A tecnologia da nostalgia

E quando a tecnologia ditar que ser Hipster é a nova moda, o que serão eles?

Fabio Ismerim
Tudo sobre Nada
Published in
4 min readAug 5, 2015

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Minhas brincadeiras de infância eram soltar (ou desbicar dependendo da sua região) pipa, iôiô, futebol de botão, jogar bola na rua, salada mista, gato mia, e por aí vai. Depois a tecnologia veio chegando e vieram os vídeo games. Coisa boa!

Dessas brincadeiras a que restou foi o vídeo game. A molecadinha de hoje é só tablet, celular, netflix, notebook.

Eu não sei dizer se meus filhos terão uma experiência parecida com essa que tive. Nos anos 2035 não existirá mais celular? Será tudo wearable ? Relógio pra ler emails, blusa que muda de cor de acordo com a luminosidade externa, óculos que identifica preços dos produtos só de olhar a vitrine, ou um tênis que controla sua dieta mandando relatórios de calorias ingeridas pro seu anel de casado. Não sei. A tecnologia avança a passos cada vez mais rápidos e largos que só de pensar eu tenho mais perguntas do que respostas.

Em meio a tantas facilidades que a tecnologia nos traz, a nostalgia vira algo bem comum de se ver por aí. E olha só: grupos que sentem saudade da máquina de escrever, por exemplo, acabam se conhecendo através de grupos no facebook ou fóruns (existe ainda?) da vida.

Usa-se a tecnologia para poder matar a saudade da época remota em que ela não existia.

Aquele amigo que não abre mão do livro físico e diz que o ebook é um lixo sem ao menos ter lido uma palavra nele (já fiz isso); ou aquele que diz que tem dó do pessoal dessa geração NETFLIX, pois bom mesmo era época das locadoras em que você tinha que devolver fita rebobinada, isso se a fita que você quisesse estivesse lá na prateleira.

Ahhh o Twitter….como não amá-lo?

A ideia embrionária do twitter surgiu em um Hacklaton (uma espécie de maratona, competição, de programação muito comum em empresas de tecnologia nos EUA), quando Biz Stone e Jack Dorsey (criadores do Twitter) formaram a dupla para participar do evento que durou duas semanas. Ev Williams (que se juntou a Biz e Jack para fundar o Twitter), era diretor e fundador da ODEO, uma empresa de podcasts, e organizou o hackatlon para dar ânimo aos funcionários, pois a empresa ia muito mal. Obviamente que a ferramenta do hackatlon nada tinha a ver com o twitter que conhecemos hoje, mas a ideia de trocar mensagens curtas e de forma rápida nasceu ali. A história do Biz Stone, e consequentemente do Twitter, são fantásticas. Recomendo muito a leitura do livro Um Passarinho Me Contou. Até o momento um dos melhores livro que li, e o melhor que já li este ano. Dei cinco estrelas no goodreads.

Recentemente o Twitter divulgou a lista das startups finalistas do Twitter Hacth. O Twitter Hatch é uma “competição” que a empresa iniciou no dia 13 de janeiro deste ano, onde startups do mundo todo poderiam participar, desde que sua receita fosse inferior a 10 milhões de dólares, e financiamento de até 2 milhões de dólares. Os participantes poderiam apresentar seus projetos e propostas que utilizassem o serviço do próprio twitter em suas soluções. O vencedor embolsará 25 mil dólares, além de reuniões com executivos do Twitter, propagandas para promover os negócios da sua startup, e acesso VIP para eventos do Twitter que ocorrerão este ano. Nada mal.

Uma dos projetos desta lista me chamou atenção. O GetReal é um aplicativo para você marcar de encontrar a pessoa para conversar pessoalmente. Isso mesmo, conversar. Eis a descrição do aplicativo (grifos meus):

” Em nossa era da tecnologia avançada as pessoas acabam muitas vezes atribuindo a comunicação real para troca de mensagens e internet. As redes sociais absorvem as pessoas muito rapidamente. Mas há aqueles que não concordam com esse modo de vida. GetReal oferece uma comunicação cara a cara. Basta logar e encontrar alguém próximo para conversar e passar um tempo agradável.”

Avançamos tanto que agora queremos voltar? Será que teremos em breve um startup de locadora de filmes alegando que precisamos mais de interação social “real” ?

Eu também acho um saco quando estamos lá na mesa de um bar, ou jantando na casa dos amigos e tá todo mundo com seu celular na mão. Eu já fiz isso. Mas aplicativos pra marcar um……bate papo… Sério?

Nossa balla, seu antissocial!!!

Não gente. Meu ponto de vista é que as coisas mudaram. Mudaram e MUITO. O Meetup (nem sei se ainda existe), grupos do Facebook, Tinder, e tantos outros, são ferramentas que de uma forma ou de outra, também proporcionam isso e não tenho nada contra. O que me estranha é um aplicativo cujo objetivo principal seja sentar pra conversar.

Se o GetReal será um sucesso eu não sei, afinal, só pra poder participar do Twitter Hatch já mostra que muita gente aposta nisso, mas a questão é: sentimos tanta falta assim da forma como as coisas eram antes?

Como Clay Shirky diz em seu brilhante livro que já mencionei em outro post, Lá vem eles: o poder de organizar sem as organizações, as pessoas que nasceram na década de 70 e 80, como o escriba aqui, tiveram de se desprender de inúmeras crenças, desaprender conceitos, dogmas e muitas vezes colocar de cabeça pra baixo visões e opiniões com a chegada da internet e essas novas ferramentas sociais.

Pelo visto, muita gente quer se prender a velhos costumes.

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Originally published at tudosobrenada.xyz on August 5, 2015.

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