Produzir ou consumir?

Felipe Bittencourt
Pela Metade
Published in
3 min readAug 19, 2018

Em mais de uma ocasião me peguei pensando sobre as oportunidades que perdi de produzir um conteúdo realmente bom. Por mil razões diferentes, sendo a da procrastinação, talvez, a mais frequente de todas. Felizmente hoje temos o Pela Metade para nos ajudar na motivação necessária para sentar a bunda na cadeira e produzir alguma coisa. A alternativa é auxiliar no financiamento coletivo de nosso futuro happy hour, cujo fundo é alimentado pela receita das multas dos faltosos que falharam em publicar seus textos nas datas corretas, mas divago

A segunda razão mais frequente é: ando consumindo demais. E talvez isso seja um mal que esteja afligindo outras pessoas também. Consumir demais, produzir de menos.

Mas também pudera! Está tão fácil consumir praticamente qualquer coisa: quer engatar em uma maratona sem fim das séries que você mais gosta? O autoplay do Netflix tá aí pra levar embora sua criatividade e disposição por uma tarde inteirinha, você não precisa fazer nem um pouquinho de esforço pra escolher o que assitir. Está acompanhando os vídeos de um canal que te interessou no YouTube? Não tem problema, tá aqui todo um universo de vídeos sobre o mesmo tema pra você mergulhar de cabeça. Ouvindo aquela playlist massa pra focar no trabalho ou apenas pra relaxar? No problemo. Toma aqui outras 478 playlists com a mesma vibe pra você experimentar.

Não me leve a mal, por favor. Acho absolutamente maravilhoso que tenhamos tanto material de praticamente qualquer coisa a nosso alcance com facilidade. Eu sou do tempo em que a internet era mato até onde a vista alcançava: o que fazemos hoje com um simples clique era sinônimo, naquela época, de ter a habilidade necessária para encontrar o que se desejava, baixar o tal negócio, encontrar as legendas corretas… Só de lembrar tenho calafrios.

A vontade de consumir é tão grande que o mercado disponibiliza dispositivos e serviços otimizados para saciarmos nossa voracidade por mais conteúdo =/

A facilidade de acesso não é a minha crítica, fique tranquilo. Até porque já indiquei no início: a procrastinação é a campeã no meu caso (não sei quantas vezes eu me interrompi escrevendo este curto texto para fazer Deus sabe o que). Minha reflexão está somente em como estamos sendo desleixados com essa simplicidade, e como esse descuido está levando embora nossa criatividade, nossa vontade de criar, produzir, botar no mundo pra ver o que acontece.

Como disse no início, não foi uma ou duas vezes em que tive uma ideia nascida de uma reflexão ou provocação depois de consumir um texto, livro, filme, que seja, mas não levei esse pensamento adiante. Não produzi uma linha sequer sobre aquele assunto, e o raio da ideia simplesmente se perdeu para nunca mais ser encontrada. Quantas foram as oportunidades que perdemos de acrescentar algo a discussão, ou de deixar nossa marca no mundo com nossa própria perspectiva sobre um assunto? Falando por mim, existe uma vozinha lá no fundo da mente “Ah, alguém vai conseguir falar sobre isso muito melhor do que você, deixa quieto”. Fico imaginando quantas pessoas já não passaram pela mesma situação.

E aproveitando o ensejo, também fico imaginando quantas vezes o oposto também não ocorreu (embora me cause uma certa estranheza, mas no mundo de hoje nunca se sabe): o sujeito que bota pra fora ideias descontroladamente, sem medir as consequências de seu trabalho, jamais dialogando com as discussões que estão rolando lá fora, completamente alheio a produção cultural do que quer que seja. Essa pessoa está botando a voz dela pra fora, e o que nós estamos fazendo?

Aos poucos (mais precisamente, uma vez por semana aqui no Pela Metade), tento superar essa pseudo preguiça/desmotivação/timidez/síndrome do impostor; dificilmente produzirei tanto quanto consumo, mas tudo bem também. Não é como se existissem regras para isso, mas não consigo deixar de pensar sobre tudo isso: o quanto estamos nos transformando em consumidores ávidos e completamente passivos?

O que você me diz sobre isso? Se puder, deixa seu comentário e um joinha pra eu saber que preciso produzir um pouco mais.

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Felipe Bittencourt
Pela Metade

Trekker. Entusiasta do Direito e da tecnologia. Neverending work in progress.