Cristiano Araújo e os nossos rolezinhos
Há duas semanas, rolou um debate no Entusiastas da Social Media em torno da campanha do McDonald’s com Lucas Rangel. A pessoa que repercutiu a ação fazia uma crítica bem humorada ao vídeo da rede de restaurantes: “Pessoal fazendo super produções para os vídeos e o Mc faz simples assim!” O Entusiastas é um grupo no Facebook com mais de 17,6 mil membros que, segundo sua própria definição, foi criado “para debates sobre mídias sociais e assuntos que permeiam o tema”. São pessoas que, como eu — por ser jornalista de tecnologia -, acreditam que de alguma forma podem influenciar o dia a dia de quem acessa sites como o próprio Facebook, o Twitter, Instagram etc.
Naquele dia, boa parte da conversa se desenvolveu em tom de surpresa, porque muita gente ali não fazia ideia de quem é Lucas Rangel, que dirá que ele faz um sucesso estrondoso no Vine, uma plataforma de vídeos na qual só é possível fazer postagens de até seis segundos. O Lucas tem 1,2 milhão de seguidores no Vine, mais de 725 mil no YouTube, 1,2 milhão no Instagram, 888 mil no Twitter e 916 mil no Facebook (onde conta com outros 1,6 mil amigos). Falando a tanta gente, o garoto tem mais audiência do que o pessoal gostaria de ter lá no Entusiastas (me incluindo), e mesmo assim passava despercebido a ponto de se questionar o que uma figura como essa fazia naquele vídeo simplíssimo que divulga uma das mais ricas marcas do mundo.
A espera finalmente acabou: os Minions (e o Lucas Rangel) chegaram ao McDonald’s! #MinionsNoMcDonalds
Posted by McDonald’s on Monday, June 22, 2015
Eu pensei muito nisso porque o caso do Entusiastas fala um tanto sobre a nossa arrogância enquanto formadores de opinião. Dois dias depois, morreu o cantor sertanejo Cristiano Araújo, que forçou veículos como El País e Estadão a publicar artigos repercutindo a formação de uma situação curiosa: se uma multidão de brasileiros se juntou para chorar a trágica perda de um ídolo, outra multidão tentava descobrir quem era e o que cantava Cristiano. Foi, inclusive, o combustível para Zeca Camargo escrever aquela crônica que soou tão corajosa quanto desrespeitosa (e também este texto).
#QuemÉZecaCamargo Pode isso?
Posted by Sertanejo Universitário on Monday, June 29, 2015
Algo muito parecido aconteceu entre o final de 2013 e o começo de 2014, quando o brasileiro descobriu o rolezinho. Cerca de 15 anos atrás, na minha adolescência, eu caminhava por três quilômetros com um bando de 15 moleques pra chegar ao Shopping Plaza Sul, na região da Saúde (SP), onde sem saber fazíamos o tal rolezinho. E com certeza não fomos os primeiros, mas mesmo assim é seguro dizer, segundo o que aconteceu há um ano, que o brasileiro médio viu aquilo como manifestação nova, um assunto para artigo na Wikipédia. Até alguém lembrar do Hiato, documentário sobre uma ocupação que a gente pobre fez num centro de compras do Rio de Janeiro nos anos 2000.
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Ontem, o BuzzFeed publicou uma lista de “15 sucessos gigantes que aparentemente todo mundo conhece menos você” que ilustra perfeitamente a fragmentação existente no Brasil. Cantores como Lexa, os MCs Gui e Biel, os sertanejos Gustavo Mioto; Henrique e Diego; Bruninho e Davi… quem são? Fora os aplicativos da lista e o Lucas Rangel, eu não conheço ninguém que o BuzzFeed colocou ali, mas essa galera tem públicos incrivelmente altos. Isso é sensacional, porque eu não sou o Brasil, eu sou só uma parte dele, eu e meus comparsas indie-rockeiros.
Aliás, se você pertence à mesma parcela que eu, é possível que tenha chegado até aqui sem se dar conta de que o cara da foto lá em cima não é o Cristiano Araújo, e sim o Luan Santana. Não, não é a mesma coisa.
O BuzzFeed também publicou o teste “Indie ou Sertanejo Universitário?”. É uma versão recente do site Hipster ou Cobrador?, ambos responsáveis por mostrar que, embora diferentes, ainda somos todos muito parecidos — o que já deveria bastar para que se eliminasse termos como “empobrecimento cultural”. No fim das contas, não passamos de um bando de brasileiros vivendo em vários brasis dentro desse país enorme. É bom frisar isso, porque o meu brasil não é melhor que o seu. É tudo Brasil.