Das dificuldades de ser pedestre em São Paulo

Amanda Roldan
Um bom par de sapatos
3 min readMar 27, 2017

Dia desses eu estava no Brooklin (o de São Paulo) e precisava ir para a fisioterapia, que fica no final da avenida Cidade Jardim. Para quem não conhece esse região, o caminho todo dá um pouco mais de três quilômetros e conta com o rio Pinheiros no meio. A pé, levaria cerca de uma hora, então decidi optar pelo trem: quatro estações e mais quinze minutos de caminhada, bem suave. Ou deveria ser.

O trajeto de trem foi tranquilo, principalmente porque eram onze da manhã, nada de horário de pico. Estação vazia, veículo ok, tudo lindo, tudo maravilhoso. Mas aí, mes amis, veio o caminho a pé.

Eu sou uma caminhante. Sempre que a vida permite, prefiro fazer meus trajetos a pé. E, por causa disso, estou acostumada ao tratamento que o pedestre recebe: aprendi a me impor mais na hora de atravessar a rua porque, se não for assim, passo a vida esperando do outro lado da calçada. Mas, naquele um quilômetro e pouco de caminhada, nem apelar para o SE JOGA NA FRENTE DO CARRO pareceu funcionar.

Começando do começo: quando saí da estação, tinha que atravessar o viaduto sobre o rio. Tentei alguns caminhos para chegar até ele, mas nenhum tinha faixa de pedestres e, bom, estamos falando de uma travessia em um acesso da Marginal Pinheiros, né? Quem anda por esses cantos sabe que não é fácil cruzar ali, mas, muitas vezes, é o único caminho possível (afinal, quem caminha também precisa atravessar o rio).

Fui até a outra calçada, encontrei uma faixa, esperei vir menos carro e cruzei mais ou menos sem problema. Mas não posso falar o mesmo do momento em que cheguei do outro lado do viaduto: o primeiro carro parou, comecei a travessia e os carros do lado continuaram andando!

Aliás, se tem uma coisa que me deixa com (mais) raiva do que motorista que não para na faixa é aquele que não para nem quando os outros carros pararam. Verdadeiro espírito Couldn’t care less para o pedestre.

E aconteceu de que praticamente todas nas quais eu atravessei eram sem sinal, então cruzar para o outro lado era uma tortura eterna. Isso quando tinha faixa, porque, na avenida Cidade Jardim (do lado de lá do rio) quase não tem lugar para atravessar “legalmente”.

E aí a gente chega no final dela com o clássico “faixas de pedestres que obrigam as pessoas a darem uma volta em São Paulo para chegar até o outro lado”. Sabe como é? Tipo aquelas em que você precisa ir até o fim de um quarteirão gigante para atravessar e depois voltar tudo de novo. Cheguei a mostrar no Stories do meu Instagram a travessia maluca que a gente precisa fazer pra chegar em algum ponto. É um negócio engraçado porque eu nunca tinha reparado nisso até começar a ler e ir a mais eventos que tratavam de cidades caminháveis. Depois disso, comecei a notar mais as dificuldades que os pedestres enfrentamos no dia a dia. Nesse dia, levei muito mais que os quinze minutos que o Google Maps informava porque no meio do caminho não tinha faixa de pedestres; quando tinha, não tinha motorista que parava; e quando parava (por conta do sinal), eu precisava dar uma voltona para chegar até o outro lado.

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