O tempo passou e você permaneceu

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Eu te achei em vários rostos que chegavam sempre com o mesmo conteúdo pra dividir comigo. Mas, com você foi diferente, ela veio pra somar e compreender aquilo que eu guardava no peito. Era dor, e ela soube amenizar com uma maestria que fez escorrer e com toda paciência que só ela tinha, fez fluir o que estava guardado dentro do peito.

Foi ali, sentados em um banco simples de madeira, dia frio, mas a intensidade que trocamos nas palavras fez aproximar um clima bom dentro do coração de cada um. E isso era perceptível, quando ela tocou minha mão, ela transbordou coisas que não tinha coragem de falar apenas em toque. Eu gostei muito, pois você tinha tudo pra fazer história comigo. Você é marrenta e curiosa, e isso bastava pra acender uma relação que eu sempre busquei, e que ficou em modo stand-by por falta de opções, mas você chegou e eu tratei logo de viver isso. Todo dia havia um planejamento sobre os olhares e até o que eu iria te falar, e isso se tornava desnecessário quando você chegava perto, eu esquecia e só ficava aquela paz que você trazia quando começava nossas conversas. Era sempre assim. Você chegou sem oferecer nada, sem fazer promessas, só sentou e doou toda tranquilidade e carinho, e trouxe uma forma de compreender tudo que estava fechado. Com mansidão, você abriu as portas, limpou essa poeira que estava emaranhada e quis permanecer, mesmo com erros e tudo que nos impedia de fazer moradia.

Eu quero, aliás, eu preciso falar sobre os erros. Nesse texto eu quero escrever sobre essa distancia que ficou sobrando. Começo pelos erros que a gente ficou persistindo por várias vezes, nas precipitações que trouxeram dor, e eu sei que você ainda tem marcas dos erros. É por isso que eu preciso falar sobre isso. Eu sei que sempre que ver uma mensagem minha no visor do seu celular você tem medo, e eu entendo seu medo de confiar. Eu sou falho, e tenho essa mania feia de chegar somando, depois sair deixando interrogações e mágoas. Eu só quero te fazer entender que eu te deixei só, mas eu precisava ir pra não ter que dividir tanta desesperança que vivia me assombrando de tempos em tempos. Eu sei que essa explicação não basta, mas, para não acabar ultrapassando e ferindo nossa sintonia, eu optei por ir. Assim sem deixar nada.

Não é a primeira, nem a segunda vez que eu persisto em escrever esse texto. Eu sempre o apago quando me falta palavras para te pedir desculpas. Eu quero encontrar algo que me faça entender sobre sua chegada e sobre sua morada dentro do meu peito. Hoje eu acordei com uma lembrança tua e o retomei. Não tem nada melhor que falar de você em lembranças, isso é uma tarefa que me faz bem — porque elas estão aqui dentro, falado em voz alta — e eu gosto de transformar tudo que foi bom em um álbum de lembranças escritas.

No final, eu sei que lá no fundo você viveu isso tudo que foi bom na mesma sintonia que eu. Então eu fico com a saudade. Fico com a cumplicidade, com a segurança, com o cuidado, com o abraço que foi dado, com o toque, com o teus pensamentos silenciosos. Vou ficando aqui com a sensação que você vai voltar pra sorrir junto comigo. Prefiro que seja assim, preciso ficar na esperança que um dia o tempo vai arrumar um jeito de acertar todas as interrogações que ficou entre a gente.

Vou te buscar no que sobrou, no beijo que não foi dado, na cumplicidade que a gente tinha. E se às chances se esgotarem, eu vou até você e troco essa saudade por tudo que a gente não teve. Eu falo da eternidade e do entregar tudo de bom que você trouxe. Quando isso acontecer, eu deixo a lucidez de lado, e transformo cada suspiro, cada olhar, cada silêncio, em um hábito que você vai fazer questão de provar.

Eu quero provar que, uma historia pode virar saudade, mas o amor e a cumplicidade jamais irão ficar no abandono.

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