TW: Preta!

Nayara Garófalo
TW: Preta!
Published in
3 min readDec 1, 2015

--

TW é a sigla para Trigger Warning, livremente traduzido como “Aviso de gatilho”. Pela etiqueta digital, dentro de grupos de ativismo e militância, este termo é utilizado no começo de uma postagem, quando ela trata de assuntos polêmicos que podem afetar algum possível leitor.

Para ilustrar, dou um exemplo. Digamos que você publique uma postagem que trate de Anorexia. Existem diversas pessoas que sofreram ou sofrem com isso. Para que estas pessoas possam escolher ler ou não aquele conteúdo, antes da postagem, escreve-se: TW: Anorexia. Desta forma, uma pessoa que não sabe se lidará bem com o que vem pela frente pode fechar a postagem e continuar a sua navegação sem ler aquele texto.

Ser uma minoria política é lidar diariamente com inúmeros gatilhos que são ativados sem dó por uma sociedade que nunca nos avisa com antecedência. Não é permitido para esse grupo a decisão de “ler ou não aquela postagem”. Na vida, os nossos gatilhos são ativados inúmeras vezes por dia, por inúmeras pessoas que podem não nos conhecer (numa simples foto publicada numa rede social) ou podem ser muito íntimas (uma “piada” maldosa na mesa do almoço de família). Nada nos alerta que mais uma luta deverá ser travada a qualquer minuto. E viver assim é estar sob uma pressão que poucos aguentariam.

Ser mulher preta na nossa sociedade é ter os gatilhos ativados constantemente. Não só os nossos próprios gatilhos — dos nossos traumas, vivências dolorosas e experiências angustiantes -, mas o gatilho de toda uma sociedade que está com as armas constantemente apontadas para nós, sejam armas literais ou armas metafóricas.

Estar na linha de fogo constantemente provoca angústia, mágoa, dor, ira e desesperança. Contudo, ainda impressiona a incapacidade de uma grande maioria de tentar se colocar nesta posição. Diante disso, passamos constantemente por uma série de ofensas, sermões, apagamentos, silenciamentos e lições de moral, amor, paz e luz vindas de pessoas que, muitas vezes, não compreendem e não vivenciam a pressão que é viver numa roleta russa.

Porsha O em um sarau de poesias em Phoenix.

Compreendo que esta introdução soe pesada e que talvez não seja a mais indicada para iniciar um relacionamento (o nosso). Infelizmente, mesmo que todo enfeitado com laços, um problema será sempre um problema. E a hora é de enfrentar, refletir, problematizar, rever, discutir e desconstruir. Cabe a cada um de nós eliminar, diariamente, os gatilhos que nós mesmos ativamos na vida de cada pessoa que convive direta ou indiretamente conosco. E isso só será feito através da informação, da empatia, da luta, do uso da voz e do nosso esforço, pessoal e coletivo, de mudar a ordem das coisas.

Este site é um espaço para se discutir temas relevantes a minorias políticas, sobretudo as que se relacionam com a mulher negra. E, por saber o peso que é viver em um mundo que não te avisa o próximo golpe, eu começo esta jornada e a nossa relação lhe fazendo uma gentileza: TW: Preta.

Recomende esta postagem (através do❤ abaixo)e espalhe esta ideia. Siga também o TW: Preta! no facebook:

|Facebook |

--

--