Yoga: Minha primeira vez

Gabi Bertoni
Uma vida heliotrópica
3 min readNov 9, 2020
Foto: Cottonbro/Pexels

Nunca fui uma pessoa ansiosa, mas sim afobada. O futuro e as possibilidades que ele reserva não são coisas que tiram minha paz de espírito, mas sempre quero resolver o presente o quanto antes. Alguns chamam isso de praticidade e confesso que demorei a enxergar e concordar, mas, de fato, sou uma pessoa prática. Riscar metas cumpridas é uma de minhas grandes satisfações de vida e graças a isso me tornei a doida das listas de afazeres. Rainha das planilhas, embora eu não saiba muito bem somar colunas no Excel até hoje — ‘Pacote Office Avançado’ no currículo talvez tenha sido um exagero, risos — , dou sempre um jeito de anotar meus objetivos, pequenos ou não, e vou ticando as pendências que imponho até alcançar cada um deles. Vários dão errado, claro, e quando isso acontece eu apenas lamento e sigo o baile.

Como todo e qualquer ser humano que habita este planeta, costumo pré-julgar assuntos sem dar a chance de compreende-los previamente e assim foi com o yoga. Apegada ao fato de nunca ter sido um ser humano ansioso, como mencionei acima, criei obstáculos mentais sutis para todas essas paradas consideradas “zen demais” e segui com esse cabresto até então. Idiota, né, eu sei.

“Monótono demais para mim.” “Prefiro algo mais animado.” “Deve dar sono.” “Minha mente já está em paz.” E assim eu pensei ao longo de toda a minha vida, até semana passada, quando decidi abrir uma matéria sobre mindfulness e ler de maneira mais receptiva que arbitrária. Estado de atenção plena, focando intencionalmente no momento presente. Grosso modo, isso é o mindfulness, mas o que me chamou a atenção foi o yoga estar entre as possibilidades de exercícios praticáveis para atingir esse estado da mente. Curiosa que sou, pensei: chegou a hora, vou atrás. Joguei no Google: “Aulas de Yoga, Zona Sul, SP.” Encontrei um lugar perto de casa, agendei a experimental e fui.

Parado demais, sim. Não me surpreendi por isso, pois já esperava. Qualquer rata de jump, spinning e fit dance como eu possivelmente teria tido a mesma sensação. A surpresa veio depois.

A cabeça hoje em dia vive tão cheia de coisas que quase nunca paramos para prestar atenção em nosso entorno, ou até mesmo dentro de nós. Afobada que sempre fui, com o passar dos anos aprendi que os momentos de calmaria têm muito mais a me ensinar que os de agito, e foi assim que criei uma relação muito prazerosa com o silêncio.

Normalmente, costumamos ouvir nossos corpos somente em momentos de dor. Enquanto tudo segue dentro dos conformes, não paramos para considerar cada parcela que compõe nosso todo e foi isso que mais me chamou a atenção envolvendo o yoga: combo quietude + percepção corporal.

A administração da respiração, o controle dos pensamentos e a noção do limite de cada movimento que é feito. Por 50 minutos, você se esforça para se concentrar somente em suas próprias engrenagens, e achei isso fantástico! Gerar consciência em torno dessa orquestra corporal me trouxe uma sensação de satisfação imensa por tudo o que pude notar durante aqueles instantes.

O mundo está tão doido que investir em práticas que retardem, ou até evitem, o surgimento de disfunções, sejam elas físicas ou mentais, deveria ser algo para se levar em conta. Religiões, crenças e o exercício da fé de algum modo desempenham um papel importante nesse processo, mas por que não junta-las a uma atividade que contribua positivamente?

Se a pandemia me ensinou alguma coisa ao longo desses quase oito meses, certamente um dos aprendizados envolve a importância da conscientização da vivência. E com essa experiência constatei que a autopercepção provocada pelo yoga pode ser tão benéfica para a saúde quanto uma longa, profunda e intensa oração.

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