O porco-espinho e a raposa

Fabio Ismerim
Tudo sobre Nada
Published in
4 min readNov 7, 2016

--

Neste fim de semana fui confrontado com uma imagem que minha esposa me mostrou através do seu celular. Era uma imagem de um burro com os dizeres:

às vezes me finjo de burro para não ser incomodado pelos que fingem ser inteligentes.

Embora tenha colocado em formato de citação, não faço ideia se esta frase foi citada por alguém de renome. E em uma rápida busca no google vi que a frase é creditada à várias pessoas — ao famoso autor desconhecido também, é claro, bem como possui outras tantas vertentes.

Já contando com meu endosso, ela se surpreendeu quando eu disse:

-É…mais ou menos.”

-Mas porque?

Invoquei uma outra frase, cuja autoria também desconheço, que escutei há alguns anos e me lembro até hoje da pessoa que me disse:

o sábio se cala diante dos ignorantes”

Reconheço, porém, que a prática desta última em demasia é algo lá não muito saudável. Guerras poderiam ser evitadas se naquele momento tivesse alguém que confrontasse uma ideia/opinião, e o binarismo que vivemos hoje se deva, talvez, a ausência de um diálogo saudável.

O melhor caminho é o do meio.

A raposa e o porco espinho

Philip Tetlock, renomado professor de psicologia e de ciência política (tomei conhecimento dele através de três excelentes livros: A Lógica do Cisne Negro de Nassim Nicholas Taleb, Sinal e Ruído do Nate Silver, e Rápido e Devagar de Daniel Kahneman) cunhou esse termo para classificar dois grupos de especialistas em previsões políticas.

Tetlock realizou sondagens com especialistas de diversas áreas, incluindo política, pedindo que fizessem previsões sobre a Guerra do Golfo, bolha imobiliária japonesa, uma possível separação do Quebec em relação ao Canadá e de quase todos os grandes acontecimentos dos anos 1980 e 1990. Suas pesquisas foram publicadas em 2005 no livro Expert Political Judgment com uma conclusão interessante, descrita dessa forma pelo Nate Silver (grifos meus):

A conclusão de Tetlock foi devastadora. Os especialistas ouvidos em sua sondagem — a despeito de seus cargos, experiência ou campo de atuação — saíram-se só um pouco melhor do que prognósticos guiados pelo mero acaso e, ao preverem acontecimentos políticos, foram piores até mesmo do que métodos estatísticos rudimentares. Mostravam autoconfiança muito exagerada e eram péssimos no cálculo de probabilidades: cerca de 15% dos acontecimentos que disseram “não ter a menor chance” de ocorrer tornaram-se realidade, enquanto jamais aconteceram cerca de 25% dos eventos de cuja ocorrência estavam “absolutamente certos”.

Entre os que tinham se saído pior estavam aqueles cujas previsões apareciam com maior frequência na mídia. Quanto mais entrevistas davam, piores eram suas previsões.

Mas ainda que o panorama geral tenha sido ruim, alguns se mostraram significativamente melhores que outros. Tetlock se interessou por este grupo e se pôs a entender a forma como eles pensavam sobre o mundo e seus estilos cognitivos. O resultado foi a criação da classificação em raposa e porco-espinho. A referência vem de um ensaio do filósofo Isaiah Berlin sobre o Tolstói, chamado O porco-espinho e a raposa.

Porcos espinhos são personalidades que acreditam em grandes ideias, são mais organizadas, impacientes, rígidas ( o que a psicologia chama de personalidade Tipo A). Acreditam que o mundo é regido por uma única lei e e que sustentam praticamente todas as interações da sociedade. Um pensamento grandioso e único. Porcos espinhos “sabem uma grande verdade” e têm uma teoria sobre o mundo, escreveu Kahneman.

Já as raposas seguem o lado oposto. São criaturas que preferem os fragmentos, que acreditam numa infinidade de pequenas ideias. São mais tolerantes às nuances, à incerteza, às opiniões discordantes. Se os porcos-espinhos são caçadores e estão sempre em busca de uma grande presa, as raposas são animais coletores, conclui Nate Silver.

Ser raposa não é algo fácil. Daniel Kahneman explica isso muito bem. Temos um método de pensar que evita o esforço, buscando padrões e justificativas à todo instante.

No entanto, é possível treinar para ser parecido com uma raposa, e muitas das vezes consiste em ouvir, observar, analisar, pesquisar e dialogar.

Para outras, só nos resta o silêncio e esperar a tormenta acabar.

Se você gostou clica no ❤ logo abaixo e compartilhe o texto nas suas redes sociais :)

NÃO DEIXE DE SEGUIR O TSN AQUI NO MEDIUM clicando no botão “FOLLOW” logo mais abaixo!

--

--