Poema que me varreu
na manhã de sexta feira
em plena universidade pública
eu tentava escrever um poema triste
apesar do sol e dos bons ares de outono
trazia comigo uma enxaqueca
de café e cigarro madrugada adentro
pra chamar de musa
precisava escrever um poema triste
pra uma oficina de literatura
num casarão colonial
em plena Avenida Paulista
já tinha tomado mais dois expressos
e o diacho do poema sem pressa de vir
mas veio vindo do fundo um sussurro
de vassoura varrendo folhas
e o varredor
monástico e solene
assobiava um samba sutil
conforme se encorpava o concerto
meu poema foi se enrrugando
num versinho envergonhado
e quando a vassoura
sorrateira e inescapável
alcançou o banco em que eu repousava
eu disse:
bom dia
e ergui os pés
mas o homem rompeu o assobio e falou:
o senhor não precisa se incomodar.
O SENHOR
NÃO PRECISA
SE INCOMODAR.
poema que me varreu