70 anos de Nakba — Mais um massacre em Gaza

Plinio Zunica
UM BICHO
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4 min readMay 15, 2018

Ontem Israel celebrou 70 anos da fundação de seu Estado. Para marcar a data, Trump e Netanyahu oficializaram o roubo da cidade de Jerusalém. Enquanto isso, jovens soldados sionistas, protegidos no topo de suas torres de vigilância, assassinaram cinquenta e nove palestinos desarmados e deixaram mais de dois mil e quatrocentos outros feridos.

Hoje completam-se 70 anos da Nakba — a “Grande Catástrofe” — , quando 418 vilas foram destruídas pelo exército sionista e aproximadamente 700.000 palestinos foram expulsos de seus lares para que, em seu lugar, fosse erguida a nação de Israel.

Entre 1948 e 2018, a situação dos palestinos se agravou dia após dia. Hoje, o povo palestino vive em um Estado de Apartheid étnico-religioso. Poemas são proibidos pelo governo, pessoas são presas por fazerem posts de facebook. A tortura é legalizada, prisões não necessitam de provas, advogados não têm acesso aos processos dos acusados. No meio da madrugada, soldados invadem casas para sequestrar crianças acusadas de atirar pedras contra um muro.

Há quem pense que os protestos em Gaza estão acontecendo por causa da tomada de Jerusalém como capital israelense. Outros — os ingênuos ou hipócritas — culpam o Hammas, que incitaria sua população à morte, como se estes fossem incapazes de pensar por si. A verdade é que é preciso muita coisa pra que civis desarmados decidam enfrentar fuzis de peito aberto.

Gaza é a maior prisão do planeta. Seu pequeno território — pouco mais do que metade da zona sul de São Paulo — é cercada militarmente por ar, mar e terra. Por conta do bloqueio israelense, o povo não tem acesso à medicamentos básicos, combustível, material de construção, fertilizantes ou gás de cozinha.

Estudos recentes apontaram que 97% de toda água de Gaza está poluída com esgoto ou altos índices de salinidade, sendo inapropriada para consumo humano.

Segundo a UNWRA, há cortes de energia diários. Toda a população passa de doze a dezesseis horas por dia sem energia elétrica.

Em 2008, Israel iniciou um massacre em Gaza, que ficou conhecido como Operação Chumbo Fundido. Apenas nos primeiros quatro minutos da ofensiva, foram lançadas mais de cem bombas em prédios militares, escritórios e bairros residenciais de Gaza. Nesta operação, Israel usou bombas de fósforo branco, uma arma química proibida pela Convenção de Genebra. Ao fim da operação, Israel assassinou mais de 1.300 palestinos, deixou mais de cinco mil feridos e destruiu a infra-estrutura básica da região. Do lado israelense houveram treze mortos.

Em 2014, Israel promoveu outro genocídio em Gaza, chamado de Operação Margem Protetora. Tudo começou quando três jovens israelenses foram sequestrados na Cisjordânia, e o exército israelense iniciou uma série de buscas, durante as quais assassinaram dez palestinos e prenderam entre 350 e 600 outros (os relatórios são imprecisos, como todo relatório israelense sobre os seus abusos). Não satisfeitos, um grupo de judeus extremistas sequestrou, espancou e queimou vivo o jovem Muhamed Abu Khadeir, de dezessete anos. A comunidade palestina protestou contra a barbárie sionista, e o governo Israelense respondeu aos protestos com uma ação militar que assassinou mais de dois mil palestinos, incluindo 551 crianças. Nesta operação, Israel se empenhou em destruir também instalações de infra-estrutura básica, hospitais, escolas e abrigos repletos de crianças.

Apenas no último mês e meio, a Forças de Ocupação Israelense já assassinaram 104 palestinos, balearam cerca de 3.000 e deixaram mais de doze mil feridos.

Os protestos de hoje não acontecem por causa do Hammas, Trump ou de um documento que apenas oficializa a anexação ilegal de Jerusalém. Não se trata de ideologia, partidos políticos ou religião. Esse ódio justo é fruto de setenta anos de Apartheid. Onze anos da prisão de Gaza. Cinco milhões de refugiados. Incontáveis violações de direitos humanos e leis internacionais. Inúmeros assassinatos de militantes, civis, intelectuais, operários, muçulmanos, cristãos, ateus, homens, mulheres e crianças.

O sionismo, que se iniciou como um movimento de libertação e proteção de um grupo oprimido por séculos de racismo e xenofobia, hoje é um sistema racista e xenófobo de apartheid e fascismo.

Mahmoud Darwish, o maior poeta da Palestina, já alertava:

“Toma nota!

Sou árabe

Sou o meu nome próprio — sem apelido

Infinitamente paciente num país onde todos

Vivem sobre as brasas da raiva.

[…]

Eu não odeio os homens

E não ataco ninguém mas

Se tiver fome

Comerei a carne de quem violou os meus direitos

Cuidado! Cuidado

Com a minha fome e com a minha raiva!”

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