Dengue Tipo II avança em Minas Gerais

Fabiano Frade
tudosobreadengue
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7 min readDec 12, 2018

Especialista explica que sorotipo já circula em nove das 28 regionais do Estado

Chuva acima da média neste fim de ano em Minas é motivo de comemoração nas represas e se apresenta como a possibilidade de tranquilidade de abastecimento de água. No entanto, a mesma água que vem para trazer alívio, deixa um importante alerta: a chuva aliada a temperaturas elevadas propicia o desenvolvimento das larvas do perigoso Aedes Aegypti, o mosquito é transmissor da dengue, da febre chikungunya e do zika vírus. Além disso, sua fêmea demora apenas 10 dias para chegar à fase adulta e já poder transmitir as doenças ao homem através de picadas.

Não é difícil encontrar alguém que tenha sido alvo do mosquito. O estudante de engenharia mecânica, Luiz Gustavo Silva, conta que começou a sentir muita fraqueza, dor de cabeça e dores no corpo, principalmente nas juntas. “Além disso, começaram a aparecer manchas na pela”, lembra. Por isso, Silva já imaginava, antes mesmo de pegar o resultado dos exames, que estava com dengue, pela terceira vez. “Os sintomas eram muito parecidos com os anteriores, quando tive dengue, além disso, as manchas na pele me chamaram a atenção, pois são características da doença”, conta.

O estudante está entre os 27.172 casos prováveis de dengue contabilizados em 2018 em Minas Gerais. O número consta no boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde, SES-MG, no dia 10 de dezembro, e mostra que, em relação a 2017, houve aumento de 25.933 casos da doença no estado. Ainda segundo a secretaria, o ano mais crítico em relação aos registros de dengue, em Minas, foi em 2016 com quase 520 mil casos.

2010 (212.502 casos), 2015 (193.993) e 2016 (519.050) registraram os maiores números da doença em Minas. Fonte: SES/MG — Boletim epidemiológico (11/12/18)

Em 2018, o número de mortes causadas pela dengue também pode ser maior, conforme previsão das autoridades de saúde, isso porque já foram confirmadas oito mortes pela doença no estado e há, ainda, 11 casos sendo investigados. As vítimas são moradores de Araújos, Arcos, Conceição do Pará, Lagoa da Prata, e Moema, no Centro-Oeste de Minas Gerais, Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, além de Ituiutaba e Uberaba, no Triângulo Mineiro.

Alerta Amarelo

Após oito anos, o possível retorno da dengue tipo 2 preocupa as autoridades de saúde do estado mineiro, pois esse vírus é mais agressivo e mortal que a dengue tipo 1. E, conforme Técnico do programa estadual de controle das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti da Secretaria do Estado de Saúde, Dionísio Paceli, o fato de as pessoas não terem contato com o vírus tipo 2 há algum tempo aumenta as chances de contaminação por ele. “Desde 2010 a circulação tem sido predominante do tipo 1 no estado de Minas Gerais. Este ano é a primeira vez que há a circulação predominante do sorotipo 2 em 9 das 28 regionais”, ressalta Paceli. Ainda conforme o secretário, as pessoas infectadas com o sorotipo 2 não apresentam um quadro pior que as que tenham o sorotipo 1, no entanto, esse sorotipo provoca maior número de casos graves, principalmente em menores de 15 anos.

Repórter Patrícia Sathler tem detalhes da dengue em Minas.

Nas quatro últimas semanas epidemiológicas (04/11/2018 a 01/12/2018), segundo a Secretaria de Estado de Saúde, nove municípios estão com incidência média de casos prováveis de dengue, nenhum com incidência muito alta ou alta, 197 municípios estão com baixa incidência e 647 municípios estão sem registro de casos prováveis

Em 2018 já foram registrados 19 casos de Dengue Tipo II no Estado. Fonte: SES/MG — Boletim epidemiológico (11/12/18)

Divinópolis teve início de ano complicado com epidemia de dengue

Em janeiro deste ano, a princesinha do Oeste, como é chamada a cidade de Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, viveu tempos difíceis com epidemia de dengue. O LIRA ( Levantamento Rápido do índice de Infestação por Aedes aegypti) chegou a ficar em 6,5%. O alto risco de acordo com o Ministério da Saúde é quando está acima de 4 %. A situação até foi contornada ao longo do ano, mas agora em dezembro, o boletim epidemiológico mostra que em uma semana, foram registradas duas novas suspeitas de dengue, em Divinópolis. O que aumenta para 80 o número de casos registrados na cidade em 2018.

Martinho Campos, a cerca de 100 km de Divinópolis, é um dos quatro municípios com maior incidência de casos de dengue, se comparado os registros com o número da população. Outros dois pequenos municípios aparecem na lista em destaque, Mamonas e Icaraí no Norte de Minas. O município de Unaí, no Noroeste do estado, é que encabeça a lista de incidência da dengue com 225 casos prováveis.

Municípios com maior incidência de casos de dengue. Fonte: SES/MG — Boletim epidemiológico (11/12/18)

População no combate a dengue

Com a chegada do calor e do período chuvoso, todo cuidado é pouco, pois depósitos de água irregulares, como vasos de plantas, frascos e garrafas vazios e destampados, reservatórios de degelo em geladeiras, além de materiais em depósitos de construção, lixo, sucatas e ferro velhos, são alguns dos mais frequentes focos do Aedes aegypti encontrados pelos agentes de endemias em residências. Para combater os focos do mosquito, o governo do estado realiza ações periódicas.

“Nós provocamos uma capacitação, um encontro, discussões dos municípios visando sempre capacita-los para isso. Além disso, o estado é responsável pela distribuição dos praguicidas usados nesses programas vetoriais do Aedes. E nos estamos com aquisição de insumos estratégicos, como unidades de hidratação, termonebulizador, container criogênico, tudo colocado a disposição dos municípios”, explica Paceli.

Para além de todas as ações do poder público, a sociedade precisa também fazer sua parte no combate aos criatórios do Aedes. Afinal, conforme Paceli, os focos do mosquito estão em grande parte dentro das residências, o que torna fundamental as pessoas tomarem atitudes simples, como não deixar objetos expostos ao acúmulo de água e fazer sempre vistorias em casa, nesse sentido.

Imagem Divulgação

MITOS SOBRE A DENGUE

Segundo o Ministério da Saúde, existem alguns mitos a respeito do Aedes Aegypti e das doenças transmitidas por ele, exemplo:

1. AR CONDICIONADO E VENTILADORES MATAM O MOSQUITO

O ar gelado apenas repele o mosquito, momentaneamente, quando o ar estiver desligado, ele retornará ao ambiente.

2. PARA MATAR OS OVOS DO MOSQUITO BASTA SECAR OS RESERVATÓRIOS DE ÁGUA PARADA

Na verdade, é preciso fazer a limpeza do recipiente, pois o ovo ainda pode sobreviver por mais de um ano sem água.

3. REPELENTES SÃO FUNDAMENTAIS NO COMBATE À DENGUE

Não existe comprovação de que repelentes ou velas aromática, como a de citronela, espantem o mosquito. O afastamento do inseto pode ser apenas temporário.

4. TOMAR VITAMINA B AFASTA O MOSQUITO

Tomar vitamina B pode afastar mosquito, mas o efeito pode variar de pessoa para pessoa, devido ao metabolismo de cada uma.

5. QUALQUER PICADA DO MOSQUITO TRANSMITE A DOENÇA

A contaminação ocorre apenas se o mosquito estiver contaminado com o vírus da dengue. Cerca de 50% das pessoas irão desenvolver formas subclínicas da doença.

A lista completa você encontra aqui.

Para o combate ao mosquito, informação tem, falta mobilização

Em uma pesquisa recente do Ministério da Saúde foram feitas duas perguntas: “As pessoas sabem como evitar a proliferação do mosquito?”; “As pessoas fazem algo para evitar o mosquito?”. E o resultado foi surpreendente: 95 % das pessoas sabem o que fazer para o combater o Aedes, mas apenas 45% colocam em prática os conhecimentos.

A coordenadora Programa de Controle das Doenças Transmitidas pelo Aedes Aegypti, da SES-MG, Márcia Ooteman, explica que a conscientização das pessoas é fundamental no combate a dengue e que as crianças são a grande esperança, por isso as campanhas da Secretaria de Saúde tem um grande foco no pequenos. “A gente tem que investir nas crianças, pois elas tem um potencial de mobilização incrível”, destaca.

Campanhas são produzidas rotineiramente pelo poder público para conscientização da população.

O mosquito já foi combatido no Brasil há alguns anos

Na década de 1950, o Aedes aegypti foi completamente erradicado no Brasil por causa da grande epidemia de febre amarela no início do século XX. O médico e cientista Oswaldo Cruz foi o grande responsável pela campanha contra a doença. De lá para cá, a falta de prevenção contra o mosquito contribuiu para a proliferação dele, o que causou várias epidemias no Brasil, como a da dengue de 1986 que surgiu no Rio de Janeiro e se espalhou pelo o país.

A nossa reportagem cruzou os dados de três anos da década de 90 com três anos da década atual. O que se percebe é que a dengue aumentou e muito nesta última década. O poder público tem a sua participação, que não é pequena, mas, como já mencionado nessa reportagem, cabe a cada cidadão comprar a briga contra o mosquito.

Os números da dengue na década de 90 são inferiores aos registrados atualmente. Fonte: SES/MG — Boletim epidemiológico (11/12/18)

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