Um time de dois

Gabi Bertoni
Uma vida heliotrópica
3 min readJun 28, 2021
Foto: Arquivo Pessoal

Vira e mexe, durante a nossa rotina que tem sido mais pacata do que agitada, me pego em algum momento específico do dia pensando “que bom que casei com esse cara”. Recentemente, completamos oito anos juntos, mas, dividindo o mesmo teto, durante uma pandemia, são apenas 521 dias.

Apenas 521 dias. Parece pouco, mas vale lembrar que quase a totalidade desse período foi preenchida com o plus de uma convivência de 100% das 24 horas que um dia tem. Nós dois, em casa, o tempo todo, incluindo finais de semana, dias úteis e horário comercial. Café da manhã, almoço, jantar. Primavera, verão, outono e inverno. Eu e você.

Sabe, preciso dizer que te amar no começo foi fácil. Juventude desenfreada, paixão avalassadora, muito agito e uma sede imensa de desfrutar tudo o pudéssemos um ao lado do outro. Hoje vivemos praticamente o extremo oposto e acho minimamente curioso como segue sendo fácil te amar. A juventude já não é mais a mesma, o agito muito menos, a vontade de abraçar o mundo com as pernas tomou outro rumo e aquela paixão maluca foi embora, dando lugar a um sentimento muito mais consistente, estável e sereno.

“Você só conhece, de fato, uma pessoa quando mora na mesma casa que ela.” De tanto ouvir isso, me peguei diversas vezes pensando sobre como seria nossa vida dividindo o mesmo teto. Se você deixaria a toalha molhada em cima da cama, se minha mania de limpeza seria um problema para nós ou se você saberia lidar com meus momentos mais enigmáticos.

Acontece que, embora você não deixe a toalha molhada em cima da cama, o dia da limpeza não seja um problema e você saiba encarar com certa tranquilidade meus instantes espinhosos, eu tinha medo de o que o convívio em excesso poderia nos trazer. A solitude tem tantos pontos positivos que o receio de nos perdermos em meio a uma convivência massiva, nos distanciando de quem somos como casal e, principalmente, de quem somos individualmente, era grande.

Fui surpreendida de uma maneira tão positiva que, como disse no início, vez ou outra me pego agradecendo por termos escolhido um ao outro para dividir nossa caminhada.

Aprendemos a coexistir. Nos tornamos um belo time de dois, onde cada um sabe o seu papel, faz a sua parte e tudo sempre regado a muita risada, dancinhas e diversão. Porque assim que é dividir a vida com você: tranquilo.

A correria atrapalha a percepção das delicadezas rotineiras e só a pandemia foi capaz de colocar uma lupa sob as trivialidades da vida e mostrar as belezas escondidas por trás de cada uma dessas situações. Nosso time se formou de uma maneira tão natural e única que aprendi a transformar qualquer faxina, passeio com a Filó ou maratona de séries em momentos de extrema conexão.

Embora não seja um hábito expor isso frequentemente — erro meu, talvez — , todo dia, todo dia mesmo, eu agradeço ao Cara lá de cima por termos, juntos, encontrado um lugar de paz, de reciprocidade, onde podemos compartilhar sonhos e expor vulnerabilidades, sempre um pelo outro, assim como prometemos naquele 24 de janeiro de 2020.

Me tornei devota ao nosso amor e, com certeza, parte disso se deve ao que ganhamos como casal nesse tempo de intenso convívio. Dia após dia, evoluímos no aprendizado de como cultivar nosso casamento e sei que ainda temos muito a aprender pela frente. Há muito a evoluir e muita água para rolar debaixo dessa ponte. Reconheço a complexidade que existe por trás da aceitação, da compreensão, da paciência, da empatia e de tudo o que um relacionamento exige para funcionar bem. Mas, com esse textinho, eu queria apenas deixar claro e registrado como eu sou feliz ao seu lado. Como tem valido a pena dividir a vida com você. E como, nem por um segundo sequer, eu trocaria nossos momentos por qualquer outra coisa que fosse. Os dias passam, o tempo urge, e a liberdade de me prender a você faz cada dia mais sentido. Obrigada por ser a minha dupla, meu par, e o complemento do meu time. Do nosso time de dois.

Casa comigo? ;)

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