Fonte: Google

Por que não se lê no Brasil?

Vinicius I.S. Lara
Tudo sobre Nada
8 min readJan 10, 2017

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Comecei a ler com 15 anos. Calma, respira e entenda. Quando digo que “comecei a ler”, refiro-me ao ato de ler por prazer. Foi com os meus 15 anos que a leitura se tornou uma das minhas opções de lazer.

E foi justamente com O Senhor dos Anéis — o que é um completo absurdo né. Eu sou fã dessa obra (me acostumei ler a trilogia uma vez por ano, sério), mas com os meus 15 anos, sendo o primeiro livro de fato que estava curtindo ler… Era um completo absurdo. Quem leu sabe o quão chato e difícil é encarar O Senhor dos Anéis (Aragorn só aparece na página 200 e lá vai pedrada).

Eu “lendo” os livros da escola… Fonte: Google

Só lia (quando lia) os livros da escola, que são obrigatórios e pra lá de chatos e irritantes. Hoje, eu leio com tranquilidade. Li O Guarani e Iracema, depois de velho, mas quando se é adolescente… É um horror! A escrita arcaica, os termos e cenários e culturas muito distantes da realidade do jovem. Se eu me sentia assim na época (estou para fazer 30 anos…) imagina o jovem de hoje! Ler, inteiro mesmo, li apenas dois livros: Dom Casmurro (e achei legalzin na época) e Macunaíma (odiei, na época não entendi nada).

Então como foi que eu li O Senhor dos Anéis? Vi um comercial do primeiro filme na TV, que estava para estrear nos cinemas.

Eu: “Nossa, que irado! Monstros e luta!”

Meu irmão: “É O Senhor dos Anéis, né? Então, o Gabriel falou que isso aí é um livro, bem antigo. Ele tem…”

Eu: “ISSO É UM LIVRO????”

Reparem que fiquei incrédulo ao descobrir que um livro poderia ser divertido! Lembro que naquela época estourou com toda a força Harry Potter. Li o primeiro volume do bruxinho, na escola. Uma professora de Literatura tentou inovar (todos os créditos a essa professora, que infelizmente, não lembro o nome!!!), colocando os livros obrigatórios para lermos e intercalando com livros atuais. Harry Potter e a Pedra Filosofal foi o primeiro livro “diferentão” a ser escolhido. Li esse livro, mas não gostei. Não sei porque, eu tinha uns 13 anos… Deveria ter gostado… E hoje acredito que é pelo meu gosto ser mais para fantasia medieval.

Enfim… Foi assim que eu me tornei um leitor, com o velho camarada Tolkien. Meus pais, na época, liam muito. Minha memória diz que eram jornais e livros de banca (eu sei, eu sei, mas era barato, o que o dinheiro podia comprar… e é melhor que nada, né?). Liam por lazer e não por necessidade — minha mãe lê muito até hoje, desde auto-ajuda (pois é) à filosofia (ela está curtindo muito livros de filosofia). E só fui entender como isso era possível depois que li meu primeiro livro. Como eu me empolguei (e muito!) com O Senhor dos Anéis, minha mãe comprou a versão de aniversário (com capa escura e páginas com bordas douradas).

Tenho essa versão até hoje, mas está todo detonado… Fui forçado a comprar a trilogia separada (é mais fácil de ler né…). Fonte: Google

Meu irmão, 3 anos mais velho, já estava se esforçando para ser um leitor. Acho que ele percebeu primeiro que eu, que nossos pais liam porque queriam, e permitiu ouvir alguns amigos. Minha mãe ficou radiante. Assim que terminei O Senhor dos Anéis, peguei os livros do meu irmão emprestado: ele começou bem, com Stephen King (O Cemitério e O Iluminado) e com John Grisham (A Câmara de Gás).

Começamos bem, né não? Fonte: Google

Daí foi só leituras… No início da faculdade, cheguei a ler quase 20 livros por ano — quase… e contando as releituras (Senhor dos Anéis é minha bíblia!!!).

Parabéns, que historinha bacana, mas e quico?

E daí que hoje me pergunto:

“Por que as pessoas olham torto para mim quando digo que adoro comprar livros?”

“Por que as pessoas olham muito torto para mim quando digo que quero ser escritor?”

Simples: o brasileiro não possui o hábito de ler.

Isso é sério.

Isso é preocupante.

Dei um livro, O Pequeno Príncipe (um clássico lindo de morrer!), para um primo, de aniversário de uns… 11 anos, eu acho. Ele nem abriu. Tenho certeza de que quando tirou o embrulho e viu o livro, deve ter ficado revoltado.

Um CLÁSSICO NECESSÁRIO! Constrói o carácter de uma criança! (e adultos). Fonte: Google

“Quem dá um livro de presente!!!”, deve ter sido o pensamento dele.

Pois é… triste realidade.

Uma pesquisa divulgada em 2015, pelo Jornal O Globo, mostra nossa triste realidade: apenas 30% dos entrevistados leram algum livro em 2014.

Chocante, não?

Notem que a entrevista nem foca na quantidade de livros, e nem nos motivos que levaram as pessoas a lerem (arrisco dizer que a maioria leu por conta da escola ou da faculdade).

Mas o absurdo é que 70% dos brasileiros não leram NADA em 2014. Isso não inclui: placas e letreiros; preços de produtos nas gôndolas de supermercados; extratos bancários; contas; filmes legendados; receitas de culinária de família…

Não, não! Isso significa a pessoa pegar um livro (sim, a pesquisa se refere a livros), seja digital ou físico, e lê-lo, pelo menos 1 livro, ou parte dele… Simples assim…

Certo, vamos para algo mais atual. Esta pesquisa, Retratos da Leitura no Brasil, divulgada no O Estadão, mostra que em 2015, entre muitas informações, está a de que 74% dos brasileiros não compraram nenhum livro nos últimos 3 meses… Pois é… Há outra informação que é tipo filme de terror: 30% nunca compraram um livro. Nunca. Nunquinha. Na vida. Nada.

Daqueles que possuem o hábito de ler, a pesquisa diz que 67% não tiveram qualquer incentivo, de parte alguma, de ninguém do seu círculo social. Esses são guerreiros!!!

Mas esta pesquisa dá uma lufada de ar fresco, ao mostrar que dos jovens de 11 a 13 anos, 42% leem porque gostam. E a tendência é só melhorar!!! (Assim espero).

Pu&@ Que O Pa$%! Por que não lemos?

Ah… Esta é A Pergunta. Com várias respostas. Várias mesmo. Até desanima… A lista é grande, indo até mesmo à nossa história religiosa e de colonização. Éramos uma colônia com a única tarefa de fornecer riquezas materiais: ouro, madeira, pedras preciosas, peles de animais exóticos, mais ouro e mais madeira…

Apenas com a vinda da corte real portuguesa, que fugia da loucura sanguinária do francês Napoleão, que houve a primeira máquina de impressão, no começo de 1800. E a máquina era apenas para assuntos oficiais, de governo… Mas era alguma coisa…

Daí você nos compara com os EUA, que também é um país recente, novinho, mas super desenvolvido. Pois é… Há quem aumente a lista dos motivos para não lermos com a religião. Hoje pode ser que não, mas o Brasil sempre foi majoritariamente católico e, historicamente, a Igreja Católica não incentivava seus fiéis à leitura. Até as missas eram feitas em latim. Lutero, na Alemanha, percebeu isso e fundou sua vertente religiosa, traduzindo a bíblia para o alemão e incentivando seus seguidores a traduzirem para suas línguas nativas. Os protestantes adquiriram, mais cedo, o hábito da leitura (mesmo que limitada apenas a leitura religiosa, mas é um ponto…). E os EUA, apesar de serem muito cristãos, não bebem tanto dos dogmas católicos…

Beleza, mas é covardia jogar tudo nas costas do nosso passado, da nossa história… Na minha opinião (se fosse uma dissertação em vestibular reprovaria fácil fácil, né? O que mais coloco é “na minha opinião…”). Enfim, sério agora. Eu vejo dois fatores importantes atualmente: o despreparo do sistema educacional (e isso abrange muita coisa) e a total falta de interesse e de incentivo das famílias (leia-se “pais”).

Meus pais liam, e tentavam incentivar a mim e ao meu irmão, mas tínhamos a marca da ferida cravada em nossas mentes dos livros da escola. Não entendíamos… Pura e simplesmente. Se não fosse aquela minha professora, os amigos do meu irmão, e até mesmo o cinema (olha lá, que maravilha, não odeiem tanto as adaptações!), jamais leríamos… Ou melhor, demoraríamos muito mais para começarmos a ler.

Na minha turma da faculdade, tive uma colega que conheceu o poder dos livros lá, na faculdade (um paradoxo, mas nosso país é cheio deles…). Ela se encantou tanto com os livros técnicos quanto com os de lazer (emprestei um do Dan Brown que eu tinha) e achei isso fantástico. Nunca é tarde!

Na época fiquei fã desse cara. Mas percebi que seus livros são iguais, aí cansou… Fonte: Google

A família é a base, de tudo. Eu acredito nisso. Mas a sociedade tem que dar um empurrãozinho, vai… Nossas escolas possuem bibliotecas maravilhosas, até mesmo as escolas públicas, mas muitas estão vazias (de pessoas, e até mesmo de livros). Acontece até mesmo de volumes novinhos ficarem embalados por meses… com o pretexto dos diretores e professores de que “se os livros ficarem disponíveis serão denegridos pelos alunos, que não sabem usá-los.”

UM!

COMPLETO!

ABSURDO!

Temos o preço salgado dos livros, também. Outro paradoxo. Pois quanto mais volumes as Editoras mandam para as gráficas, mais barato fica. No entanto, não há, ainda, demanda para tantos volumes serem impressos. E um dos motivos para não haver essa demanda, é o preço final do livro… (um ciclo vicioso).

Certo, legal, boa crítica (ou não tão boa), mas o que você propõe?

Não sei… Juro! O que eu faço é induzir o máximo possível as pessoas a lerem. Tentei com um primo (aquele do Pequeno Príncipe), e não deu certo. Tenho outro primo, jovem, que está se arriscando agora, e eu estou pondo toda a pilha nele.

Nossa família, num modo geral, não tem hábito de leitura (com exceção de alguns primos aqui, um tio ali, bem disperso mesmo), mas boto fé que esse meu primo vai gostar de ler.

Incentivo meus sobrinhos (neste caso, meu incentivo é “desnecessário”, eles têm incentivo de todos os lados, e isso é maravilhoso!). E agora estou produzindo também. Finalizei um trabalho, e estou procurando meios de divulgar e (principalmente) publicar. Num futuro, quero viver dos livros, mas para isso a cultura brasileira precisa acordar! Nós somos preguiçosos (ai que preguiça né Macunaíma?) e ler requer muito.

Requer tempo.

Requer investimento (dinheiro) constante.

Requer foco, atenção, concentração.

Requer paciência (quanto mais se lê, mais se entende do que está lendo, por isso acho muito válido as releituras!).

É mais “fácil” ligar a TV, ligar o som, jogar um baralho ou um vídeo game (gosto de tudo isso também!).

Mas a leitura é perfeita para nos estimular o senso crítico, para nos apresentar e nos ensinar valores éticos e morais. Para nos permitir viver outras vidas que não as nossas…

Afinal, os maiores fundamentos sociais e religiosos da humanidade foram (re)descobertos pelo homem contemporâneo através da leitura…

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Vinicius I.S. Lara
Tudo sobre Nada

Escritor Independente. Narrador de RPG nas horas vagas. Tentando sonhar menos e realizar mais...