Táxi, Uber e o jornalismo

Fabio Ismerim
Tudo sobre Nada
Published in
5 min readJul 2, 2015

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É de extrema importância e de sua inteira responsabilidade saber o que está acontecendo, e o que pode vir acontecer, no mercado em que você atua, seja você dono do negócio ou empregado.

Começar o texto dizendo que vivemos a era da tecnologia, ou a era da internet, novas profissões que não existiam há 20 anos (algumas nem há 5) é óbvio demais. Mas creio que dizer o óbvio algumas vezes se faz necessário.

O que não falta por aí são textos sobre o momento (ou crise) que o jornalismo atual se encontra. Editoras fechando as portas, demissões em massa. Falei um pouco disso nesse texto aqui. De uma maneira geral, eu bato no ponto em que tais mudanças não são Cisnes Negros como alguns profissionais do setor gostam de pintar por aí. São mudanças que vão sendo anunciadas quase que diariamente e durante um bom tempo.

O autor Clay Shirky em seu livro Lá vem todo mundo: o poder de organizar sem organizações, relata isso muito bem logo nos primeiros capítulos ao narrar o caso do seu tio Howard, um jornalista de uma cidade pequena de 5 mil habitantes. Não é um caso incomum, mas que vale a pena ser citado aqui, e serve de exemplos em diversos outros meios onde houve(r) o duelo emprego x tecnologia:

“ Meu tio era um jornalista de cidade pequena, publicando o jornal local de Richmond, Missouri. O jornal, fundado por meu avô, era o negócio da família, e tinta corria em suas veias. Ainda me lembro dele bradando a respeito da ascensão do USA TODAY; ele o criticava como “TV no papel” e o apontava como mais uma prova do emburrecimento da cultura americana, mas também compreendia o desafio que o grande jornal estabelecia, com sua impressão em cores e distribuição nacional. O Richmond Daily News e o USA TODAY estavam no mesmo negócio; apesar da diferença de escala e alcance, Howard percebeu de imediato o que o USA TODAY pretendia.

(…) O USA TODAY acabou não sendo nem de longe a ameaça que o pessoal dos velhos jornais temia. Ele tomou fatia do mercado de outros jornais, mas o efeito não foi catastrófico. A principal ameaça ao Rachmond Daily News, e de fato a todos os jornais, pequenos e grandes, não era a concorrência de outros jornais, mas mudanças radicais no ecossistema global da informação. A ideia de que alguém podia fabricar impressoras de quatro cores que funcionassem 24 horas por dia era de fácil compreensão. A ideia de que a transmissão de notícias por meio e papel poderia se tornar uma ideia ruim, era quase impenetrável. Howard podia imaginar alguém fazendo melhor o que ele fazia. Não podia imaginar alguém tornando o que ele fazia obsoleto.

Muitas pessoas na indústria jornalística, as mesmas que temiam os efeitos de uma concorrência como a do USA Today, não perceberam a significância da internet. Para pessoas com uma atitude profissional, é difícil compreender como algo que não é produzido profissionalmente poderia afetá-las — a internet não só não é um jornal, como também não é uma empresa, nem sequer uma instituição. Havia uma espécie de parcialidade narcísica na profissão: as únicas ameaças que os jornalistas tendiam a levar a sério eram as representadas por outros meios de comunicação profissionais. Isso os levou a se defenderem contra a coisa errada (…) ”.

O ponto é justamente este. A preocupação com o que não importa, deixando a real “ameaça” de lado.

Mas a tecnologia deixa todos trabalhadores na rua balla. É muito ruim!!!

Isso não é uma regra. Muitos são realocados, outros ficarão desempregados, e a especialização será demandada. O ganho para a sociedade é muito maior. Gosto muito de referenciar esse meu outro texto do blog que falo um pouco disso também.

Agora podemos traçar um paralelo com o Uber.

Vai ter morte!

Nessa semana o Uber foi proibido em São Paulo. O motivo é que ele não se enquadra nas leis trabalhistas, pois cobrar por carona é um serviço exclusivo do TAXI, e, portanto, existem taxas, impostos, sindicatos e uma porrada de gente pra sustentar.

O Uber, é um aplicativo que você utiliza pelo celular para solicitar um carro de luxo. Luxo porque ele é um carro mais confortável, de um padrão um pouco mais alto do que os veículos de taxi comum, a corrida é um pouco mais cara (não muito), além de contar com uns mimos como conexão internet via wi-fi, água, e quitutes. No final da corrida você avalia o serviço do motorista e o mesmo também avalia o passageiro, como uma rede social. Achei isso muito legal, embora tenha lido um post no facebook mostrando um ponto de vista interessante de que infelizmente isso seja necessário para forçar o motorista a te tratar bem. Bom, se for isso, tudo bem. Funciona.

Essa é a palavra. Funciona. Funciona bem.

Estamos tão mal acostumados com serviços ruins que ao aparecer (e não de forma súbita, sempre lembrando) um melhor, a primeira medida é promover o caos e agir com truculência. A classe ao invés de entender o que está acontecendo (e aqui amplio este ponto para um panorama bem macro. É de extrema importância, e de sua responsabilidade, saber o que está acontecendo lá fora no mercado em que você atua. Quais tecnologias estão sendo implementadas, as que não deram certo e, principalmente, a razão e direção destes movimentos, seja você dono do negócio ou empregado) preferem fazer ameaça de morte, interditar avenidas, queimar carros.

– Não vamos entender nada, vamos é barrar isso daí e foda-se!

Note, aliás, que o argumento contrário ao Uber por parte dos taxistas carece de razão, ou qualquer raciocínio lógico mínimo:

Isso é desleal!!!

Fato é que se não for o Uber hoje (embora eu ache que sim), será um outro serviço amanhã, por um motivo bem simples. Não porque o Uber seja utilizado através de um celular, seja rápido, ou o carro seja maneiro e tem wi-fi, mas, principalmente, porque o serviço entende o que o cliente quer em vários aspectos. Além da infra-estrutura, o bom tratamento oferecido, que convenhamos só levamos isto em conta por justamente estarmos acostumados a viver sem ele, são pontos que fazem a diferença e que muitos preferem pagar a mais por isso.

Eu pago pra não me estressar.

Mas continuemos assim, obrigados a aceitar um serviço ruim para todos em prol da empregabilidade mal conceituada. Ou você acha que o sindicato, cooperativas, ou os próprios taxistas, vão tentar entender o motivo disso tudo estar acontecendo ?

Nada. Preocupação é comprar o jornal na banca bem cedinho pro cliente ler notícias de ontem durante a corrida.

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Originally published at tudosobrenada.xyz on July 2, 2015.

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