do furacão do conflito não conseguimos enxergar.

Ser humano é ser humano em qualquer lugar do mundo.

RESISTÊNCIA

Não consegui dizer exatamente se a mensagem final da narrativa do show era positiva ou negativa. A praia belíssima apareceu novamente, dando a entender um pouco de esperança, mas não estou 100% certa disso.

Porém, a palavra de ordem sem sombras dúvida foi: RESISTÊNCIA. Em tempos de intolerância, ódio e quase nenhuma empatia, resistir é necessário. Sucumbir às vezes é uma saída muito que parece a única possível (me incluo aqui também), mas, resistir é crucial, para continuar sobrevivendo.

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Poderia falar mais um milhão de coisas sobre esse show, saí de lá com a cabeça fervendo, mas ao longo dos dias muita coisa, que não consegui resgatar, se perdeu antes que eu pudesse escrever.

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