Sally e Sullivan — Um conto sem nome

Thais Mello
Pela Metade
Published in
4 min readSep 8, 2018

Parte II — O real encontro

Após um breve hiato estamos (eu e meu “eu lírico") de volta para mais um capítulo das aventuras de Sally e Sullivan — ainda sem nome.

Como talvez você já saiba (se não clica aqui), comecei uma série de (inicialmente) três episódios contando um pouco dessa história aleatória.

Hoje chegamos na segunda parte do conto, que vem sendo desenhado nos meus momentos mais avulsos de inspiração. É engraçado como as vezes a cabeça vaga e vem milhares de pensamentos encadeados…

[…]

PARTE II

Capa do CD do "Plutão Já Foi Planeta" (que não tem nada a ver com a história mas eu achei legal)

Era o dia seguinte a chegada do novato Sullivan ao escritório.

Quando Sally finalmente chegou no trabalho, depois de alguns minutos de metrô e caminhada, ficou surpresa ao dar de cara com ele ao abrir a porta. Estava sentado em uma das banquetas da cantina, logo atrás da grande porta de madeira que separava o hall de entrada da pequena cantina.

— Oi… - disse meio envergonhada.

— Olá! - respondeu o rapaz sorrindo e lhe olhando nos olhos.

E alguma coisa naquele olhar (que lhe tomara os pensamentos durante o trajeto no metrô) fez com que precisasse retomar o fôlego discretamente. Havia um brilho, um mistério e uma profundidade, que mais tarde Sally descobria ser difícil de sustentar sem ceder.

Trocaram duas ou três palavras sobre assuntos triviais relacionados ao dia a dia da empresa, entre alguns goles de água (diferentemente de todos os outros funcionários da empresa, ambos não tomavam café por motivos distintos. Uma primeira curiosidade que fez com que se aproximassem sem maiores pretensões naquele dia).

Sally foi para sua mesa ainda pensando em como a imagem que construíra de Sullivan a partir do seu currículo e foto no Linkedin, era completamente diferente da realidade. Minutos depois, ele se sentou no local que lhe fora destinado. — merda! pensou Sally — logo aqui de frente pra mim… Poucos metros de distância no mesmo corredor os separavam, e ao longo do dia, algumas trocas de olhares e perda concentração (de ambas as partes, aparentemente), seriam inevitáveis.

Era uma terça-feira. A semana passou sem grandes sobressaltos. Entre uma ida a cantina e outra, Sally, Sullivan e o resto dos colegas de trabalho iam integrando e se conhecendo melhor.

Até que chegou a sexta-feira… O dia em que tradicionalmente os funcionários da empresa se reuniam em algum pub da cidade para tomar cerveja, ouvir música boa e quem sabe arriscar algumas notas (dependendo do estado alcoólico…). Saíram todos juntos de metrô.

Já no "Livin'On a Prayer PUB", o escolhido da vez, depois de algumas horas de bebida e música, por acaso, Sally e Sullivan se encontraram no balcão do bar, para pegar o que deveria ser a 5ª ou 6ª longneck da noite de cada um.

A comunicação visual entre eles dessa vez foi mais profunda e demorada. Já desconcertada Sally interrompeu o flerte dizendo com a voz meio embolada: — você é bem mais jovem do que eu imaginava!

— espero que isso seja um elogio — respondeu Sullivan com um tom de sarcasmo que lhe era muito peculiar.

Esse era um comentário bobo que Sally tinha vontade de fazer desde que conhecera Sullivan um pouco melhor, mas, que a vergonha ou medo de parecer meio babaca sempre tinham freado. Um pouco de álcool depois, o papo começou a transitar entre coisas mais pessoais, corriqueiras e aleatórias. A forma como Sullivan parecia realmente interessado em ouvir o que ela tinha para falar, e não apenas rebater ou mostrar seu ponto de vista sobre qualquer tema faziam com que Sally se sentisse incrivelmente bem quando conversavam.

Uma nova semana passou e chegou a sexta-feira seguinte. Dia de "tomar umas" em um algum pub da cidade. Sally não via a hora de trombar novamente por acaso com Sullivan no balcão. Mas, essa noite pareciam um pouco desencontrados. Ela resolveu sair para tomar um pouco de ar e fazer algo que há muito tempo não fazia… fumar um cigarro. — só umas tragadas até a pressão começar a cair e eu paro, pensou.

Atravessou a rua sem prestar muita atenção e chegou até a barraquinha do senhor vesgo que vendia balas e cigarros. Em modo automático pediu o seu favorito (aquele com aroma de cravo e canela), a voz em sequencia, em uníssono à sua, lhe tirou daquele transe distraído. Era ele. Pedindo o mesmo cigarro, no mesmo momento. Só tenho um, respondeu o velho, estendendo o maço com o cigarro solitário entre os dois, para que ficasse com quem fosse mais rápido. Ambos estenderam as mãos, seus dedos se tocaram, seus olhares se cruzaram, e uma espécie de eletricidade percorreu seus corpos. Finalmente perceberam que havia algo diferente ali…

— Pode ficar — ele respondeu.

Atravessaram juntos a rua para retornar ao pub. Sentaram-se na balaustrada da varanda na entrada do lugar. Dividiram o cigarro e uma infinidade de assuntos aleatórios: de estrelas à política econômica, passando por vícios e infância. Era incrível como brotava uma satisfação sem sentido em Sullivan cada vez que Sally discordava dele sobre qualquer assunto (o que não era exatamente incomum).

Aquela altura, a eletricidade do toque dos dedos ainda percorriam seus corpos, era óbvio que queriam encostar mais do que os dedos. Queriam encostar-se por inteiro e multiplicar aquela energia com uma bomba atômica.

Sullivan se levantou da balaustrada e ficou de pé diante de Sally, que sentiu as maçãs do rosto esquentarem. Aproximou-se. Daquele lugar seus olhos, narizes e bocas estavam alinhados. Olharam-se mais de perto. Cada vez mais perto, mais perto, mais perto…

[CONTINUA NA SEMANA QUE VEM]

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