Heat: o calor de Miami esquentando as quadras da NBA

Lukas
Um Timeout
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9 min readDec 27, 2019

Bem-vindos mais uma vez, o papo de hoje é sobre o Miami Heat. A franquia da Flórida faz temporada acima do esperado e, hoje, é uma das equipes mais divertidas para se assistir dentro da melhor liga de basquete do mundo. Vamos aqui conversar sobre os principais aspectos que os tornam uma equipe promissora para a atual temporada.

Texto escrito por: Nathan Pinheiro (@ Fast_BreakNBA), Lukas Silva(@ NBAcommentsBR) e o convidado especial Igor Escrew (@ MiamiHeatPortal).

Foto: Reprodução/Twitter @ MiamiHEAT

Fastbreak — Introdução: O Heat é um dos grandes destaques da temporada, principalmente graças ao seu jogo coletivo, pura filosofia do Spoelstra. O time consegue extrair o máximo de cada jogador a partir de jogadas bem desenhadas e jogadores muito participativos, sendo um time que distribui muitos passes com objetividade, bem diferente de alguns times que ficam dando passe pro lado sem objetividade alguma (Márcio Araújo feelings). É o 8° time com mais assistências por jogo (25.5) e atualmente ocupa a 3ª colocação do leste!

Comments: E o sistema de fato funciona. O Heat sempre se destacou pela forte cultura e o fato de terem uma estrutura de jogo e de desenvolvimento bem encaixada, que possibilita a eles conseguirem extrair o máximo de cada jogador, cada um dentro do seu papel, onde a estrela nem sempre será o mais importante. Esse ponto já foi provado nesta temporada e que podem ser um bom time sem o Butler. Semelhante ao Raptors com Kawhi, o time possui uma estrutura sólida o suficiente para jogar bem sem o franchise player (FP) e que fica ainda melhor com ele.

Heat Portal: É isso, amigos. Spoelstra vem fazendo um grande trabalho há anos, mesmo muitas vezes sendo subestimado por “especialistas”. Quem acompanha o Heat sabe que o time é treinado sob uma filosofia, onde o trabalho coletivo é central para que os talentos floresçam. Um exemplo claro é o Jimmy Butler, o qual chegou como grande estrela e dono do time, mas vem se destacando justamente pelo trabalho no lado defensivo e como playmaker. Jimmy lidera o time e registra seus melhores números na carreira em assistências, com 6.8 por jogo, e tem sido cotado para os times de defesa da temporada.

Fastbreak: Spoelstra aliás tem sido meu palpite para COY nesse rumo da temporada. E sobre a defesa, é um time que tem crescido absurdos graças ao sucesso da sua defesa em zona (queridinha do Heat Portal), que tem explorado cada marcador em seu posicionamento mais confortável para executar a defesa, complicando as tentativas de mismatchs dos adversários. A comunicação tem sido muito efetiva e um fator determinante para o sucesso da equipe.

Comments: Defesa que une o útil ao agradável: a mente do Spoelstra e o físico extremamente favorável dos jogadores. Alguns mais versáteis, outros mais atléticos. Os arremessos dos adversários até acontecem, principalmente do perímetro, mas a contestação chega o mais rápido possível para cobrir cada zona. O Heat é o 8º que menos concede pontos na pintura e é o 3º que mais concede arremessos de 3PTS (e os adversários conseguem apenas 32.4% do perímetro, só o Denver Nuggets possui marca melhor). Em grande parte procura seguir essa lógica de defesa: tentar se proteger contra cestas fáceis no garrafão (embora ainda não tenha engrenado nesse aspecto), ceder e contestar os arremessos do perímetro.

Reparem nas movimentações da defesa; jogadores extremamente atentos em ocupar cada espaço e diminuir acesso ao garrafão e, ao aparecer a oportunidade de arremesso, correm rapidamente para contestá-los.

Heat Portal: É uma defesa muito versátil. Temos em Butler e Adebayo defensores do mais alto nível, Derrick Jones Jr. vem se destacando por ser muito longilíneo e atlético, facilitando as coberturas em zona, além de ter evoluído muito marcando no 1x1. Duncan é um cara que não se dava muito bem, mas que tem feito um excelente trabalho defensivo, principalmente nas dobras. No geral, é um time muito bem estabelecido defensivamente e os créditos devem ser dados ao Spoelstra e ao staff como um todo. O sucesso da defesa em zona minimiza os impactos do adversário no nosso garrafão, isso pôde ser visto claramente nas partidas contra o Grizzlies e contra o 76ers.

Fastbreak: E quando falamos sobre atleticismo, é necessário lembrar que o Heat é um dos times mais chatos com peso e condicionamento físico dos atletas. O time já tirou jogadores dos jogos por não atingirem o condicionamento físico ideal para o time (James Posey e Antoine Walker por exemplo). Fora ainda que o time cobra muita responsabilidade e profissionalismo dos atletas, sendo isso um dos principais pontos da chamada Heat Culture, que gerou um desejo vencedor e de total entrega em seus jogadores, visto isso na defesa principalmente.

Comments: Dion Waiters que o diga. O trabalho disciplinar é tão bom quanto o de desenvolver e encaixar atletas, sabendo usá-los da melhor maneira possível. Um grande exemplo é o Tyler Herro que está tendo uma temporada bem acima do esperado. São quase 14 pontos de média e 37.8% de aproveitamento do perímetro (5.3 tentativas). É uma das armas do time em catch-and-shoot (embora ele use mais pull-ups) com 50.5% FG nesse tipo lance que muitas vezes vem de passes de Bam Adebayo.

HERRO FOR THREE!

Heat Portal: Tyler tem surpreendido muito, até mesmo os torcedores mais otimistas. Nas últimas semanas, com a lesão do Dragić, ele atuou como o principal armador vindo do banco e demonstrou muita qualidade passando a bola, além de uma maturidade acima da média na tomada de decisão. Foi capaz de pontuar não só com o seu arremesso calibrado, mas também atacando o aro. Destaco em especial a partida contra o Chicago Bulls onde ele converteu 4 bolas de 3 no clutch time e a difícil partida contra o 76ers, onde distribuiu 7 assistências e flertou com o triplo-duplo.

Fastbreak: Tyler era um dos meus sonhos pro Thunder no draft e ver ele tão bem utilizado no Heat me deixa bem feliz também. Herro é bem maduro e já chegou com muita prontidão na liga, conseguindo ser muito inteligente especialmente no posicionamento, em que ele consegue se mover bem em busca de wide opens no perímetro ou até mesmo em situações de posicionamento para rebote e rotação de bola. Jogador modelo nessa geração de SG’s cada vez mais gatilhos na liga.

Comments: Os gatilhos que o Heat ama usar. A movimentação sem a bola para gerar arremessos, com Bam Adebayo para distribuir no topo do garrafão muitas vezes procurando Nunn, Herro ou Duncan. Embora não seja a equipe que mais busca o catch-and-shoot (12º em arremessos de quadra e 13º do perímetro), é a que tem o melhor aproveitamento em arremessos de quadra nesse tipo de arremesso (é vice-líder do perímetro).

Foto: Reprodução/NBA Stats | Shotcart do Heat na temporada (atualizado 25/12). Reparem nos aproveitamentos no arco mais externo, as três áreas possuem porcentagens maiores que a média atual da liga.

Heat Portal: Bam tem sido um pilar ofensivo nesse time, tem sido muito agressivo e é um dos melhores bigs da liga passando a bola. As jogadas de give and go e os handoffs têm sido uma ótima ferramenta para criar bons arremessos. Tudo isso é facilitado pelo fato de termos um dos melhores caras atacando o aro na liga no Jimmy Butler, 3 pontuadores muito versáteis em Herro, Dragic e Nunn, e um gatilho do perímetro com o Duncan. É um ataque muito dinâmico e versátil, lembra um pouco o que vemos no Denver Nuggets.

Um infiltrador de elite (Butler) e arremessadores de rápida execução: +3 PTS!
O ‘handoff’ a partir de Bam Adebayo é uma das importantes armas de ataque do Miami Heat. Robinson, um dos melhores do time em catch-and-shoot, participa com ele do lance. Mas essa cena também é muito comum com os demais arremessadores mais consistentes.

Fastbreak: A mobilidade e o playmaking do Bam me lembram muito o Draymond Green no Warriors do 73–9! A rotação de bola funciona muito melhor com a participação do Bam e o próprio Adebayo chama muito a atenção pela ousadia e inteligência para ajudar o time ofensivamente e é muito versátil defensivamente. Ao meu ver, tem sido mais FP que o Butler nesse ano, fora que até o momento ele é o meu MIP!

Comunicação entre Nunn e Adebayo, unidas a movimentações sem a bola. Nunn e Robinson geram alternativas e … BINGO: passes nas costas da defesa para o Nunn.

Comments: Adebayo é top-5 do time em passes por jogo e, em relação aos passes totais realizados, possui a segunda maior frequência de origem dos passes (14.7% das vezes o passe vem do Bam), e perde apenas para o Butler nesse quesito. Extremamente participativo. Apenas Jimmy e Dragić tem média de assistências superior, e apenas Nikola Jokic possui maior média de assistências do que Bam entre os pivôs da liga.

Pela falta de um arremesso consistente de média distância, é bastante comum ver Bam Adebayo recebendo essa liberdade do pivô adversário. O Heat aproveita o tempo para realizar diversas movimentações sem a bola, seja para criar um corte em direção à cesta (como é o caso) ou para criar arremessos do perímetro. Bam possui criatividade suficiente para achar esses passes.

Heat Portal: E por falar em Dragić… o esloveno vem fazendo uma temporada espetacular. Assumindo o papel de Dwyane Wade, o veterano vem liderando a segunda, entrando sempre muito agressivo e ditando o ritmo de jogo. Aliás, mesmo aos 33 anos, o melhor esloveno da NBA mostrou alguma evolução. Seu arremesso do perímetro tem sido bem mais consistente e seu aproveitamento é o melhor da carreira (41%) mesmo com um maior volume de arremessos. É uma das peças chaves desse elenco e é muito importante que permaneça saudável para os playoffs.

Fastbreak: Dragić é aquele cara do pass first clássico, ditar o jogo é um mantra pra ele. Sabe acalmar bem as posses e é um exemplo para a juventude do Heat, pois tendo Dragić como mentor, perceberão como não serem precipitados nas escolhas e como a pressa pode ser inimiga da perfeição em diversos momentos! E bom, perfeição não tem sido o adjetivo para o garrafão do Heat, principal problema do time na temporada.

Comments: Como falado anteriormente, uma das estratégias do Heat é proteger o garrafão, para impedir cestas fáceis, e ao mesmo tempo estar apto para contestar a grande quantidade de arremessos vindos do perímetro. Entretanto, a proteção ao garrafão ainda não se encontra ideal. Apesar de estar no top-8 em menos pontos sofridos na pintura, eles também estão em 14° em mais pontos sofridos de segunda chance, um valor mediano considerando os 30 times da liga. Fatores que os levam muitas vezes a sofrerem com infiltrações e, por sinal, são a nona equipe que mais permite lances livres por partida, ao passo que são a quinta que menos realiza blocks por jogo.

Garrafão sendo atacado a partir de um simples screen do Gobert.

Heat Portal: Realmente o garrafão tem sido um ponto vulnerável. É um elenco profundo, mas que conta com pivôs tidos como “softs”, fato o qual dificulta o sistema defensivo contra times com garrafão forte, como é o 76ers. Muitas vezes faz-se necessário uma dobra de marcação, o que resulta no famoso “cobertor curto” e cestas fáceis para o adversário. Mas no geral, o time vem se comportando muito bem e o Spoelstra tem feito um temporada digna de COY. A Locomotiva da Flórida, como eu apelidei a equipe, vai dar muito trabalho e ainda há muito espaço para evolução. O torcedor pode ficar muito animado, porque o futuro da franquia é muito promissor!

Fim de conversa, fim de análise. Agradecemos a todos que chegaram até aqui! Sigam os perfis no Twitter (links no segundo parágrafo) e até a próxima :)

Nota: dados estatísticos colhidos do Basketball-Reference e do site oficial de estatísticas da NBA; valores atualizados até o dia 23/12/2019.

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