Museu do Holocausto em Curitiba
Mesmo tendo acontecido há tanto tempo, não existe maneira de esquecer o genocídio do holocausto e o museu de Curitiba está disposto a manter as lembranças ainda acesas
Giully Regina
No Centro Cívico de Curitiba, há algumas ruas da prefeitura, em um complexo com diferentes prédios, está localizado o Museu do Holocausto de Curitiba. O único museu em todo o Brasil destinado a lembrança de um dos maiores genocídios da história.
Para entrar no museu é necessário passar por uma portaria, acompanhar os seguranças e até passar por um detector de metais. São as normas de segurança do conjunto de instituições onde está abrigado o museu.
Depois da passagem ainda é necessário descer alguns degraus até chegar ao museu. Nas paredes estão pinturas e esculturas — tudo relacionado a Segunda Guerra. No final da escadaria estão alguns bancos, como um jardim, e ao fundo uma frase de Anne Frank — “Apesar de tudo, ainda acredito na bondade humana”. Anne manteve um diário na época da guerra, quando sua família se manteve em um esconderijo por mais de dois anos.
Dentro do museu o visitante encontra primeiramente uma cronologia desde o final da Primeira Guerra Mundial, quando a Alemanha perdeu e entrou em uma crise econômica, até a libertação dos campos de concentração por soldados americanos. Explicando como Hitler chegou ao poder, e até quando o primeiro campo de extermínio foi instalado.
A primeira área já chama atenção. É a réplica de um vagão de trem. Com malas de um lado e do outro, pequenas telas mostrando pessoas entrando em trens. Os trens eram o meio de transporte utilizado na época para levar as minorias étnicas para campos de concentração. Muitas pessoas acabavam morrendo durante a viagem.
O ambiente é divido, e cada parte existe uma explicação e uma numeração, ainda seguindo a cronologia dos eventos. É escuro, com alguns pontos de iluminação sobre peças fundamentais do acervo, como uma pilha de livros que foram considerados impróprios para a sociedade e foram queimados em praças públicas. Existem também diversas telas interativas, como por exemplo o mapa de guetos da Polônia, e também as rotas migratórias para a América do Norte, América do Sul e África.
Todo o acervo mexe com o emocional do visitante. São contadas histórias dentro de cada objeto. Alguns passaportes e documentos estão dispostos em caixas de vidro, e cada um possui uma opção de áudio para que a história daquela pessoa seja ouvida.
O coordenador geral do Museu, Carlos Reiss explica que o museu não pretende passar dados e estatísticas sobre o holocausto, porque as pessoas conhecem a história. O que se pretende passar é um lado humanizado da história. Pensar em cada pessoa que se viu naquela época de horror.
“O holocausto são histórias que tem a ver com a humanidade, e a partir disso temos como tirar lições, como tolerância, respeito, diversidade, equidade e vida”, explica. É um museu para falar sobre a vida. Carlos também conta que é importante fazer com que o visitante entenda isso como parte de sua história, mesmo que não tenha uma conexão direta com os sobreviventes. “Foram seres humanos contra seres humanos.”
A partir dos valores que são repensados dentro do museu, observando todos os objetos e tendo contato com todas as histórias, é possível perceber que existem pequenas atitudes todos os dias que repetem, em pequena escala, o que aconteceu naquela época. Seja com o bullying, o preconceito, a intolerância a diferenças. Tudo isso acontece ao nosso redor o tempo todo, e o museu relembra o que pode acontecer quando essas pequenas atitudes acontecem em larga escala.
O Museu do Holocausto foi inaugurado em 2011, mas é um sonho antigo de seus idealizadores. Foram anos de planejamento e dois recolhendo material para o primeiro acervo, que veio de doações de outras instituições mundiais ligadas ao holocausto. Depois da inauguração, várias famílias contataram a coordenação para doar documentos, fotos, vídeos. A maior parte desse material ainda está sendo catalogado, e segundo Carlos, apenas 4% de todo o material está exposto.
Débora Aline do Nascimento visitou o museu junto com sua sala do cursinho pré-vestibular, e conta que foi surpreendida: “Fui na curiosidade de saber mais sobre o holocausto, mas lá a gente ouviu falar histórias de pessoas que passaram por aquilo, que sofreram e fugiram… Foi muito emocionante”. Débora ainda define a experiência como única, além de emocionante.
Quando excursões escolares chegam para a visita, cada aluno recebe um ‘Cartão de Identificação’, que imita um passaporte. Na parte interna existem dados de um jovem e sua história no holocausto. A cada final de página é indicado em qual ambiente deverá ser lido a próxima página. Cada aluno recebe um perfil de uma pessoa diferente. Mas ficam cientes que são histórias reais.
Mais importante do que conhecer a história, saber onde começou e o que aconteceu durante o holocausto, é preciso lembrar que foram pessoas, como nós, que viveram em condições terríveis e foram mortas em campos de concentração. O museu do holocausto de Curitiba, não vai nos deixar esquecer de nenhuma dessas pessoas. Suas histórias estão por todos os lados, em cada parede do museu. E cada visitante levará uma parte consigo.