Sobre o direito de curtir o que quiser no Facebook

Leonardo Pereira
Uma Pera
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3 min readNov 6, 2015

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A internet não está ficando chata, são as pessoas que ficaram mais chatas depois de descobrirem que podem receber afagos em seus egos dependendo do que publicam na rede. E, como é bem mais fácil ser elogiado por quem já concordava com você, muita gente decidiu que é melhor não ter contato com os que pensam de forma diferente.

Avisos de unfollow não são novos, eu mesmo cansei de tornar públicas decisões de excluir algo da minha vida digital. Mas eu tenho uma política pessoal que tenta restringir esse tipo de exposição a empresas. Se me lembro bem, da última vez em que fiz isso foi para criticar o Terra quando o portal repercutiu de forma maldosa um vídeo “vazado” da Sabrina Sato, que depois revelou estar participando de uma campanha de conscientização. Nunca mais recuperaram meu precioso like.

Mas tenho visto cada vez mais frequentemente as pessoas publicarem no Facebook avisos de que deletaram (ou deletarão) um sem-número de contatos do Facebook porque essas pessoas curtem certas páginas ou perfis. Como meu círculo é totalmente voltado à esquerda, o que mais me aparece nesse sentido é internauta anunciar gloriosamente a exclusão em massa de quem gosta de assuntos ligados a Bolsonaro, Danilo Gentili, Orgulho de ser Hetero…

Em apenas duas ocasiões fui questionado em relação aos meus likes do Facebook. Em uma delas, uma amiga veio perguntar por que raios eu curtia a página do Geraldo Alckmin, então tive de explicar que é porque o homem governa meu Estado e eu tenho interesse em saber o que ele anda publicando. A outra foi quando surgiu o Lulu e todo mundo que me avaliou no aplicativo resolveu citar um ponto grave no meu perfil: “Curte Romero Britto.”

O que eu vejo aí como um grande problema é que as pessoas parecem tão certas sobre o caminho que decidiram seguir que elas se consideram no direito de apontar o dedo às outras e criticá-las pelo simples fato de que pensam de forma diferente. Minha mãe adora o Danilo Gentili, isso quer dizer que eu tenho de catequizar a velha até ela deixar de gostar do cara e, se não der certo, excluí-la do meu Facebook?

Qual seria o próximo passo, deixar de ligar para a minha terrível mãe que gosta do que eu não gosto? Quer dizer que todo religioso tem de se afastar virtualmente de quem é ateu e vice-versa? Que se eu sou palmeirense eu não posso ser amigo de corintiano? Que se eu apoio a legalização do aborto ou das drogas as pessoas que não apoiam são idiotas? Que babaquice, gente.

Essa dicotomização das relações talvez seja um dos principais fatores responsáveis pela infantilização da nossa sociedade, que não aceita dialogar com o outro e automaticamente classifica como inimigo qualquer um que não seja semelhante. Agora todo cara que leva esculacho de mulher reclama que ela é “feminazi”, enquanto qualquer situação em que um homem foi babaca com uma mulher acaba transformada numa luta generalizada de classes — vide o circo que se formou em torno do “estupro” no Beco 203.

Eu não estou aqui tentando ditar a forma como você deve usar o seu Facebook, mas a mim soa um tanto covarde excluir da vida virtual qualquer um que pise fora da linha do que você entende como certo. Afinal, como eu disse lá em cima, arrancar aplauso de quem é seu fã é fácil, difícil é aceitar que nem todo mundo é obrigado a pensar como você.

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