O Budismo e a busca pela iluminação

Uma Questão de Fé
Uma questão de fé
5 min readJun 14, 2017
No Budismo, busca-se o estado da iluminação para purificar os carmas. (Foto: Pixabay)

Por Karoline Mokfianski

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O budismo é uma prática religiosa — e também uma filosofia de vida — que surgiu na Índia com os ensinamentos de Buda, nome dado ao príncipe indiano Siddhartha Gautama, após ter atingido o estado chamado de iluminação. Nasceu em meio à antiga tradição hindu, mas rompeu e se transformou em algo muito mais racional e intelectual. Mais tarde, passou a se dividir no que chamamos de vertentes ou escolas, que são duas:

1. Theravada: é mais antiga escola budista existente e a que mais se aproxima da tradição iniciada por Buda; predomina no Sri Lanka e em boa parte do Sudeste Asiático.

2. Mahayana: significa “o caminho da busca da iluminação para o benefício de todos os seres”; se espalhou da Índia para países como China, Japão, Coréia, entre outros. Dentro da escola Mahayana existem sub-escolas, como a Terra Pura, a Vajrayana — que, às vezes, é vista como uma terceira escola — (classificação do budismo tibetano e de algumas escolas japonesas), o Budismo Zen e o Nichiren.

Confira uma experiência na meditação para iniciantes da Comunidade Zen-Budista de Curitiba.

Conheça a prática do Budismo de Nichiren Daishonin em Curitiba.

Apesar de ser dividido em diferentes escolas e linhas, o Budismo tem como prática central a meditação, que serve como base para a familiarização e o entendimento sobre a própria mente. Porém, o que mais atrai os praticantes para a filosofia budista é o fato dela não girar em torno de um deus ou de divindades, ou seja, é não-teísta, fato este que divide muitos especialistas na hora de discutir se o Budismo é uma religião ou uma filosofia.

Para Joachim Andrade, doutor em Ciências da Religião, podem haver dois pensamentos: o que entende que o Budismo é uma filosofia por não acreditar em Deus. “Quando você está sofrendo não existe ninguém para pedir ajuda. Quem existe é só você mesmo. Você utiliza toda a sua racionalidade e começa a descobrir as causas dos problemas”, explica. Por outro lado, existe a uma contradição, principalmente na prática tibetana, em que se realizam rituais religiosos, como os de sentar em frente à um altar e acender incensos.

“O budismo autêntico, que Buda trouxe, é uma filosofia, mas a corrente tibetana está misturada, pois pratica rituais”. — Joachim Andrade.

Praticar sempre o bem, não prejudicar ninguém e conhecer e controlar a própria mente são as principais lições do Budismo. Tal controle sobre a mente se faz necessário para atingir o Nirvana, que é uma realidade superior que todos almejam, obtendo o fim do ciclo de sofrimento, que é chamado de Samsara. A condição do Nirvana permite a qualquer pessoa chegar a um estado de profunda iluminação, tendo acesso à felicidade completa e à liberdade da alma.

A meditação é essencial para atingir a iluminação. (Foto: Pixabay)

“Você está preso, sua condição humana está presa devido ao desejo, e esse desejo te prende aqui na terra. Agora quando você começa a se libertar dessas amarras que foram criadas pelo desejo, pelo apego, você cai fora da roda, você atinge o Nirvana”, explica Andrade. “Você se libertou de todas as amarras, você não vai mais renascer. Enquanto você tem amarras você vai renascendo, renascendo, renascendo, até que você desgrude delas totalmente”, completa.

Os budistas acreditam no carma, isto é, que toda ação tem uma consequência e ela pode ser positiva, negativa ou neutra. É a lei da causa e do efeito, em que uma pessoa pode ter qualquer ação ou pensamento, mas aquilo voltará para ela de alguma forma. Por isso, práticas como a da meditação são importantes para essa tradição, já que só assim os budistas poderão atingir o estado de iluminação e purificar o carma.

A tradição budista também acredita em reencarnação e ela está ligada ao carma, de forma que se uma pessoa colecionou carmas positivos durante a existência, então ela renascerá em um reino superior, mas se seus carmas forem negativos, o renascimento será em um reino inferior. Porém, o ser que atingir a iluminação poderá decidir se irá mesmo renascer e como isso ocorrerá.

Em relação a questões consideradas polêmicas pela sociedade religiosa, como os homossexuais, Joachim Andrade diz que o Budismo não trata do assunto diretamente, mas que sempre prega a compaixão. “Eu não encontrei a princípio nas minhas leituras atitude em relação aos homossexuais, mas com certeza a tradição budista coloca ter compaixão”, diz.

“A pessoa está no processo de crescimento, temos que ter a compaixão, a partir da compaixão para com o outro você elabora seu conteúdo”. — Joachim Andrade

Confira os centros de práticas budistas existentes em Curitiba e colabore com o mapa.

Afinal, quem é Buda?

Buda foi um príncipe indiano que largou tudo para buscar a paz verdadeira. (Foto: Pixabay)

Buda não é um ser divino e nunca tentou pregar uma fé ou converter as pessoas, mas usou sua sabedoria e seu estado de iluminação para passar ensinamentos e mostrar caminhos. Os primeiros ensinamentos dele, que serviram de base para os que vieram a seguir, são chamados de As Quatro Nobres Verdades e formam a essência da filosofia budista, sendo um passo a passo para treinar a mente e alcançar a iluminação.

A primeira nobre verdade diz que devemos entender que nada dura para sempre e que a vida é sofrimento, deixando claro a existência dele. Na segunda, Buda ensinou que todo sofrimento possui causas e devemos e devemos saber a origem dele. A terceira verdade diz respeito à cessação do sofrimento, ou seja, que existem maneiras de acabar com o ciclo desse sofrimento e Buda ensinou quais são elas: a sabedoria, a ética e a meditação. Na quarta verdade, depois de se compreender qual é o sofrimento, sua causa e as maneiras de cessá-lo, é preciso colocar em prática os meios que levarão ao estado de iluminação.

“Buda se preocupou com a condição humana”. — Joachim Andrade

Buda nasceu no Nepal como um príncipe indiano pertencente à família real dos Sákyas e seu nome era Siddhartha Gautama. Vivia cercado por luxo e conforto, em meio à fortuna da família, mas abandonou tudo para ir em busca da paz verdadeira e buscando o sentido da vida, após perceber que toda aquela riqueza não o traria felicidade.

Siddhartha partiu para um retiro e adotou várias práticas, inclusive o jejum prolongado, que quase o matou de fome. Percebendo que não teria benefício algum, ele passou a meditar e após vários anos atingiu o estado de iluminação, purificando sua mente, abolindo as negatividades e compreendeu o ciclo de sofrimento, isto é, o Samsara.

“Ele nasceu hindu, príncipe e rompeu com a tradição hinduísta, rompeu com a tradição de reinado e assumiu uma vida cética para propagar a doutrina de libertar as pessoas do sofrimento”, explica Joachim Andrade.

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