Por que todos deveríamos ter 'pena de bandido'
Bandido bom não é bandido morto, bandido bom é bandido que deixa de ser bandido
Sempre que dá alguma merda em presídio, como está acontecendo neste momento, chove gente apontando o dedo na direção dos detentos, porque, como cometeram crimes, eles são os culpados imediatos por terem ido parar num inferno daqueles. Existe uma lógica nessa afirmação que faz sentido, a da causa e efeito. Mas a razão para por aí.
Presídio não deveria ser ambiente de tortura, e sim um complexo para privação de liberdade e ressocializacão. Afinal, a pena é de encarceramento e perder o direito de ir e vir é uma coisa horrível por si só, tanto que dentro dos presídios existem as tais das “solitárias”, que são locais de isolamento dentro do isolamento.
É óbvio que quem comete um crime é, numa análise simplista, superficial e generalista, responsável pelo próprio encarceramento, mas é dever do Estado garantir que esse seja o seu único castigo. Como o Estado não faz isso, pessoas que lutam pela garantia dos direitos humanos tentam intervir. Elas não estão lá "defendendo bandido", e sim a condição humana.
Ficar chocado com um acontecimento em que pessoas são mortas a golpes de faca e têm as cabeças arrancadas dos corpos não significa “ter dó de bandido”, significa ser sensível à barbárie. E se engana quem pensa que essa sensibilidade é exclusiva, eu também acho horrível quando um policial é assassinado, porque numa sociedade justa ninguém tiraria a vida de ninguém.
Reinaldo Azevedo, cujas opiniões batem com as minhas em 0,01% dos casos, explicou na última segunda-feira, 16, por que o Estado tem, sim, que indenizar as famílias de quem é assassinado dentro de presídio. E esclareceu, inclusive, que investir na dignidade dos internos faz bem à sociedade como um todo:
Sinceramente, não sei por que tanta gente fica feliz com esses eventos de carnificina, já que as religiões da maioria de vocês dizem que a única entidade que pode tirar vidas na Terra é Deus. Pela lógica, os “cidadãos de bem” deveriam ser os primeiros a se indignar.
