O que falta?

Leone Borges
Pela Metade
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3 min readAug 10, 2018

Vamos fingir que a gente se conhece há um tempão, tá? Tá!

E se a gente se conhece há tanto tempo, nada mais justo que eu te contar os nós que meu coração vem dando.

Há cerca de três dias atrás, estava sentado na escada que dá na varanda da minha casa, olhando apenas as pessoas passarem. Sabe quando você fica olhando meio (…), só olhando, sem ver. Então, é isso! Ora, veja só quanta gente passa por mim, pela minha casa, pela minha vida — pensei em voz alta (se foi em voz alta eu não pensei, falei — que seja).

E sabe o que é mais engraçado nessa coisa toda? Eu nem sei quem são essas pessoas. Na verdade, eu até sei que são mães e pais de alguém, amigos de alguém, alguns vendedores, professores, padeiros, primos, primos dos primos — que não são meus primos, padrinhos e madrinhas — não meus, claramente. Tem também autoridades, subordinados. Tanta, tanta gente. Alguns, inclusive, vivem diariamente uma mentira, outros apenas sobrevivem.

E na minha vida? E eu? E você? O que faltou ser?

Nada de sentar, e observar sua vida passar.

Sem que eu ao menos me desse conta foi escurecendo no céu, e eu lá sentado, apenas observando (essa minha mania de observar as coisas). Nem sobrevivendo, nem sendo, muito menos vivendo. Apenas olhando. Estava ficando um pouco frio, entrei. Ao abrir a porta dei de cara com a mama, ela fitou os olhos em mim com tamanha profundidade que não resisti, apenas chorei. E nem sei por quê. Um toque em minhas mãos foi o suficiente para que algo em mim gritasse, como no ápice de uma crucificação, ou da maior e mais doída contração de uma mulher prestes a parir: O QUE FALTA? A mama sentou-se no corredor que dava para cozinha e começou a me dizer coisas que me pareciam coerentes.

Em suma ela disse que preciso entender quem eu sou primeiro, preciso descobrir o que quero. Era como se ela decifrasse tudo dentro e fora de mim. A cada frase. Porque a minha vida é algo sério, não tem reset, e nem dá para viver pela metade, nem apenas algumas partes. Não seria certo, não seria verdadeiro, muito menos infinito. Isso tá errado, viver assim é errado. Então, como se não bastasse tudo aquilo, dessa vez ela me questionou: filhote, o que falta?

Como que visceralmente, fui enfático: me falta muito, me falta tudo, me falta nada. Falta dinheiro, faltam boas oportunidades, faltam pessoas verdadeiras e intensas que queiram gastar tempo comigo, falta privacidade, falta verdade, falta amor, falta paixão, falta emoção, falta ação. Talvez até realização… Falta mais melodia e menos música, mais plebeus e menos príncipes. Eu não sou um príncipe, nem pretendo me tornar um. Não sou da realeza, mas sou real. Sou de verdade. Com um suspiro profundo encerrei, calei, fora e dentro.

Pessoas deveriam compartilhar mais desses momentos, compartilhe esse com alguém. Porque você importa!

Até mais.

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Leone Borges
Pela Metade

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