Virei júnior e agora?

Sobre as inseguranças, medos, desejos e animações de uma recém contratada, e como foi minha jornada para chegar até aqui.

Bianca Silva
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7 min readJul 26, 2022

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Eu quis escrever esse texto porque não vi lugar mais adequado que aqui, é uma parte de mim, é um lugar que viu muito meu suor, minhas lágrimas, mas também meus sorrisos e diversão enquanto estudava. Além disso, eu sempre gostei de escrever, sempre fui uma pessoa envolvida com atividades criativas. Tendo isso em mente, peço que você leitor ou leitora tenha paciência comigo, porque este texto vai levar um caráter muito mais pessoal e intimista que os outros.

Atenção: Esse texto foi escrito ao longo de meses, e vai retratando desde minha experiência inicial da profissão, até os momentos mais atuais. Em julho de 2022 eu estava com 7 meses na profissão.

Eu virei júnior! Mas como?

Em dezembro de 2021 eu recebi a notícia que havia passado no processo seletivo da antiga empresa que eu trabalhei para uma vaga em UX (user experience) . E sim, antiga empresa, porque eu tinha recebido uma proposta de estágio na área de UX/UI (user experience e user interface), e no inicio de dezembro pedi demissão. Eu realmente queria ir para área antes do fim do ano, devido a possibilidade de eu ter que ir para uma área que não era minha/não era o que estava estudando, no setor que eu estava.

Nessa época, eu já havia feito uma primeira entrevista na empresa, na verdade eu já tinha passado por vários processos e recebido algumas negativas, além dos processos que eu me inscrevi e nunca obtive retorno. Ao todo eu me inscrevi para pelo menos 200 vagas de emprego na área. Dessas eu obtive retorno e participei dos processos da Stone, Gamers Club, IBM, Venturus e uma oferta para participar de um processo da Buser. Aí fica a primeira lição: se você quer entrar na área e acha que enviar 30 candidaturas e ninguém responder é muito, está achando errado.

Saí da empresa que estava para aceitar uma proposta de estágio na Venturus (inclusive o programa de estágio deles é sensacional e eu realmente recomendo quem tem interesse na área ficar atento a abertura do programa e seguir a Venturus de pertinho), e em pouco tempo depois recebi a notícia que eu tinha sido aprovada no processo da empresa que atualmente trabalho para uma vaga efetiva, troquei o processo da Venturus pela minha atual vaga. Aproveitei para tirar umas "férias" entre o período da minha demissão e da minha "recontratação" e ingressei na equipe mobile de um dos clientes da empresa atual que estou trabalhando.

E como está sendo?

Quando eu comecei esse texto, eu tinha uma semana de casa, na exata data que estou escrevendo esse parágrafo, eu completei um mês como UX/UI Designer e ao escrever o item 3 dessa lista, eu já havia completado quase quatro meses de casa, ao escrever o item 4 desse texto eu estava com sete meses de contratação. E com esse pouco, mas importante tempo, posso trazer algumas observações:

1. Proatividade é tudo!

Se você não é proativo e é o tipo de pessoa que sempre está esperando que as pessoas te dêem o que fazer, pode seriamente ser que essa profissão não seja adequada a você.

2. Não existe proatividade sem comunicação!

Esse é um outro ponto muito importante, para ser proativo, para conseguir entender o que fazer, como fazer, para quem fazer, você precisa saber se comunicar, e precisa entender o que o outro te diz, uma comunicação falha resulta em um produto falho.

3. Você conhece o Agile? Se não, deveria.

O Agile não é um mito, não é uma religião, não é um conjunto de regras colocadas que devem ser seguidas como um robô, como alguns vendem. Mas ele ajuda os times a se auto gestionarem e a funcionarem de maneira independente

4. Nenhum curso fala sobre o negócio, mas deveria

Uma das coisas que agora mais próxima de um ano do que na fase inicial desse texto eu percebo, é como os cursos não te preparam para lidar com o negócio, nem com um cenário não ideal, muitas vezes, mas muitas vezes mesmo, você sabe o processo, sabe o que precisa ser feito, sabe como conseguir resultados voltados para o usuário, mas o negócio vai optar por fazer de outra maneira, e daí existem duas possibilidades:

  • A primeira: você acata, e acaba se tornando uma pessoa que só faz o que mandam e mesmo sabendo que aquilo vai dar errado não diz, e a culpa daquilo não funcionar acaba recaindo sobre você.
  • A segunda: Você escolhe as batalhas que vai lutar. Nem sempre você vai conseguir ir contra o que o negócio quer, mas cabe a nós negociar, alertar, faze-los entender que aquele não é o melhor caminho, e caso aquilo persista, você realiza, porém com sobre aviso. Cabe aqui você olhar para a empresa que trabalha também, você sempre tem que ceder? Ou consegue negociar na maioria das vezes? Você é ouvido? Existem empresas que não querem UX Designers, mas apenas mão de obra para realizar o que eles ACHAM que dá certo.

E além do negócio, nem sempre você vai estar em um cenário ideal, em que vai rodar o seu Double Diamond inteirinho de ponta a ponta, ou qualquer outro processo de design, algumas vezes você vai ter que usar a própria expertise, porque não consegue fazer pesquisa com o usuário, vai ter que aprender a se virar para buscar dados relevantes para o que está fazendo. E vai ter que apresentar provas de o que está fazendo é de fato relevante, mesmo sem ter nenhum suporte. Está preparado?

5. As pessoas romantizam UX e tem MUITA gente se aproveitando desse romance

Parece maldoso e desestimulador quando eu falo isso, mas entenda que as promessas que são vendidas em vários cursos (salvo dessa lista a Design Circuit que sempre me deixou bem com os pés no chão em relação a profissão, obrigada AJ) são promessas irreais, ilusórias, e vão fazer você se decepcionar com a área. E aqui vamos de algumas quebras de expectativas:

  • Existem vagas sobrando: para seniores e plenos. O júnior meus caros, o júnior disputa vaga praticamente a tapa. Eu não vi UMA única vaga para júnior em startups famosas ou empresas de porte um pouco maior que não tivessem pelo menos 600 inscrições na vaga. E boa parte dos culpados são justamente os juniores. Pessoas que acham que fazendo um curso, sem praticar, ou que seguir uma receita de bolo é ser UX, isso tira a confiança das empresas em nós, faz com que contratar um júnior seja arriscado.
  • O salário é alto: realmente comparado a algumas profissões o salário é UM POUCO mais alto, se você mora no estado de São Paulo, consegue pegar valores razoáveis mesmo num cargo de estágio. Fora de SP, tenho amigos que realmente ganham um salário parecido com outras profissões. Isso em conjunto com a disputa para entrar na área acaba fazendo com que algumas empresas realmente ofereçam salários baixos para a área, visto que a demanda de júniores é bem maior do que as vagas disponíveis no mercado atualmente.
  • Inglês e faculdade: obviamente existem empresas que não se importam se você tem faculdade na área, mas se você trabalha ou pretende trabalhar em uma empresa mais tradicional (como é o meu caso), você inevitavelmente PRECISA de ter uma graduação ou pós graduação na área. E eles vão pedir minimamente um nível intermediário de inglês, não tem como fugir, se você é ou quer entrar na área tech e de T.I, tem que saber inglês, é algo básico para nossa profissão (essa que vos fala investiu em um curso de inglês ano passado e agora tem um nível intermediário de conversação).

E como eu estou agora?

Atualmente ainda estou na equipe mobile de um dos clientes da empresa, o cliente é do setor financeiro e sinceramente estou gostando muito da área. Eu me encontrei profissionalmente, eu que sempre amei design, mas sempre tive uma pegada muito mais técnica que aquela criatividade dos ilustradores, eu que sempre amei psicologia e comportamento humano, consegui achar uma profissão que une o melhor de todos esses mundos no meu conceito.

E falando da minha atual empresa, eu realmente não tenho do que reclamar, é uma empresa com uma maturidade de design muito grande, e tenho trabalhado com líderes e profissionais incríveis que tem agregado muito para a minha construção como profissional, eis a importância de ter seniores em um time, eles te ensinam e você aprende muito com a experiência deles.

Espero realmente voltar aqui daqui um tempo, contando como é estar a "x" anos trabalhando na profissão, e sobre os novos desafios e conquistas que obtive.

E quais os meus conselhos?

Como uma júnior, sinceramente, não sei se meus conselhos são muito válidos, porém acho que vocês podem tirar algo da minha quase nula experiência:

  • Não entre na área por modismo, ou por que alguém falou. Conheça a área profundamente, converse com pessoas que já trabalham na área, e reflita seriamente sobre as conversas não estimulantes que tiver. Nem todo mundo quer te jogar um balde de água fria, mas o dia a dia da profissão é bem diferente do que se vende na maioria dos cursos e talvez você esteja meio iludido.
  • Estude processo. Não adianta saber fazer tela bonita se você não sabe o porque fez.
  • A área é bem disputada para entrar, se realmente é o que você quer para você, não desanime, o seu sim chega, mas tome cuidado, alguns locais podem se aproveitar da sua ansiedade para entrar na área.
  • Networking é muito importante, e quem não é visto, não é lembrado, é sempre bom deixar seus projetos expostos de forma fácil para que as pessoas consigam ter acesso.

E é isso pessoal, se vocês gostaram desse texto eu tenho mais alguns falando sobre a UX, mostrando alguns projetos e discutindo sobre a área, você pode curtir esse texto e assinar meu blog (eu ando postando nunca, mas de vez em quando volto aqui).

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Bianca Silva
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I'm a UI/UX designer student, working as designer and communications intern at IBM. I'm 25, and I really love design world, and I am always studying about it.