Ser homem às vezes é uma bosta

Leonardo Pereira
Uma Pera
Published in
3 min readMay 26, 2017

Homens têm um problema muito sério com comunicação, e isso faz com que seja bem difícil conversar com outro homem sobre trivialidades sem cair em redundâncias, generalizações baratas e machismo.

Por exemplo: homem nenhum conversará sobre depilação íntima. Você jamais saberá se seu amigo mais próximo prefere raspar tudo, dar só uma aparadinha superficial com a tesoura, fazer alguma espécie de desenho, se ele depila a bunda também ou só o pênis e o saco…

Na adolescência, apesar de ter cansado de ver homem depilado em filme pornô, eu nunca tinha pensado em copiar aquilo até que um amigo da escola — sei lá como chegamos ao assunto — disse que fazia o mesmo. “Parece que o pau cresce”, comentou ele; faz tempo, mas eu lembro. Todo mundo aloprou o carinha (eu também, possivelmente), mas quando cheguei em casa fui ver como ficava — e parece mesmo que cresce, é impressionante.

Você também nunca verá uma roda com amigos trocando experiências sexuais construtivas. É sempre peguei ela de quatro, comi o cuzinho, coisas assim. Ou então a conversa se baseia em critérios quantitativos: comi uma, comi duas, aquela, a outra e a amiga já deram pra mim.

Homem não fala muito daquilo que soe delicado, então você dificilmente ouve um de nós comentar sobre como adorou passar quarenta minutos fazendo sexo oral na garota que conhecera algumas horas antes dentro da balada. O sujeito pode até ter feito o investimento, mas só o que ele vai dizer aos amigos é que comeu uma mina X. Se bobear, ainda ressalta quão fácil foi levá-la pro motel.

Certa vez, uma página de humor no Facebook postou uma piada sobre a famosa "última gota" — você sabe: o lance de que, mesmo se o cara passar meia hora chacoalhando o pênis depois de urinar, nunca será o suficiente, porque a última gota vai parar na cueca. Fui olhar os comentários e tinha um sujeito dizendo que, para evitar a situação, basta limpar o pênis com papel higiênico. Foi o suficiente para que todos os demais zoassem o cara; os poucos comentários favoráveis vinham de mulheres.

E AI DO HOMEM QUE MIJA SENTADO!

Veja bem: se o homem, por pura curiosidade, resolver se dar uma dedada, essa será uma informação jamais compartilhada com outra pessoa; nem o melhor do melhor dos amigos saberá, homens nunca puxam assuntos do tipo: "E aí, você já experimentou pra ver como é?" Inclusive, o momento mais temido da vida masculina é quando tem que fazer o exame de toque — um absurdo, né? Outra pessoa enfiar o dedo no seu ânus. Aliás, qualquer coisa no ânus é um absurdo, porra, que ânus o quê, é cu. Ânus quem fala é mulherzinha.

Homem é isso aí. Na ânsia de manter uma áurea de machão, a gente se isola. Ninguém quer saber da intimidade alheia, ninguém se importa com nada, ninguém toca em assunto delicado — aliás, "toca" não, ninguém toca em nada aqui, caralho.

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