As ovelhas da revolução brasileira
Em “A revolução dos bichos” (George Orwell), assim que tomam o controle da fazenda, os porcos criam um conjunto de leis que determina como os animais devem se portar dali em diante. Eles então resumem sua Constituição anti-humanos à máxima “Quatro pernas bom, duas pernas ruim!” para que os animais com inteligência limitada pudessem decorar o que os porcos consideravam ser o ponto mais importante da sua revolução.
O pequeno lema foi adotado especialmente pelas ovelhas, que, sem entender bulhufas do que estava acontecendo, só conseguiam se incluir no debate político repetindo constantemente: “Quatro pernas bom, duas pernas ruim!” Os porcos, obviamente, treinaram-nas para que servissem como “voz do povo”, assim, sempre que surgia qualquer questionamento interno, entravam em cena as ovelhas adestradas.
No livro de Orwell, os porcos, inicialmente parceiros dos demais animais na luta contra os humanos, foram lentamente ocupando o lugar deixado pelos antigos mestres: dormem dentro da casa, usam roupas e, por fim, começam a caminhar sob duas pernas. O lema então é transformado em “Quatro pernas bom, duas pernas melhor!” e ensinado às ovelhas, que se encarregam de continuar representando seu papel de quem não entende nada, só reproduz.
Ao longo dos últimos dias, assisti a vários vídeos retratando os protestos de oposição pelo Brasil e notei que sempre que são confrontados por perguntas simples, como “Quem seria melhor que a Dilma na Presidência?”, os manifestantes prontamente entoam os gritos-padrão de “Fora PT”, como se isso resumisse tudo o que estão buscando nessa luta genérica pelo fim da corrupção. Inclusive, o refrão inacreditavelmente foi usado para expulsar da Avenida Paulista o líder do Revoltados Online — até então um dos mentores desse movimento.
Como resultado da Revolução dos Bichos, a fazenda acabou sob comando de porcos que se importavam ainda menos com os animais do que os humanos. Fico me perguntando quem as ovelhas brasileiras estão ajudando a colocar no poder.
