Pausa para um clichê: feito é melhor que perfeito.

Finja surpresa.

Felipe Bittencourt
Pela Metade
3 min readSep 2, 2018

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Imagens reais de projetos que procastinei ao longo da vida.

Em geral recorro aos meus textos por aqui para tecer algumas críticas a certos clichês e concepções não desafiadas na nossa sociedade. Hoje decidi criticar minha própria crítica, e por isso preferi explorar o lado positivo desse um clichê.

“Feito é melhor que perfeito” talvez seja o principal pilar do nosso trabalho aqui no Pela Metade. A ideia é que, fazer e entregar algo concreto é muito melhor do que entregar algo perfeito, e tentamos nos forçar a isso toda semana.

Incorporar essa máxima em nossas vidas de procastinadores é necessário e precioso; passamos tempo demais futucando nos mínimos detalhes de todos os projetos em que trabalhamos, sempre polindo e encerando as menores arestas para que a execução e entrega sejam perfeitas. Quando não estamos ocupados demais com esse trabalho minucioso de polimento somos paralisados pela mera ansiedade com a antecipação de todos os elementos que precisarão ser executados em uma determinada tarefa.

Se queremos gravar um vídeo, somos petrificados com todas as possibilidades de exploração daquele tema em um roteiro, e que também tenha uma duração adequada. Isso sem falar da atenção aos recursos técnicos (iluminação, áudio, edição). Preocupação com as keywords corretas para impulsionar o vídeo. Se estamos falando de uma apresentação sofremos com a qualidade dos slides, com o uso de imagens durante a apresentação (sem textos enormes, por favor), o direcionamento para um público alvo, o tempo de fala…

As possibilidades são infinitas, mas o resultado costuma ser invariavelmente o mesmo: nada sai do papel. Tudo continua no plano das ideias. Só plano mesmo. Execução que é bom, nada.

Tentamos até encontrar alguma saída no refúgio de um dos grandes contos do vigário para quem produz algo: a inspiração. Quem nunca “procurou inspiração” consumindo algum outro tipo de coisa para dar aquela ajudinha a deslanchar o projeto? Apelamos para o consumo de alguma outra coisa para disfarçar o fato de que nosso precioso tempo encontrou seu caminho para o ralo pois estávamos procurando a inspiração perfeita para fazermos o trabalho perfeito. Aliás, já falei sobre essa questão do consumo por aqui.

Coloque seu planejamento de lado e vem comigo.

Tenho tentado transformar um pouco disso assimilando a ideia de que é melhor entregar algo feito do que tentar atingir algo perfeito. E veja bem: não estou tentando advogar pelo trabalho mediano. Sem dúvida devemos mirar para o mais alto nível de qualidade, mas a questão é que em algum momento a tarefa precisa terminar. E o compromisso de entregar algo feito nos força a dar o braço a torcer e fazer algumas concessões, o que pode acabar nos ensinando mais ainda no final da jornada, já que precisaremos gerenciar um recurso finito: tempo.

Um dia após o outro, um passo de cada vez. Muitas vezes o deslumbramento com o tamanho e com as possibilidades de um determinado projeto podem servir como uma fonte de preocupação interminável, só porque tentamos antecipar todas as ramificações quando vamos tirar algo do papel. Tenho uma vasta experiência nesse campo (basta observar o horário de publicação desse texto, que deveria ter sido concluído muito antes), e sei como é gastar muita (mas muita mesmo) energia com planejamento, apenas para nunca executar.

A verdade é que nenhum bom plano resiste à execução no mundo real, amigo. Não importa o quanto tentemos forçar a barra pra abraçar o mundo com as pernas. Ele não tem obrigação nenhuma de ceder às nossas vaidades ou pretensões de que conseguiremos entregar o trabalho perfeito. Por isso mesmo vamos arregaçar as mangas e colocar a mão na massa!

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Felipe Bittencourt
Pela Metade

Trekker. Entusiasta do Direito e da tecnologia. Neverending work in progress.