O Gato na caixa

Todas as possibilidades existem, você só não sabe.

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6 min readSep 30, 2016

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Já imaginou poder encontrar com seu outro eu em outra dimensão para saber o que aconteceu quando você decidiu não demitir seu funcionário da empresa? E se caso você tivesse dito NÃO quando seu noivo te pediu em casamento, quais eventos poderiam desencadear à partir disso? Onde você estaria?

Uma das bases da Teoria do Caos, o efeito borboleta, afirma que um evento, qualquer que seja a sua dimensão, pode gerar conseqüências significativas em outro evento não correlacionado.

É dito que algo tão pequeno como o bater das asas de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo — Teoria do Caos

Em um mundo cada vez mais globalizado e interconectado, isso tem cada vez mais sentido. Pelo simples fato de tudo (ou quase tudo) possuir alguma relação ou conexão, os eventos, principalmente de grandes proporções, acabam sendo sistêmicos, gerando um efeito cascata.

Este é um dos motivos — obviamente que existem muito mais fatores aqui — pelo qual fazer previsões é algo complexo embora nossa espécie faça previsões diariamente até nas pequenas decisões rotineiras. Nassim Nicholas Taleb explica no seu brilhante livro A Lógica do Cisne Negro, que tendemos a enxergar padrões em tudo e damos pouco valor para as incertezas. Falar que era muito provável que um evento ocorresse depois deste já ter acontecido é algo fácil, além de não ter sentido, mas que fazemos com frequência e que acaba influenciando em nossas análises de previsões futuras. Após a ocorrência de um Cisne Negro (evento imprevisível por natureza) inventamos uma maneira de torná-lo menos aleatório e mais explicável.

Damos pouca importância ao que não ocorre, afinal, para que se preocupar com o que não aconteceu? Poucos dão valor ao histórico neste aspecto. Poucos costumam visitar os erros cometidos, principalmente, depois de um acerto. Lidar com nossos erros é chato, é ruim, pois mostra o quão incapazes somos e o quão menos sábio nós somos do que realmente achamos.

Nós humanos, somos vítimas de uma assimetria na percepção de eventos aleatórios. Atribuímos nossos sucessos a nossas habilidades e nossos fracassos a eventos fora de nosso controle, ou seja, à aleatoriedade. — Nassim Nicholas Taleb

No entanto, existe um lugar onde o que não acontece tem importância, pois neste lugar não existe o evento que não ocorre. Se é possível ele ocorrer, então ele simplesmente acontece. Sim é complicado mesmo, talvez por isso este mundo seja estudado por poucos e habitado pelo invisível aos olhos humanos.

A tal da Física Quântica…

Ok. Calma. Antes que você vá embora assustado com estas duas palavrinhas capaz de afugentar os monstros mais colossais, peço que fique mais um pouco. Como mero mortal, não tenho capacidade intelectual de mergulhar fundo neste tema. O intuito aqui é ficar na superfície e satisfazer algumas curiosidades e mostrar como nosso mundo é complexo e ao mesmo tempo fascinante. E que tem vários malucos (?) carregando muitos prêmios Nobel estudando isso.

A Física Quântica é o campo da ciência que estuda o comportamento das partículas atômicas e sub-atômicas. Stephen Galfard no seu brilhante livro O Universo em Suas Mãos, chama este mundo de “o mundo do muito pequeno”. Dentre vários estudos, postulados, simulações e ideias, A Física Quântica nos mostra que uma partícula para chegar do ponto A ao ponto B ela não percorre um caminho possível, mas sim TODOS os caminhos POSSÍVEIS. Você só não está vendo.

(…) Os campos quânticos aos quais todas as partículas pertencem são a soma de todas as possibilidades, e, de algum modo, uma possibilidade é escolhida entre todas as existentes simplesmente pelo próprio fato de observá-la. (…) Da mesma forma que, do ponto de vista de outra pessoa, todos os pensamentos que pode ter ou não, em algum momento de sua vida, a respeito de um determinado assunto, subitamente ficam reduzidos a um único quando alguém ouve você dizê-lo em voz alta”

E é aí que entra o brilhantismo do Schrödinger e seu experimento com o felino.

Schrödinger e o gato na caixa.

Em 1935, dois anos após ter ganho o Prêmio Nobel pelos seus descobrimentos na Física Quântica, Erwin Schrödinger quis trazer para o nosso mundo real o comportamento e as observações feitas no mundo do “muito pequeno”, uma vez que nós e tudo ao nosso redor são feitos de matéria, átomos, quarks, partículas e todo os elementos deste pequeno mundo. De alguma forma o nosso mundo deveria obedecer algumas leis quânticas.

E e é neste ponto que mentes brilhantes destoam das comuns.

Para tanto, Schrödinger bolou um experimento mental, cujo cientista nenhum parou de se perguntar se o tal gato estava vivo ou morto.

Ele propôs um cenário que envolvia um gato; uma caixa que pudesse ser totalmente lacrada de modo que ninguém saiba nada a respeito do seu interior a partir do lado de fora; uma substância radioativa com 50% de chances de emitir alguma radiação durante o experimento; um detector de radiação; um martelo e uma ampola contendo algum veneno muito letal.

mais ou menos assim

Em seguida você liga tudo de modo que se o detector notar alguma radiação por parte da substância radioativa, o martelo quebrará a ampola e consequentemente o gato morrerá.

Você espera.

E então?

Efeitos quânticos em progresso. Resultado macroscópico, como desejado.

Você observa.

Com chances de 50% de emissão de radiação, sem abrir a caixa você não consegue saber se houve a tal radiação, e consequentemente se o martelo quebrou ou não a ampola e se o gato está morto ou vivo.

No mundo quântico, o que pode acontecer acontece.

A radiação pode acontecer com idêntica probabilidade, então os dois acontecem.

Os eventos de decaimento e não decaimento (processo atômico que causa a radiação) estando diretamente ligados ao veneno, o gato, desde que a caixa não esteja aberta, não deve estar nem vivo, nem morto, mas ambos.

Isso quer dizer que existe um momento que você não sabe o que está acontecendo, portanto, tudo pode estar acontecendo.

Obviamente que minha ideia aqui não era deixar você menos confuso a este respeito, mas exatamente o oposto.

Acho que posso afirmar com segurança que ninguém entende a mecânica quântica — Richard Feynman, Nobel de Física em 1965

Agora se o gato está vivo e também está morto, para onde foi o gato morto quando você abriu a caixa e o felino pulou de lá de dentro?

Isso eu trago no próximo post ;)

Por enquanto, durma com esse barulho.

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