Vamos conversar sobre neutralidade política?

Um breve relato dos últimos fatos na política brasileira e como uma thread no Instagram aflora nossos sentimentos mais profundos sobre o posicionamento

Talita Sobral
Pela Metade
4 min readSep 20, 2018

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Preciso começar esse texto avisando que ele pode gerar algumas controvérsias. Diferente de muitas pessoas na internet, gostaria de deixar claro que não sou e estou longe de ser uma cientista política. Sou economista de formação e todo o contato que tive com o conteúdo político foi baseado no que aprendi na Universidade e nas minhas leituras de iniciativa própria.

Ilustração de Stephen Cheetham (instagram.com/stephencheetham_illustration)

Para os brasileiros (e principalmente aqueles que tem acesso irrestrito a internet), o período de eleições é sempre um período onde os ânimos são aflorados. Seja você de direita, esquerda, centro ou até mesmo os auto-proclamados “apolíticos”. Somos bombardeados com notícias, artigos, pesquisas do Data Folha e Ibope….. a lista segue. O período em que você enquanto cidadão deveria estar avaliando as propostas e encontrando xs candidatxs que mais se adequam a sua percepção política vira um caos de excesso de conteúdo.

Eu tenho uma opinião política proclamada e não me envergonho dela. Meu posicionamento político hoje é declarado e não tenho motivos para não defendê-lo. Conheço muitas pessoas que estão literalmente na outra ponta, no oposto do que eu acredito e essas pessoas também não tem vergonha disso. Chegamos a grande motivação desse texto: se declarar neutro é ou não é uma forma de se posicionar?

Nos últimos dias, uma hashtag se tornou trending topic no Twitter, a respeito de uma cantora pop brasileira que se esquiva, como o diabo foge da cruz, de se posicionar contra um determinado candidato. A última declaração pública dela foi que o voto é secreto e esse é o processo democrático. Curiosamente, me envolvi em uma pequena thread no Instagram hoje pela manhã, pelo mesmíssimo motivo: a pessoa estava incomodada porque achava que a “briga” de ideologias não levava ninguém a nada e quem era neutro levava o contrapeso da coisa toda.

Eu não concordo com esses posicionamentos e vou dizer o porquê. Hoje no Brasil temos 13 candidatos a Presidência da República. Um deles, em especial, faz uma campanha completamente pautada nas fake news e em bandeiras que vão de encontro a muitos conceitos de civilidade e direitos fundamentais assegurados por nossa Constituição.

O grande lance, pelo menos pra mim, é: se você apoia esse candidato, você deve se posicionar. Deixe claro, límpido como água, no que você acredita. Assim como se você não apoia esse candidato e votaria em qualquer outro, posicione-se também. Se posicionar não significa que você vai entrar em uma guerra. Significa apenas que você vai deixar claro para as pessoas que você influencia (sim, vivemos na era da informação e influenciamos alguém, mesmo que sejam seus 35 seguidores no Instagram) qual é o projeto político que você deseja e ambiciona para o seu país.

Ilustração de Stephen Cheetham (instagram.com/stephencheetham_illustration)

Quando você não se posiciona, cria um vácuo. Cria-se um espaço onde qualquer pessoa pode alegar ou colocar a opinião que quiser na sua boca. Sua voz, que é tão sua, é extirpada. Muitas pessoas podem dizer: a voz é minha e eu faço com ela o que eu quiser, inclusive não usá-la. Tudo bem. Mas eu continuo achando que uma ferramenta tão poderosa não merece esse descaso. Você pertence a esse processo. Ele pertence a você.

Como já dizia Malcom X “Don’t be in a hurry to condemn because he doesn’t do what you do or think as you think or as fast. There was a time when you didn’t know what you know today”. Se não sabemos o que você sabe, como poderemos trocar informações? Como poderemos entender a pessoa que você era e que costuma ser?

Em resumo, a minha opinião clara (como só clarividente pode ver, rs) é de que essa coisa de neutralidade política é baboseira. Todo mundo tem uma posição. Todo mundo tem uma opinião. Todo mundo merece acreditar em suas opiniões, por mais sem pé nem cabeça que elas sejam, e merece ter a oportunidade de mudar de opinião. Somos mutáveis, afinal de contas.

Ilustração de Stephen Cheetham (instagram.com/stephencheetham_illustration)

Mas a mudança, o intercâmbio, a troca… isso só acontece se você coloca seu corpo no mundo.

P.s.: Comentários são EXTREMAMENTE bem vindos! :)

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Talita Sobral
Pela Metade

31. Gatos, leitura fragmentada e muitas horas de sono.