O valor do silêncio

Andrigo Oliveira
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2 min readJul 21, 2018

Quando leio a palavra “silêncio”, instantaneamente vem lembranças da minha infância na cabeça. Lembro de passar horas em silêncio no meu quarto, muitas vezes apenas na companhia de algum livro de aventura ou jogos de tabuleiro (quase sempre jogava sozinho).

Vem à minha cabeça aquele tempo onde o acesso à internet e celular eram só pra pessoas ricas ou que estavam dispostas a se endividar por isso, o que não era o meu caso.

Lembro de brincar por horas de 5 marias, uma brincadeira que nem sequer era ~da minha época~ e eu adorava apenas por ser uma das poucas em que poderia brincar sem necessariamente precisar de outras pessoas. Sentava no chão com aqueles cinco saquinhos de areia e brincava por horas, apenas com o objetivo de desafiar a mim mesmo.

Pra quem nunca ouviu falar, 5 marias era basicamente esses saquinhos aí cheios de areia em que o objetivo era jogar um pra cima e pegar outro, até conseguir pegar os 5 saquinhos.

Quase todos os momentos que lembro da minha infância eu estava em silêncio, o que me traz uma tristeza nostálgica pra dentro de mim.

Atualmente o tempo em silêncio é quase nulo, não só pra mim. Todo mundo anda vivendo de uma forma tão acelerada, em meio à tantas coisas que é praticamente impossível ficar em silêncio.

Isso se tornou algo tão comum, que quando ficamos em algum lugar, como por exemplo, uma sala de espera de um consultório, nosso corpo grita internamente pra escutar qualquer ruído, pra fazermos qualquer coisa, o que nos leva direto para os nossos celulares.

Colocar uma música pra tocar enquanto estamos tomando banho, dormindo, fazendo os afazeres domésticos é quase que uma lei e quando não ligamos uma música, ela vem à nossa mente e ficamos cantarolando de qualquer forma.

É praticamente impossível ficar em silêncio hoje em dia, esse turbilhão de ruídos adentrou tão fundo no nosso dia a dia à ponto de adentrar também nossa mente.

Mas o que mais sinto falta não é ficar em silêncio sozinho no meu quarto e sim do silêncio no diálogo. Isso sim acredito que jamais irei sentir novamente. Vivemos na época em que falamos e não na que escutamos. Todo mundo falando junto está causando um ruído insuportável e o resultado desse ruído é uma falta de empatia tão grande, um egocentrismo tão elevado, que as vezes ficar em silêncio e escutar o próximo parece um ato absurdo.

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