Ilustração: Matheus Corcel ❤

Sem propósito, sem recompensa is the new No pain, no gain

O que a atividade física me ensinou sobre alcançar objetivos.

Agatha Catunda
Published in
4 min readSep 19, 2018

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Eu fiz desse texto uma pequena epifania sobre uma afirmação de Talita, que você encontra neste texto aqui, porque houve um tempo em que eu me sentia exatamente como ela em relação à prática de exercícios físicos:

“Descer as escadas me faz pensar no paradoxo que é odiar fazer exercícios físicos e adorar a sensação que eles me trazem[…]”

- Talita Sobral, filósofa contemporânea.

Pois é. E olha que eu nem sempre fui assim. Ao contrário: eu adorava as aulas de educação física. Sangue, suor e batimentos cardíacos levemente acelerados — uns 115bpm, no mínimo — eram os combustíveis que alimentavam a minha alma. A juventude é mesmo intensa, senhoras e senhores.

Breve passado futebolístico, dias de glória

Fui campeã de futsal nos nostálgicos jogos da primavera e campeã nos jogos internos do meu colégio — no time das meninas que ainda não sabiam jogar muito bem, mas queriam — um ano antes. (Ousadia e alegria e um bom par de caneleiras)

Quem já participou de um negócio desses, gosta de esportes — ou da possibilidade de poder viajar sozinha, no caso do jogos da primavera, quando o único lugar para o qual você poderia ir só era a padaria da esquina — sabe do que eu estou falando. Eu ainda lembro da sensação de entrar em quadra e ouvir da arquibancada os gritos de guerra — pura histeria sem sentido — os batuques e as incitações ao time adversário, dos colegas que iam para:

  1. Torcer e viajar sem a vigilância dos pais ou
  2. Torcer, viajar sem a vigilância dos pais e aproveitar a oportunidade para fazer intercâmbio social e “trocar experiências” com os nativos dos colégios sede. Se é que vocês me entendem…

Ainda lembro da sensação de poder que a gente ficava quando ganhava uma partida e saía pro vestiário como se tivesse vencido a final de uma copa do mundo. Não importava quantas partidas mais ainda houvessem até a última. As vitórias eram inebriantes e vencer significava que estávamos mais perto do nosso objetivo final: levar o título pra casa e provar que éramos as melhores em quadra. Naquela época, nosso esforço tinha propósito e recompensa nítidos.

Poderia ser eu, mas é só a melhor jogadora do mundo.

Fim de carreira, dias de preguiça

Infelizmente encerrei minha carreira ainda no auge, quando me mudei para capital e fui para Universidade. Lá ninguém se interessava por nada que fizesse suar tanto quanto a caminhada para o famoso "sucão" do Departamento de Ciências Humanas: +/- 100 metros enfeitados com 4 lances de escada.

Vencida pela minha própria falta de vontade de correr atrás de pessoas que quisessem correr atrás de uma bola comigo, comecei a fazer parte do seleto grupo de jovens que "deixam pra lá". E as coisas ficaram ainda piores quando comecei a trabalhar… sabe como é, a gente fica sem tempo.

Para me sentir menos culpada eu comecei e parei e comecei e parei e comecei de novo, a treinar em uma academia (porque era mais fácil e mais barato e eu ficaria com o corpo da Bela Falconi. HAHAHA). Passei a odiar exercícios, apesar de gostar da sensação que eles me traziam. A verdade é que eu não tinha um objetivo bem definido e não via sentido em todas aquelas repetições. Faltava um propósito (sincero) e uma recompensa também.

Encontre um propósito, receba sua recompensa

Ainda sem a possibilidade de voltar a jogar futsal, mas determinada a me manter em movimento, acabei voltando para academia. E para não cair no mesmo looping falido de antes, estabeleci um propósito significante, pelo menos pra mim: melhorar meu condicionamento físico. Sem abdômen trincado, sem a obrigação de tomar whey protein, alternando entre musculação e atividades mais dinâmicas.

Voltei a gostar de exercícios e a sensação que eles me trazem, além de ser naturalmente boa, é responsável por diminuir minha ansiedade e aumentar a minha resistência — física e psicológica.

Só que na academia não tem torcida, não tem pódio e nem prêmio. O que me levou a perceber que a recompensa, às vezes, está atrelada ao reconhecimento que vem de fora. No futsal do colégio nós éramos ovacionadas e ganhávamos medalhas. Honra ao mérito!

Na academia, asim como em diversas outras situações da vida, o reconhecimento precisa vir, primeiro, de você mesmo. E o seu empenho— com um propósito definido — será capaz de te presentear com prêmios melhores que uma medalha de aço pintada de "ouro".

P.s.: Ainda procurando meninas que tenham interesse em: "bater o baba" no final de semana.

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