A criatividade perdida nas relações abusivas de trabalho. Você vive uma?

Daniel Neves
Tutoria Criativa
Published in
6 min readApr 4, 2019

No post anterior, falamos sobre algo muito importante, que não estamos prestando atenção e tem um impacto profundo em nossas vidas: os relacionamentos. O tema desse post aborda uma questão delicada, mas muito importante de ser discutida. Quantos de nós, em algum momento de nossas vidas tivemos a experiência de estar um relacionamento em que não gostaríamos de estar? E o que podemos fazer para transformar esses relacionamentos e reescrever nossa história?

As relações de abuso e poder

Entre agências de design e publicidade, o cenário é assustador. Falar abertamente sobre relacionamentos abusivos ainda é um tabu. A maioria dos profissionais criativos vive um estado de amargura, depressão e estresse contínuos. Para minha surpresa, existe uma lista que circula na internet, com depoimentos anônimos chamada Como é trabalhar aí? 3.0 . São mais de 3.500 relatos, em sua maioria, de situações que demonstram que esses relacionamentos abusivos são a regra e não exceção.

Ao longo da minha vida profissional, estive dentro de diversos relacionamentos abusivos. Em minha prática meditativa, fui observando o fenômeno para encontrar saídas. O que acontece é que sucessivamente negamos as emoções. Lentamente, vamos nos envenenando por dentro. Como resultado nos tornamos amargos, cínicos, muitas vezes agressivos em nosso comportamento. Esses fragmentos ficam em nossa personalidade, principalmente a sensação de inadequação e isolamento. A dura verdade é que nossa percepção fica estreita e não há um caminho possível. Perdi a conta de quantos talentos eu vi se perdendo no caminho. Para alguns, o brilho se apagou ao deixar de ser o oprimido para se transformar no opressor.

O estresse é o seu inimigo, não seu chefe

Essas relações nos levam ao extremo desgaste e, de fato, ao colapso. Recentemente, em uma matéria da BBC, o professor da Escola de Pós-Graduação em Negócios da Universidade de Stanford, Jeffrey Pfeffer, disse de forma clara: “o trabalho está matando as pessoas e ninguém se importa”. E isso não é uma metáfora. O artigo revela que o estresse causado pelo trabalho está por trás de cerca de 120 mil mortes de americanos e responsável por 50% de faltas e licenças médicas. Se o trabalho é a causa principal, e simplesmente não podemos abandoná-lo, qual seria a solução? Se somos tão criativos, por que não encontramos saídas para essas relações?

A resposta é porque o estresse nos leva a perder a nossa identidade e bloqueia a nossa inteligência de tomar decisões com clareza. O que isso nos revela é que o estresse ocorre quando não temos recursos internos para lidar com as demandas externas. O que é comum a todos — inclusive ao chefe abusivo — são as situações estressantes. Por isso, não adianta culpá-lo. Ele é só uma parte da engrenagem. As estruturas que norteiam grande parte das relações de trabalho estão inseridas num paradigma de crescimento. É através do estímulo à competição, das comparações entre indivíduos que geram produtividade, assim como o tempo de trabalho. Quebrar a roda não é uma possibilidade factível. Seria um descompasso com a realidade.

Portanto, no nível das relações, o nosso inimigo é o ESTRESSE. E o que nos falta é VITALIDADE. Somente uma personalidade revitalizada pode sair do lugar para finalmente agir e caminhar por conta própria.

Não basta vontade. Suas glândulas é que estão no controle

"Artax! Se move! Por favor!!!!"

Sem vitalidade, estamos condenados a continuar em relacionamentos em que não queremos estar. Somente uma personalidade revitalizada é capaz de ouvir sua Consciência para fazer escolhas.

O estresse tóxico não é apenas um fator emocional. Também é um fator químico. Nessa condição, há um transtorno com um hormônio chamado Cortisol, produzido pelas glândulas suprarrenais. A falta de senso de humor, estar irritado constantemente, ter sentimentos de ira persistentes, cansaço permanente sem termos realizado esforço que o justifique e falta de apetite ou gula, são possíveis indicadores de níveis elevados de cortisol em nosso corpo.

Quando nossos níveis de cortisol estão equilibrados, nos sentimos mentalmente fortes, esclarecidos e motivados. Quando nossos níveis são baixos, tendemos a nos sentir confusos, apáticos e cansados. Por isso o cortisol diz muito sobre a nossa capacidade de lidar com o estresse.

Se não podemos controlar o mundo à nossa volta, podemos transformar o que está dentro de nós. Se quisermos transformar nossos relacionamentos, devemos ter um plano estratégico para o fortalecimento interior:

1) Limpar-nos fisicamente e mentalmente

2) Restaurar nossas glândulas e o sistema nervoso

3) Revitalizar nossa identidade

4) Agir com clareza

5) Tomar decisões a partir de nossos valores

A chave desse plano estratégico reside em nossa capacidade de despertar nossos centros de energia, redirecioná-las e ativar nossas glândulas.

Sem limpar nossos canais de energia, mudar a frequência da mente e alterar a química do corpo não temos nenhuma chance. A tensão e o estresse prejudicam as glândulas. Quando lidamos com o estresse crônico, devemos cultivar vitalidade.

A luta efetiva contra o estresse é feita de hábitos constantes em nosso estilo de vida. Por isso ouvir um “basta querer” está longe de ser uma solução real.

Transformando nossos relacionamentos

Dizemos à mente: “eu quero sair daqui”. Mas a mente é ardilosa e começa a fazer intrigas: “mas não tenho para onde ir”, “ninguém vai me amar”. A verdade é que não estamos prontos para o confronto. Se o nosso grande inimigo é o estresse, o inimigo da criatividade é a dúvida. A dúvida divide a mente. Ela fragmenta as emoções. Ela cria uma fenda na maneira como processamos os pensamentos. Não podemos nos manifestar positivamente: geramos confusão e sofrimento e entendemos errado o fluxo da vida.

De forma prática, significa que os hemisférios cerebrais estão desequilibrados e isso dificulta a clareza em tomadas de decisões cruciais, já que essa tarefa é realizada pelo lobo frontal. Cientificamente, já foi comprovado que as pessoas com maior resiliência, possuem um cortéx pré-frontal esquerdo mais desenvolvido.

É por isso que, essencialmente, muitos dos kriyas e meditações do Kundalini Yoga são para ganhar vitalidade. Gradualmente produzem energia dentro do nosso sistema e fazem essa energia circular para liberar os nossos bloqueios, como consequência fortalecendo nosso lobo frontal e o sistema nervoso.

Curiosamente, quando estamos presos em relacionamentos que não queremos estar, pelo menos um desses hábitos não estão em harmonia:

1) Alimentação saudável e adequada

Comer é um ato revolucionário. Não apenas para o planeta, mas para o seu corpo. São muitas as tradições que recomendam dietas vegetarianas, principalmente para repor energia de um corpo fragilizado. A limpeza dos canais de energia no organismo e um intestino saudável são a base fundamental para um estado de vitalidade. Existem muitos alimentos de limpeza na medicina tradicional indiana (Ayurveda). Procure orientação com um profissional da área.

2) Estimulação glandular com prática de atividades físicas regulares

Todos os conceitos sobre criatividade não levam em consideração desenvolver a parte mais importante em qualquer processo criativo: o cérebro. Ouso dizer que a criatividade é diretamente proporcional à qualidade do funcionamento das nossas glândulas. De fato, movimentar cura nos abre novas possibilidades de ação criativa. Hormônios e neurotransmissores como endorfina e serotonina, responsáveis pelo bem estar, felicidade e controle de ansiedade, são estimulados a partir de atividades físicas regulares.

3) Capacidade de relaxar e um sono restaurador e profundo

Tanto o sono quanto o relaxamento tem a função de reparo e equilibrar o efeito do metabolismo. Dormir bem também é um estímulo glandular. A melatonina é o hormônio produzido pela glândula pineal e secretado em determinadas horas de sono. Para ser produzida, o escuro absoluto é vital. Luzes de leds dos aparelhos no quarto ou acessar constantemente o celular antes de dormir, afetam a produção da melatonina e nosso estado de relaxamento.

4) Cultivar uma mente alerta e positiva

O Kundalini Yoga possui muitas ferramentas fantásticas que alteram nosso relacionamento com todos os hábitos acima. As práticas físicas, as respirações, meditações estimulam a vitalidade e, como consequência, nossa Consciência é despertada. Pensar positivamente é o resultado de estar alerta com os pensamentos que produzimos e construir uma relação saudável e em harmonia com o corpo

"Kundalini Yoga é, simplesmente o desenrolar de você mesmo para encontrar seu potencial e sua vitalidade para alcançar suas virtudes. Não há nada fora, tudo está em você. Você é o armazém de sua totalidade”

Yogi Bhajan

Reescreva sua história. A hora é agora.

Até breve.

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