Adapak, protagonista da série de livros O Espadachim de Carvão, de Affonso Solano. Fonte: http://ypslon.deviantart.com/art/Adapak-419404612

Literatura Fantástica no Brasil

Vamos começar do começo.

Vinicius I.S. Lara
Tudo sobre Nada
Published in
8 min readJan 4, 2017

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Prazer, Vinícius, arquiteto e (talvez) escritor (prefiro Contador de Estórias, você já vai entender o porquê…). Não sou formado em Letras, nem fiz nenhum curso de escrita ou literatura (faltou oportunidades, mas, principalmente, tempo e dinheiro). E, definitivamente, tenho dificuldades com a gramática (nunca fui um bom aluno). Pois é, daí você pergunta: “Deus do céu!, o rapaz ainda quer ser escritor?” Não… E sim… Por isso prefiro me chamar de Contador de Estórias (ridículo? Talvez…).

Dito isso… Quero expor a minha visão sobre o mundo da literatura fantástica no Brasil. Uma visão de consumidor e, espero, de escri… Ops!, de contador de estórias.

E por que literatura fantástica? Oras, e por que não? Gosto do gênero. Gosto da maneira como o fantástico e o “mágico” (conceito mutável de universo para universo) são colocados em meio a uma vida comum, normal até. A literatura fantástica tem esse efeito, de banalizar, de certa forma, o fodástico e maravilhoso:

“Vamos caçar alguns orcs?”

“Claro! E depois podemos tentar invadir a Caverna do Dragão?”

“Opa! Tranquilo, eu aprendi umas paradas novas aí, como Bola de Fogo, além de ter esse anel aqui, que me faz ficar invisível!”

Certo, então qual a graça, já que tudo é “fácil demais”, poderoso demais, fantasioso demais? Essas obras costumam pesar mais em outros aspectos para a solução de conflitos. Não tanto na força, na porradaria, ou nas magias malucas. E sim no senso de moral, na índole das personagens, nas consequências de suas escolhas. Nos sacrifícios… Sim, a tão famosa (e talvez já cansada) Jornada do Herói.

Senhor dos Anéis é excelente para ilustrar isso. Quem, em sã consciência, invadiria o Covil do Senhor do Escuro — tipo entrar no próprio inferno, ludibriar Lúcifer, e ainda tentar voltar vivo?

Ou Harry Potter, um jovem “predestinado” a enfrentar, simplesmente, o maior bruxo dos últimos tempos! Então ele tem que confiar nos amiguinhos e num Senhor Bruxo, Dumbledore, que lhe ensina magia e todos os valores possíveis para que Potter consiga enfrentar e encarar o Voldemort (confesso que só li o volume 1 e assisti aos 4 primeiros filmes… Minha cunhada que me informou o básico do básico para eu escrever apenas isso… E pode ser que tenha escrito alguma besteira)

Enfim… São apenas alguns exemplos de como a literatura fantástica aborda de maneira brilhante (muitas vezes, melhor do que outros gêneros) assuntos como virtudes, moralidade, dignidade, honra, amizade, fidelidade (e também seus opostos, claro).

Mas… E no Brasil?

No Brasil, a função, é praticamente a mesma, mas há, obviamente, o acréscimo de elementos da cultura brasileira (não me diga!?).

Dei uma lida em alguns artigos pelas internets, e muitos autores brasileiros das antigas (clássicos) já flertavam com o fantástico. Monteiro Lobato, com o seu Sítio do Pica-pau Amarelo, é um exemplo explícito. Mas até mesmo outras obras, como Macunaíma, de Mário de Andrade (li na época da escola e entendi pouquíssima coisa, só velho que fui compreender melhor as críticas culturais e o fato dele ser “herói do povo brasileiro”, ai que preguiça). Há muitas outras obras com pequenos elementos fantasiosos, mas não vou me arriscar à exemplos (não estudei Letras, lembram?).

Nossa produção está se diversificando, deixando de se focar nos livros acadêmicos e de auto-ajuda (nada contra), e rumando para obras de ficção. Romances com linguagem mais atual. O gênero que está ganhando cada vez mais força (com Editoras criando selos específicos para ele) é o tal da Fantasia. A literatura fantástica.

Antes, quem não dominava inglês (eu ainda não domino) e já tinha lido Senhor dos Anéis ou Harry Potter, não tinha mais nada para ler desse gênero. Até chegar a saga de Percy Jackson & Os Olimpianos (gostei muito dessa saga); e a trilogia Fronteiras do Universo (adorei o livro 1, A Bússola de Ouro, mas os outros dois são MUITO ruins!!!). Não podemos esquecer da trilogia de Eragorn (até virou um filme). E a chegada de As Crônicas de Gelo e Fogo (muitos conhecem como a série Guerra dos Tronos) e a Roda do Tempo (uma saga absurda de grande).

E aqui você percebeu outra coisa. Sim, sou fã de fantasia medieval. Mas, como menção honrosa, vou citar: Eu, Robô; Eu Sou a Lenda e Guerra Mundial Z (é o que consigo lembrar no momento, e estão na minha lista de Leituras Urgentes).

Mas agora… Ah, agora… Meus amigos e amigas… Não precisamos mais depender dos gringos para consumir uma boa literatura fantástica. Para provar isso, vou listar os autores que eu li e recomendo do nosso Brasil com S:

André Vianco: toda a saga de vampiros do cara é foda. Confesso que só li Os Sete e O Sétimo (sequência), e achei maravilhoso!!! Ele elaborou todo um conceito para os vampiros estarem no Brasil, que gerou spin-off em graphic novel (ou “novela gráfica”; eu prefiro o termo quadrinhos mesmo…). Mas dizem por aí que o cara está melhorando cada vez mais, elaborando outras “mitologias” para o surgimento dos vampiros e melhorando no clima tenso, escuro, pesado e gótico que essas criaturas exigem (queimem Crepúsculo, POR FAVOR!!!).

Eduardo Spohr: o que dizer? Para quem gostava (e ainda gosta) de Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z; para quem sempre curtiu mitologias (grega, nórdica, egípcia, asteca, etc…); e pra quem sempre gostou de muita ação e porradaria da melhor qualidade. Esse é o cara. Li A Batalha do Apocalipse e o volume 1 da trilogia Filhos do Éden (Herdeiros de Atlântida. Preciso terminar a trilogia!). Narrativa envolvente e, o mais impressionante, foi a concepção da mitologia e o conceito de divindades/entidades, das castas dos anjos, dos arcanjos… Tudo com muito cuidado para não ofender religião alguma. O cara é FODA!

Affonso Solano: um cidadão da internet, um nerd assumido que entende muito de HQs, games, séries e cultura pop/geek/nerd (sei lá qual o termo correto…). Criador do mundo de Kurgala e dos Quatro que São Um. Sua obra, a saga O Espadachim de Carvão, é riquíssima em detalhes, com inúmeras raças, itens e costumes específicos. Em minha humilde opinião, peca um pouco na narrativa, apostando muito na criatividade e capacidade imaginativa do leitor, pois Solano não detalha muito as várias raças existentes (são umas 9, eu acho). O mapa do mundo aparece no segundo livro, e ajuda bastante na compreensão do universo, mas poderia estar no primeiro né…

Rafael Draccon: junto com Vianco e Spohr, Draccon compõe o “trio parada dura” de nossa literatura fantástica contemporânea. A única obra que li dele foi a trilogia Dragões de Éter, onde ele reinterpreta os “contos de fadas”, elaborando novos personagens e subvertendo as personalidades de alguns conhecidos das fábulas: como os irmãos Maria e João e um dos Sete Anões, o Zangado. O primeiro volume achei lindo demais! Redondinho, com excelente ritmo e personagens para lá de marcantes. O segundo é bastante válido, pois expande o universo criado/adaptado por ele. Já o terceiro… Vamos pro próximo!

Leonel Caldela: mestre em universos fantásticos medievais com uma pegada mais adulta e muita (mas muita mesmo!) violência. O cara é famoso por maltratar suas personagens, que aprendem a amadurecer na marra. Caldela possui grande maestria em dar ritmo às estórias e, ao mesmo tempo, ambientar os universos fantásticos. As cenas de ação são seu ponto forte também. O que eu li dele foram os dois primeiros volumes de Ruff Ghanor (um universo de fantasia com protagonista a lá Goku e com uma trama muito foda!!!). Também li o primeiro (e, até então, o único) volume da saga Ozob (Protocolo Molotov). Aqui, Deive Pazos tem função ESPETACULAR em ajudar Caldela no desenvolvimento deste personagem complexo, carismático, anti-herói, e engraçaralho para xuxu!!! (não à toa, Deive é co-autor da obra).

Há muitos outros autores famosos, com habilidades ímpares. Mas como não tenho tempo nem dinheiro (ainda, ainda…), não os li, e não posso opinar. Vou apenas mencionar mais alguns para vocês correrem atrás.

Carolina Munhóz: experiente em universos onde ela mescla o nosso mundo com outro mundo fantástico. Normalmente suas narrativas possuem dramas e conflitos românticos.

Fábio Barreto: escritor e roteirista nos estates. O cara ganhou prêmios com seus livros e, além de seus vários trabalhos, também coordena oficinas e cursos online de escrita (tanto para livros quanto para roteiros de programas).

Certo, e o que você quer com isso?

Comemorar! Pois as editoras, os autores e os leitores estão amadurecendo! O preconceito, dos próprios brasileiros, com a literatura fantástica brasileira está caindo por terra (como se não fôssemos capaz de escrever uma boa estória de fantasia…).

E, graças aos nomes citados aqui (ênfase ao André Vianco, um dos pioneiros) eu fui tomando coragem. Jogava RPG quando jovem e sempre adorei games com um bom enredo. Até que comecei a rascunhar algumas ideias (originalmente com a intenção de mestrar campanhas de RPG).

Então uma luz desceu do céu, cortando nuvens pesadas e pairando sobre mim: a certeza de que queria ser escritor! Digo, contador de estórias! Depois de quase dez anos amadurecendo a ideia (e tomando coragem), finalizei, na última semana de 2016, meu primeiro trabalho! Já estou andando com o registro e talz, de modo que logo logo divulgarei alguns trechos do livro.

Mas adivinhem? Sim, uma fantasia medieval! (Com uns elementos inspirados na cultura da América Pré-Colombiana). Como o texto já está ofensivo de tão grande, criei uma publicação onde postarei alguns textos sobre ele, O Mundo de Aran. Aproveite e siga lá:

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Vinicius I.S. Lara
Tudo sobre Nada

Escritor Independente. Narrador de RPG nas horas vagas. Tentando sonhar menos e realizar mais...