Como saber se o seu propósito não é uma projeção do seu ego?

Daniel Neves
Tutoria Criativa
Published in
9 min readDec 6, 2018
"There is no spoon" (Não existe colher) / Matrix, 1999

“Propósito” é provavelmente a palavra mais empregada no universo de startups e aceleradoras atualmente. Muito comum também em coaching ou processos de autoconhecimento a pergunta “Qual o seu propósito de vida?”. Curiosamente, a falha nesse processo não é por falta de conhecimento sobre o assunto ou falta de mentorias específicas. A grande verdade é que nem tudo é o que aparenta ser. Como diria a música do Arcade Fire, Reflektor:

“I thought I found a way to enter
It’s just a reflektor (it’s just a reflektor)
I thought I found the connector
It’s just a reflektor (it’s just a reflektor, just a reflektor)”

Ao longo da trajetória da Tutoria Criativa, tive a oportunidade de trabalhar com diversas empresas cujo objetivo principal era desenvolver projetos com impacto e inovação social.

O início é sempre promissor, mil ideias de como fazer acontecer. Há quem ouse querer mudar o mundo, mas incapaz de enxergar seu próprio mundo interior. Quando as conexões finalmente são feitas, a realidade é a lei. As palavras proferidas ao vento se perdem, a fragilidade das relações fica exposta.

Durante os 4 anos desse processo, percebi algo muito valioso: a maioria dos empreendedores vive apenas por um senso de oportunidade e não por um senso de propósito. O que era chamado de propósito, era apenas uma maneira de entrar, apenas um reflexo, uma miragem.

Oportunidade x Inovação

A oportunidade é uma lacuna existente nos modelos sociais e econômicos. Basicamente, a oportunidade surge a partir de uma necessidade latente para resolver essencialmente um problema. Na maioria das vezes, considera-se um problema de mercado, algumas vezes um problema social ou ambos. O tal do Unicórnio.

A oportunidade pode ser OPORTUNA e bem vinda, quando possui um objetivo com impacto positivo e a longo prazo. Mas a oportunidade também pode ser OPORTUNISTA, quando tem apenas um objetivo financeiro, a curto prazo. Ambas buscam por um padrão de informação inacessível. Significa que quem desenvolver primeiro, terá uma chance maior de ser bem sucedido. Por isso precisa ser mantido em segredo. Isso nos leva essencialmente a um comportamento competitivo.

Por outro lado, a inovação possui uma natureza radicalmente diferente. Nunca se falou tanto em inovação, mas são raros os casos em que a inovação é praticada. “A verdadeira natureza da inovação é disruptiva.” O que isso significa de fato? Na inovação não há competição. Simplesmente porque não existe sequer um mercado ainda. Um inovador traz a substituição de um modelo antigo por um novo. Traz uma nova visão de mundo em COMO fazer as coisas de uma outra maneira. Sem exceção, há um choque de realidade que demonstra a necessidade de uma mudança profunda. Na realidade da inovação, o confronto é inevitável. A inovação é sempre uma oportunidade, mas uma oportunidade nunca será uma inovação.

Se você freqüenta eventos de empreendedores de palco, você já ouviu tudo isso. Eles te dizem um monte de coisas e você vai embora sem saber o que fazer. No final, todo mundo finge que entendeu tudo e você sai feliz porque teve a certeza de que fez conexões muito importantes. Exceto as que realmente importam. É somente um reflexo, uma mera ilusão. Está ouvindo a música enquanto lê?

O que não te disseram e nem vão te dizer, é que a dificuldade não está apenas no confronto entre o paradigma do velho e do novo. A grande verdade é que mesmo que a inovação esteja diante de nossos olhos, não temos a coragem e capacidade de enxergar. É o objetivo central em nossas vidas, ter a capacidade de discernir o que é real do que é ilusório. Não se trata de obter uma informação secreta. A informação sempre esteve lá. Nós que não fomos capazes de enxergar. Há um paradigma a ser quebrado. E tudo que você compreende como sendo o seu propósito pode ser uma mera projeção ilusória do seu próprio ego.

A busca por propósito está comprometida

Se inovar é trilhar um caminho desconhecido, que jamais foi trilhado antes, porque inovar? É perigoso demais. Simplesmente não há garantias. É exatamente por isso que mexe com ego. É um padrão que existe em todos nós: o medo do fracasso. Além do medo, há outro componente subestimado tão importante quanto e muito pouco discutido: o estresse.

Imagine-se adentrar em uma grande floresta, sem trilhas, sem marcas, sem vestígios. Como uma mata virgem. Existe apenas o vento e o som da vida selvagem. “Um dia, aqui vai haver uma grande comunidade que vai florescer e prosperar respeitando a natureza e os animais de maneira autossustentável. Quer fazer parte?” Como saber se de fato você está diante de uma fantasia do ego ou de um processo inovador próximo de se tornar realidade? Como saber se tenho a vitalidade necessária para não sucumbir? Quais padrões escondidos na minha personalidade emergirão quando o desafio chegar? Tenho as ferramentas necessárias para superá-lo?

E mesmo que o seu pensamento seja verdadeiramente inovador, pode ser que ninguém acredite em você. Foram essas palavras que Max Planck disse a um jovem cientista quando contou que trabalhava para encontrar uma equação simples e elegante, capaz de explicar todo o funcionamento do universo. Esse jovem cientista era Albert Einstein. A equação era a Teoria Geral da Relatividade.

A pergunta fundamental não é “como posso reconhecer o novo”, mas, sim, estas três questões:

1. “Estou disposto a ter a ousadia e coragem para deixar o conhecido para trás?”.

2. “Será que sou capaz de superar os desafios que virão?”

3. “Eu realmente quero viver dentro dos meus princípios e valores fundamentais e sou capaz de sustentá-los ao longo da minha jornada?”

Esse é o caminho comum a todo processo criativo disruptivo. Não há como ser verdadeiramente inovador sem que esse primeiro passo seja dado. Se você tem a resposta imediata a essa pergunta, é o seu ego que está no comando. Justamente porque um território desconhecido testa padrões, testa os hábitos adquiridos que formam a nossa personalidade. O quanto você conhece sobre si mesmo? Como diria Morpheus para Neo em Matrix: “Há uma diferença entre saber o caminho e trilhar o caminho”. E com isso vem a pergunta: Como você pode saber se o seu propósito não é uma projeção do seu ego?

Matrix, 1999

Uma perspectiva sobre o processo criativo

No paradigma atual do processo criativo, nós usamos a nossa experiência e acúmulo de informações através da nossa capacidade intelectual para combinar inúmeras possibilidades, que geram novas ideias e trazem novos significados. Usamos diversos métodos para gerar essas combinações.

Assim, quando nossas vidas se tornam vazias e sem sentido, esse processo criativo puramente intelectual não ajuda. Por quê? Porque precisamos abandonar o conhecido e acessar o desconhecido. O problema é que tentamos FAZER essa mudança a partir do nosso intelecto. É aí onde falhamos. E por que não conseguimos? Porque não queremos abrir mão do que nos conforta, do que aprendemos como verdade. E fundamentalmente, não temos os recursos internos para lidar com as demandas externas.

Precisamos abandonar a crença de que nós somos autores das ideias, dos pensamentos e de que isso nos pertence. As ideias e os pensamentos estão no Cosmos, pertencem a todos. Então, o que faz a diferença não é o que você pensa que é, muito menos suas ideias ou seus pensamentos. O que faz a diferença é COMO fazer isso acontecer e a escolha de COMO atuar no mundo e viver a partir dos seus valores fundamentais. Porém, somos levados a não acreditar que isso seja possível. Nos falta clareza, nos falta força mental e, principalmente, nos falta intuição.

Escolher não é uma opção. Saber é a única solução.

O Olhar invisível da intuição

Simplesmente não é possível combinar todas as possibilidades. Nem precisamos. Se pudermos fazer uma transição que não passa pelos espaços intermediários e pelas posições intermediárias do pensamento e formos capazes de compreender a sequência e suas consequências, poderemos finalmente encontrar possibilidades que tragam soluções para qualquer problema. Por isso não é uma transição gradativa. É uma mudança radical. Isso é chamado de intuição. Se você puder saber intuitivamente o que irá acontecer, então você começará a sequência que terminará com as consequências que deseja. E o que pode lhe dar essa intuição? A sua mente. Como? Se você tiver uma mente meditativa.

Sem uma mente clara, o processo criativo estará comprometido a repetir aquilo que já conhecemos. Quando queremos criar algo realmente novo, nossos pensamentos só conseguem processar aquilo que aprendemos anteriormente, mas esperamos que algo novo surja. No entanto, para acessar o novo, devemos estar livres. Livres para escolher o desconhecido é dizer não ao conhecido. Nesse processo, nossa mente será confrontada. São os nossos medos, hábitos e padrões da nossa personalidade que nos impedem de acessar nosso potencial criativo.

"Free your mind, Neo"

Para desbloquear nossa mente, precisamos de uma tecnologia que trabalhe em níveis mais sutis e profundos para acessar a origem dos pensamentos. Assim como é preciso ativar nossos centros de energia, descarregar nosso lixo mental e limpar nosso subconsciente com o objetivo de liberar seus poderes de cura e ativar nossas glândulas e o sistema nervoso.

Mas onde está o tempo para meditar? A resposta seria que a meditação nos dá o tempo que precisamos e multiplica o que gastamos fazendo. Nós desperdiçamos uma tremenda quantidade de tempo perdendo o nosso foco do que é realmente importante. Nós também perdemos tempo porque não vemos recursos e oportunidades que já estão presentes.

A meditação afia esse foco. Nós também cometemos erros porque a nossa mente vagueia e se torna inconsistente com fantasias e pensamentos sem intenção. A meditação limpa o subconsciente e nos ajuda a manter a clareza.

Os múltiplos caminhos da criatividade

Como resposta à minha reverência e aos ensinamentos que obtive ao longo dos últimos 5 anos com o Kundalini Yoga, quero compartilhar com muitas outras pessoas que estão exatamente no mesmo ponto onde eu estive um dia. Sentem-se desiludidas, traídas, exploradas em diversos níveis, pelas mesmas pessoas que a seduziram com promessas de construir algo positivo e prosperar, mas no final não foram capazes de sustentar e honrar sua palavra. Como diria o Yogi Bhajan, “a calamidade é o meu café da manhã, a tragédia, o meu almoço e a traição, o meu jantar. Há mais alguma coisa que consegue perturbá-lo? Se conseguir comer todas essas três coisas e digeri-las, você é a melhor pessoa”. Você é uma delas? A boa notícia é que nada está perdido. Há um caminho através de cada bloqueio (leia o post)

Nesse caminho podemos ser iludidos pelo ego, ou ser sequestrados pela nossa própria mente. É possível passar anos ou uma vida inteira acreditando em um propósito ilusório, ou algo que nunca será vivido ou experimentado. Mas queremos viver isso de maneira plena, profunda e verdadeira! Em qualquer lugar, seja em startups, empresas ou até mesmo na universidade, há algo dentro de nós querendo aflorar, mas não sabemos o que fazer.

Bij — Oficinas livres de criatividade

É aqui onde irei compartilhar esses ensinamentos do Kundalini Yoga em diferentes oficinas. E você está convidado a vivenciar. Fui eu mesmo o laboratório ao longo desses anos para que pudesse experimentar cada passo e saber seus resultados. Esqueça as promessas fáceis assim como os desafios impossíveis de serem completados. Bij são oficinas livres de criatividade, e cada oficina oferece inúmeras experiências para o desenvolvimento da criatividade e de um processo criativo mais consciente. Nessa jornada, seremos confrontados pelo nosso próprio EU. Precisamos nos preparar para o que está para vir. Há grandes mudanças a caminho (leia post).

Serão diversos temas envolvendo o design, a comunicação, a arte e a mente profunda. Cada oficina pode ajudar você a melhorar e a desenvolver um processo criativo diferente para aplicá-lo seja em sua vida pessoal ou profissional.

Aguardo você.

--

--