Qual é a sua meditação?

Reflexão sobre o que é cotidiano, simplório mas que funciona como um mantra e salva-vidas para continuar seguindo em frente

Talita Sobral
Pela Metade
3 min readOct 25, 2018

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Começo esse texto dando um alerta: se você me conhece, nada disso é novidade. Se não, prazer, meu nome é Talita, tenho 27 anos e faço terapia a pouco mais de um ano.

Desde que tive a compreensão dos meus desgraçamentos mentais, senti a necessidade de fazer terapia. Pessoas próximas a mim já faziam e eu via que tinha muito impacto na qualidade de vida delas mas na época, me faltava dinheiro e percepção da real necessidade disso.

Quando as coisas realmente começaram a degringolar (se é que você me entende), não deu mais pra dar desculpas. Fiz o que pude, me virei em mil, apertei o cinto e comecei. No início, minhas sessões eram antes do meu horário de trabalho, eu tinha que acordar muito mais cedo, abri mão de uma parcela do meu orçamento para pagar por aquele privilégio. Sim, algo que deve ser acessível pra todo mundo e infelizmente, ainda é um luxo para muitos.

Ilustração de Julia Bereciartu | instagram.com/juliabe

A medida que o processo foi avançando, alguns desgraçamentos foram elucidados e outros, que eu nem sabia que existiam, foram surgindo. Em meio a isso tudo, certa feita meu terapeuta comentou: “tente criar o hábito de meditar… o nosso processo vai se tornar muito mais curto e o seu auto-conhecimento, muito maior”. Na época, eu comecei a fazer meditação guiada, tentava meditar pelo menos uma hora por dia… aquela coisa toda, até que a empolgação passou.

Hoje, a coisa mais difícil do mundo pra mim é sentar e meditar. O fluxo de pensamentos é absurdo e eu não consigo deixá-los ir. Até a meditação guiada se tornou um fardo. Já perdi as contas de quantas vezes sentei pra meditar e levantei 5 minutos depois, frustrada e muito chateada pela minha “ineficiência”. Além de tudo, é ainda mais frustrante saber que não consigo fazer algo que tem como único propósito criar um laço de proximidade comigo mesma.

O ciclo é: você tenta meditar, você não consegue meditar, você se frustra por não conseguir, você quer meditar só pra provar que pode — infinitamente. Então, pra não me magoar ainda mais com algo que realmente não tem acontecido pra mim, qual alternativa eu poderia utilizar?

Tentei voltar a bordar: uma semana. A coluna dói, minhas vistas ficam cansadas, minhas linhas coloridas acabaram e o armarinho que vende fica muito longe da minha casa. Tentei ler todo dia antes de dormir = sono ou ir direto pro celular. Tentei manter o hábito de assistir um filme por dia = vide proposição anterior.

Ilustração de Julia Bereciartu | instagram.com/juliabe

No fim das contas, acho que encontrei a minha “meditação” alternativa. Sempre que me sinto muito triste, desanimada, frustrada, cansada, tenho a ânsia de limpar as coisas. Tudo. Limpar minhas bolsas, lavar minhas roupas, meus sapatos, minha casa. É como se limpar o externo, limpasse também o interno.

É curioso perceber que enquanto estou varrendo a casa, limpando os móveis, trocando os lençóis, separando as roupas pra lavar, minha mente se concentra naquelas atividades sem se perder de mim. É o momento onde consigo avaliar o meu dia-a-dia, o que me incomoda e porque me incomoda, além de desanuviar todos os pensamentos truncados.

A sensação que fica no final é de que tudo está mais claro, mais tranquilo, mais limpo. Minha casa e minhas coisas, uma extensão material de mim. Parece bobagem, mas faz muito efeito.

Por fim, cara pessoa que lê, pense na sua meditação: o que te faz pensar melhor, se aproximar de você mesmx quando as coisas estão muito bagunçadas?

Ilustração de Julia Bereciartu | instagram.com/juliabe

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Talita Sobral
Pela Metade

31. Gatos, leitura fragmentada e muitas horas de sono.