No meio do caminho, detalhes

Gabi Bertoni
Uma vida heliotrópica
3 min readMar 24, 2021
Foto: Pexels

“E agora, você já está de quanto tempo?” Meu cérebro se esforça toda vez que alguém me pergunta isso pois preciso converter semanas em meses. Quatro, oito, doze, dezesseis, vinte. Vinte semanas, cinco meses. “Estamos de cinco meses”, respondo, logo depois de fazer essa micro conta mental. Sempre achei curioso o fato de uma gestação ser contada em semanas e não meses e de repente você está grávida e descobre que toda a magia envolvida nesse lance de gerar outra vida está escondida em minuciosidades como essa. Ah, e não estamos apenas de vinte semanas, mas de vinte semanas e dois dias, porque os dias também importam. Viu só? Os detalhes.

Algo grandioso é sempre composto por uma junção de miudezas. Se não nos atentamos a elas, perdemos a dimensão de quão boa — ou ruim — a situação em si pode ser lá na frente. Trazer alguém ao mundo é um acontecimento extraordinário, mas, enquanto esse momento não chega, tento me esforçar para prestar atenção em tudo, tim-tim por tim-tim.

Ao longo dos últimos meses, percebi que existem momentos específicos que me causam choques de realidade. Alguém aí pode estranhar o que vou dizer, mas às vezes esqueço que estou grávida. Os enjoos sumiram, as dores de cabeça também, a constipação foi embora e a barriga está começando a aparecer só agora. Não há nada de concreto que, de fato, me lembre a todo momento: “Ei, tem uma vidinha extra aí dentro”.

Ultrassonografias e batimentos cardíacos compõem o top dois dessa listinha, mas ontem descobri que vem aí o terceiro elemento que talvez me lembre com mais frequência que sim, estou grávida. Deitamos para dormir e, de barriga para cima, senti algo como se fosse uma onda, misturado com um mini choque, quase no pé da minha barriga. Até então tinha sentido coisas, mas sempre confusa entre as possibilidades de um bebê dando cambalhotas ou gases. Eis que, na verdade, sim! É meu filho se mexendo!

Envelopada em uma mistura de sensações diárias, noto a cada dia que a contemplação do que acontece, tanto em nosso interior, quanto ao nosso redor, pode trazer à tona o encanto e a grandeza das coisas. Longe de mim romantizar azias, dores nas costas, oscilações de humor e inchaços. Mas sinto que ao me deixar notar e acolher o que estou percebendo, é como se, de pouquinho em pouquinho, eu amparasse o desabrochar da singularidade de me tornar mãe.

Na ânsia de gerar conexão com essa nova realidade, aos poucos a ficha vai caindo e, dia após dia, me dou conta de que meu corpo se fez casa. Se fez templo. Se fez lar. Valorizo cada detalhe para não perder a intensidade da vivência e assim vou seguindo. Se esse “é só o começo”, como costumo ouvir por aí, mal posso esperar pela continuidade dessa caminhada. Na barriga, um bebê. Na mente, expectativas. Na alma, confiança. E no coração, amor. Muito amor. Já é amor antes de ser. Que doido isso, né?

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