O COVID-19 vai acabar com o capitalismo? É um golpe socialista da China?

Gilson Doi Junior
Jeito UIRD de ser
Published in
4 min readMay 11, 2020

Ainda estamos no meio da crise causada pelo COVID-19, mas já podemos afirmar que foi algo que afetou o mundo. Exceto poucas exceções, a população de capitais do mundo inteiro tiveram sua rotina alterada por instruções de isolamento social que, por sua vez, afetaram a atividade econômica e o mercado financeiro reagiu com quedas nas bolsas ao redor do planeta. Para lidar com a situação alguns governos estão lançando pacotes econômicos para incentivar a economia enquanto outros tentam retornar a rotina sem isolamento social (por ter passado pelo primeiro impacto ou por ignorar qualquer impacto). Os principais críticos aproveitam o momento para tentar demonstrar mais uma vez que o capitalismo e o liberalismo falharam, já que nesse momento o estado tem atuado com intervenções na economia e com medidas visando o bem social como iniciativas de renda universal ou voltada aos mais atingidos pelos impactos na economia e ações que permitam o acesso ao serviço de saúde àqueles que não podem pagar.

De fato, com algumas exceções, governos da grande maioria dos países precisou adotar uma postura intervencionista e com viés mais social, mas o capitalismo é o modelo vigente há décadas e ainda é cedo para afirmar que essas medidas tendem a se perpetuar e se tornar o modelo vigente.

Por outro lado, com muitos países tendo que adotar isolamento social por mais de um mês, a reabertura tende e não pode ser um movimento de “voltar ao normal”, já que mesmo especialistas apontam que ainda sabemos pouco sobre o vírus, então a retomada deve ser mantendo cuidados e mesmo assim com o risco de novas ondas que forcem um movimento de isolamento intermitente.

O objetivo desse texto não é chegar a uma visão final, mas fazer um exercício de análise para os próximos meses. Em qualquer um desses cenários de podemos imaginar que o consumo não tende a voltar aos níveis de antes. Mais do que abertura e fechamento do comércio, a pandemia afeta também o confiança do consumidor e dos empresários; e fato é que a grande maioria estão temerosos (aqueles que ainda tem o que temer) a respeito do futuro dos seus empregos e empresas, então devem diminuir investimentos e aquisições para preservar caixa para o que há por vir.

Assim o discurso de que o comércio precisa reabrir para preservar empregos se torna vazio, pois sem demanda de venda, mesmo aberto os empresário poderão se ver num cenário aonde serão necessárias demissões. Esse trabalhadores demitidos, por sua vez, terão que buscar benefícios de seguro desemprego e os programas de auxílio a renda.

A cartilha tradicional da economia também não tem sido efetiva: no Brasil a liberação do compulsório para os Bancos não fez chegar o dinheiro a quem precisa, as reduções na taxa de juros também não chegou aos consumidores e empresários. Já nos Estados Unidos mesmo após sucessivos anúncios de injeção de capital na economia, o número de desempregados aumenta a cada anúncio. Então qual vai ser a saída nessa situação? Não é possível prever ainda, mas o que podemos tentar adivinhar é que não será repetindo fórmulas e modelos do passado.

“Quem criou o vírus foi a China”

Uma das teorias da conspiração que mais circula entre os negacionistas é de que o COVID-19 foi criado em laboratório pelos chineses, com objetivo de afetar a economia dos outros países e se sobressair nesse cenário. Vamos começar nosso exercício desconstruindo essa falácia.

As últimas décadas foram marcadas por um movimento de globalização, diminuição de fronteiras entre países e empresas integrando cadeias de produção em diversos países. Desde que abriu sua economia, a China se tornou o centro desse movimento, atendendo a empresas do mundo todo e dos mais diversos setores se instalando no país ou contratando empresas chinesas para terceirizar parte de sua produção.

Para combater a epidemia, a China adotou fortes medidas de isolamento social. Nesse período, algumas empresas foram afetadas em sua cadeia de produção.

Esse cenário demonstra que a China não foi somente prejudicada pelo isolamento social em si, mas também pelo questionamento dessa dependência. Ainda que tenha vantagens de custos, muitas empresas passarão a repensar sua cadeia de produção para diminuir essa dependência.

E a China não é o único caso. A medida que o vírus se espalhou pelo mundo outras dependências centralizadas foram escancaradas, como a produção dos testes na Coréia do Sul. Uma vez que todos os países estão buscando esses recursos no mesmo momento, não é possível atender a toda a demanda.

Essa dependência tende a questionar ainda a prática de JIT (Just In Time), abordagem industrial que visa reduzir custo de estoque, comprando insumos apenas na quantidade necessária para atender a demanda de curto prazo. Com as paralisações de muitos fornecedores, muitas empresas se viram obrigadas a paralisar suas operações.

Para fazer esse exercício sobre os impactos da epidemia mundial na economia mundial e do Brasil recomendamos o canal da Mônica de Bolle, que apresenta análises bem didáticas sobre dados que estão sendo divulgados e alguns mecanismos adotados para lidar com a crise econômica.

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