Quando filmes fazem amor com livros

Leonardo Pereira
Uma Pera
Published in
3 min readAug 4, 2014

Reclamar sobre adaptações cinematográficas de obras literárias é algo inevitável, porque todos nós estamos fadados a topar com um serviço mal feito que nos fará reclamar de todos os outros. O pior caso que eu já vi, o pessoal mesmo, é aquela porcaria sobre O Guia do Mochileiro das Galáxias que faria o Douglas Adams chorar sangue, se o autor já não tivesse morrido quando o filme saiu. Mas há, claro, o outro lado, e recentemente topei com três bons exemplos.

Blade Runner

Há poucos meses li Andróides sonham com ovelhas elétricas?, do Philip K. Dick, mestre da ficção científica que influenciou toda uma geração justamente por causa das inúmeras adaptações cinematográficas que ele inspirou. O Vingador do Futuro, Minority Report: A Nova Lei, O Pagamento, O Homem Duplo, O Vidente e outros filmes de sucesso só existem graças ao que Dick escreveu.

O que eu li dele, Andróides…, gerou o Blade Runner: O Caçador de Andróides. Dirigido por Ridley Scott, o filme parece uma tradução imagética do livro; é impressionante como as obras se encaixam, filme e livro parecem ter sido feitos juntos. Ainda mais porque a criação do Scott tem significados por todos os cantos, coisas que não poderiam ser feitas de forma escrita.

Laranja Mecânica

O outro exemplo é o fodíssimo Laranja Mecânica, do Anthony Burgess, que depois virou filme homônimo dirigido pelo Stanley Kubrick. O curioso aqui é que o filme foi baseado num crime cometido pelas editoras americanas, que cortaram o último e mais importante capítulo do livro sob alegação de que o final escolhido por eles, e não o do Burgess, era melhor. Assim, o Laranja Mecânica do cinema termina de forma completamente diferente do Laranja Mecânica da livraria — ao menos no Brasil, onde a obra é vendida completa.

Só que o filme é ótimo e, de fato, o penúltimo capítulo também serve como final, embora não seja realmente o final da história original. É maluco isso, mesmo que se discorde do que os americanos fizeram, não há como depreciar o trabalho do Kubrick, até porque o cenário que ele criou dá um significado muito mais impressionante à trama. Ainda prefiro o final do Burgess, mas o filme é bom demais.

Bonequinha de Luxo

Por fim, Bonequinha de Luxo, conto do Truman Capote que também deu num filme homônimo. Dirigida por Blake Edwards, a obra é daqueles clássicos com significado, neste caso por ajudar a impulsionar uma revolução em termos de moda feminina. Boa parte disso porque Edwards brigou com Capote para manter Audrey Hepburn no papel principal, já que o autor queria porque queria Marilyn Monroe.

Não sei como seria, mas simplesmente não consigo imaginar Marilyn como Holly Golightly, que ficou tão caracterizada pelo “pretinho básico” da Audrey. No Brasil o conto foi publicado num livro com outras três histórias curtinhas (Uma casa de Flores, Um violão de Diamante e Memória de Natal) e merece ser lido tanto quanto o filme merece ser visto, e o trabalho de adaptação cinematográfica ficou excepcional.

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