Destino esquecido

Abner Oliveira
um a zero
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3 min readAug 20, 2020

A história por trás dos mascotes de clubes são carregadas, na maioria das vezes, de um sentimento e contexto. Fator geográfico, características comportamentais e até ressignificação de sentido, outrora usado por rivais de maneira pejorativa por uma eventual situação.

Carregado no imaginário por determinado acontecimento, título ou jogo significativo, os torcedores também costumam se apegar em verdadeiros talismãs, criaturas com vida real que passaram pelo clube de maneira especial e relevante.

Biriba é um exemplo de amuleto e mascote adotado pela torcida, mas principalmente por Carlito Rocha. Considerado o pioneiro nas crendices e superstições botafoguenses, o presidente conseguiu transformar um cachorrinho vira-lata em protagonista.

Desde uma goleada contra o Madureira por 10 a 2 e a presença de Biriba no banco de reservas, a atenção de Carlito Rocha se voltou ao novo mascote do clube. Com cadeira cativa em todos os jogos do Botafogo, certa vez o presidente garantiu a entrada de Biriba em São Januário colocando-o em seus braços, validando a entrada de seu mascote em terras cruz-maltinas.

Foto: Acervo / Conselho Deliberativo do Botafogo

Coincidência ou não, após um jejum de 13 anos e com a presença de Biriba, o Botafogo era campeão carioca de 1948.

A partir do ano seguinte, com as sequentes derrotas, o mascote vira-lata já não era mais tão importante tanto para Carlito, quanto para o Botafogo, abandonado na rua como boa parte dos animais de sua grife.

Botafogo só voltaria ao topo do campeonato estadual em 1957, sem Biriba, mas com Garrincha, Nilton Santos, Didi, entre outros.

Logo na década de 60, com a mesma base campeã no final dos anos 50, o Botafogo conheceu um dos maiores do Brasil e o maior goleiro de sua história: Haílton Corrêa de Arruda, mais conhecido como Manga.

Apesar da linda história e rica bagagem de títulos, os últimos anos para Manga não condizem com a situação favorável de um atleta tão vitorioso.

Com apenas um salário mínimo e doente, foi preciso que torcedores do Nacional-URU amparassem o goleiro, pagando a viagem do Equador para o Uruguai, hospedagem e tratamento médico do ídolo.

Foto: Acervo pessoal/Enrique Singlet

Manga e Biriba; destino esquecido.

“Eu preciso de ajuda, não estou pedindo milhões para viver a vida mais tranquila[…] A minha senhora sempre pedia para o Internacional, para o Botafogo, e eles não respondem, e a vida é assim mesmo…”

Segundo Macaé, antigo dono de Biriba, em 1956, ao encontrar com Carlito Rocha, explicou a situação precária que vivia o amuleto “quebrado”. O tempo e a vida se tornaram justificativas para Carlito.

“Não estou reclamando dos clubes, estou dizendo que não tenho apoio, nada mais. Então espero o apoio das torcidas, dos clubes, para eu encerrar a minha vida aqui no Rio de Janeiro.”

Dois exemplos do clube da Estrela Solitária, mas que não se resumem somente a eles.

A conveniência é uma das principais características da ingratidão, ou seja, enquanto houver vantagem, existe mutualidade. Depois, o passado e a memória se encarregam de cuidar e não descartar.

CASTRO, Ruy. 1995. “Estrela Solitária: Um brasileiro chamado Garrincha”

https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-noticias/2020/03/18/em-crise-ex-goleiro-manga-e-o-1-ex-jogador-a-morar-no-retiro-dos-artistas.htm

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2020/01/sem-dinheiro-e-doente-ex-goleiro-manga-e-abracado-por-uruguaios.shtml

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