Sou melhor em amizades remotas

S. Paiva
Eu Me Escuto

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Tudo bem, você vai dizer: e quem vai te dar um abraço quando você estiver mal? Eu também penso isso, não nego. Mas sabe aquele conselho que serve melhor do que alguns tipos de abraço?

O ano é 2005. Imaginem uma menina que andava pela escola com os seguintes acessórios e itens: 1- uma touca de crochê na cabeça (item da moda na época); 2- um pentagrama recebido por ocasião da assinatura da Revista W.i.t.c.h (quem lembra?); 3- um livro do “bruxinho mais famoso do milênio” a.k.a. Harry Potter. Não, eu não era popular. E algo me diz que eu era geek antes mesmo de esse termo ser inventado (não me orgulho pouco disso).

Naquela época, eu tinha proximidade muito grande com duas amigas minhas que tinham, basicamente, os mesmos interesses que os meus: ler, escrever e falar sobre Harry Potter. E todas detestávamos forró. Gostávamos de teatro. E o resto vocês podem imaginar, tudo no pacote de nerdices.

No ano de 2005, porém, resolvi criar uma conta no clássico Orkut, rede social obrigatória dos jovens e adolescentes da primeira década do novo milênio. Se você, assim como eu, tem até uma “dorzinha” no coração, seguida de um “aaaa” quando ouve ou lê algo sobre aquela rede social, já sei que tô falando com a pessoa certa para esse tipo de texto.

“Lidos, respondidos e apagados” // SÓ NÃO A MINHA ESTRELA, CALMA LÁ!

Olha que eu resisti hard a entrar na famosa rede social do início dos anos 2000, senhores. Acho que foi preciso uma porcentagem de 70% da minha turma da escola estar no Orkut para que eu, finalmente, rendesse-me à modinha do momento (sim, eu também era hipster antes de este termo existir — e, mais uma vez: não me orgulho pouco disso).

De todo modo, estar presente no Orkut facilitou a desenvolver uma grande habilidade social minha: comunicar-me com pessoas de outros Estados e até de países diferentes que os meus (alguém tinha que dar uma lição naqueles indianos chatos que viviam querendo adicionar o meu perfil. Bando de aleatórios.).

Aí eu me deparei com uma verdade maravilhosa: quanto mais eu cavucasse em comunidades, fóruns de discussão e até, blog’s e fotolog’s (EU ERA TEAM FLOGÃO, SIM!!!), mais pessoas “parecidas” comigo eu encontrava!

E isso me deixava numa felicidade imensa, pois vocês devem imaginar como eu sempre me senti um peixe fora d’água, né mesmo? Por meio da rede, eu conseguia me por em contato com pessoas tão interessantes (quanto eu ~~apagar)! ❤

Sim, era maravilhoso! Espetacular! Só que isso gerou um porém: eu fiquei viciada em conhecer pessoas e fazer amizades pela Internet. Somente.

Tanto que surgiu o Facebook e lá já estava eu criando uma continha, mesmo que fosse pra adicionar uns 5 amigos diferentões (que nem eu) e jogar FarmVille. Surgiu o Twitter e lá estava eu respondendo “what are you doing?” (#twittêraraiz).

Saímos de 2005. Damos um salto temporal-ornamental (obrigada, Dinho Farias, pela expressão!) a la Daiane dos Santos e vamos para 12 anos depois: 2017.

Pergunta: quantos amigos “de verdade” posso dizer que tenho?

Vou fazer umas estimativas conforme um censo demográfico da minha própria cabeça (imaginem a margem de erro): posso dizer que, hoje em dia, minhas melhores amizades são 75% online ou remotas (no sentido de via remoto). Ou seja, nada de amiguinhos pra ir na baladinha topperson no final de semana; e nada de sermos rolêzeros juntos no shopping. Nenhuma companhia pra isso.

Isso tudo por quê? Eu me viciei na companhia instantânea, aquela feita por cabos de fibra óptica.

Pronto, já podem me condenar agora. Mas, ao menos, posso apresentar minha linha de defesa?

Primeiro que: amizades virtuais podem ser tão presentes quanto amizades “físicas”. Aliás, acho que muita amizade virtual dá de 10 a 0 em “amizades” que existem por aí no dito “mundo real” (gosto dessa definição, pois é como se o que acontecesse na Internet fosse imaginário — !!!).

Tudo bem, você vai dizer: e quem vai te dar um abraço quando você estiver mal? Eu também penso isso, não nego. Mas sabe aquele conselho que serve melhor do que alguns tipos de abraço? Um abraço vindo da alma de uma pessoa pode ser bem melhor do que muito “tô indo pra sua casa agora” e o ser chegar lá, olhar pra sua cara e não conseguir, simplesmente, dizer coisa. Ou se diz, acabar falando besteira.

E outra: até que ponto precisamos de uma amizade, ainda que física, mas com a qual não temos lá muita conexão? Eu já caí nessas bad trip’s: de preencher a “falta de amigos” com a presença de pessoas randômicas, como se eu jogasse o meu reprodutor de música no modo aleatório só por me incomodar com o silêncio. Bem, não é assim que as coisas deveriam funcionar, não é mesmo?

E mais: existe SENSAÇÃO MELHOR do que você, futuramente, vir a conhecer a pessoa com a qual você desenvolveu um laço genuíno de afeto, carinho e, até, por que não dizer, de amor na chamada “vida real”? Saber que existe um alguém, jogado em determinada cidade que sempre fica a mil caralhadas de distância de você, e a pessoa está ali: retratada em carne e osso. E que ela não é só um item da sua lista de contatos.

É muito emocionante, vocês não podem negar. Quem já passou por algo parecido, de amizades ou relacionamentos à distância, pode falar sobre.

A questão é que, claro, estou perdendo algo com isso também: tamanha é minha preguiça hoje em dia de combinar um programa com “amigos físicos”. Isto porque todas as variantes de “ah, porque eu não quero ver/já vi esse filme” (geralmente, o mais legal que tá passando no cinema), ou do famoso FURO (que eu odeio mais do que fã de Star Wars que se acha inteligente só por ser fã de Star Wars) já me geram um nervoso, uma gastura e, assim, a tendência absurda em querer procurar amizades que não me provoquem esse tipo de stress, ou seja, as virtuais — pelo menos, não é a regra o amigo que espera te conhecer há bastante tempo ou possui poucas chances de fazer isso: furar. Raras são as chances, convenhamos.

Claro que não procuro, com esse texto, por as amizades virtuais num pedestal. Acho que elas acabam preenchendo as necessidades de cada um conforme cada caso, em sua própria peculiaridade. Pra mim, serviu bastante no sentido de que sou uma pessoa que já conheceu meio mundo de culturas, sentimentos, vocabulários, sem que, necessariamente, eu tenha precisado me mover da cadeira e me mudar para mil cidades. Pessoas com as quais eu, de algum modo ou em determinado momento da vida, eu REALMENTE me identifiquei. Além das oportunidades que me foram criadas por causa dessa “fluidez” de relações, mesmo no sentido profissional.

Por isso, falando por mim, creio que eu seja melhor com amizades remotas ou virtuais (SEM MENOSPREZAR AS “FÍSICAS”, pois elas podem ser poucas, mas são boas também ❤).

O que eu posso concluir com isso?

A — que bom que sou uma jovem nascida na era da informação;

B — tenho receio de um dia acabar casando pela Internet, tamanha a minha falta de paciência com os serumaninhos que costumam chegar até mim na sua forma física!

(sim, eu me sentiria tal qual numa cena de Wall-e, aquela animação da Disney-Pixar)

E pra você? Qual tipo de amizade funciona melhor: a presencial ou a virtual? Deixe sua opinião nos comentários!

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S. Paiva
Eu Me Escuto

Escritora de porta de terapeuta | Filha do meio, millenial, potterhead e casada com o cara de TI