Jogando contra

Joao Lucas Brito
um a zero
Published in
3 min readDec 11, 2020

Segunda ou ainda primeira onda que não saiu da ascensão. Independentemente de onde estamos, a COVID-19 permanece em nossa sociedade e, consequentemente, no futebol.

É fato que estamos passando por um dos períodos mais difíceis como torcedor do esporte mais popular do mundo. Xingar, vibrar, se emocionar e até cantar os gritos populares de cada clube na frente de uma televisão nunca foi e nunca terá a mesma sensação de ir a um estádio e ver seus ídolos de perto. Talvez a falta dessa sensação que fez os torcedores do São Paulo irem em frente ao Morumbi antes do jogo decisivo contra o Flamengo na Copa do Brasil para apoiar seu clube. Ou até mesmo a torcida do ABC, que de um barranco próximo ao estádio, acompanhou o time e pôde matar a saudade de ver e gritar pelo seu time de coração.

Foto: Mallyk Nagib

Mas não, torcedor. Isso não é desculpa.

Paralelamente a estes fatos de prestígio ao clube em momentos positivos dentro das competições, há também outras aglomerações com objetivo de criticar e cobrar o time devido as más atuações e resultados. Seja ela feita na frente do centro de treinamento, como a do Corinthians, ou indo “vigiar” os atletas que, em momentos de lazer, estão em baladas, bares ou festas particulares. Claro, jogador ou qualquer pessoa que vá em locais que não respeitam protocolos de segurança está errado. Mas esta justificativa dos torcedores para ficarem na “marcação” do elenco de seu time é, no mínimo, hipócrita. Basta relembrar a ação feita pela torcida do Avaí e Atlético/MG nos últimos dias que, para reprimir e chamar atenção, pressionaram e chegaram a agredir os atletas.

O fato é que já se passaram seis meses do retorno dos jogos de futebol e a única conclusão que chegamos é que todos os envolvidos e responsáveis pelo entorno dos jogos não estão preparados.

Nos últimos meses, o sindicato dos atletas entrou com uma ação civil pública com pedido de paralisação dos jogos organizado pela CBF. Os sindicatos de 5 estados (São Paulo, Bahia, Santa Catarina, Minas Gerais e Piauí) apontou erros no protocolo da CBF, pois expõe o trabalhador a risco. A justificativa é que o afastamento, em quarentena, é previsto apenas aos atletas diagnosticados com Covid-19, e não dos profissionais que tiveram contato com os infectados. Ou seja, estes outros que tiveram o contato podem infectar outros atletas, já que o contágio pode ser diagnosticado somente em exames futuros. Inclusive esse protocolo foi o adotado pelas empresas, escritórios e outros ambientes de trabalho que retornaram ao longo do ano, mas no futebol, não.

Foto: Ciro de Luca

A ação pleiteava para que as partidas fossem interrompidas até que o protocolo fosse revisto, porém, a juíza Marcela Aied Moraes, da 12ª Vara do Trabalho de São Paulo, negou pedido de tutela de urgência. Os campeonatos continuaram, e o contágio do novo vírus também. De acordo com o jornalista Roberto Maleson, do Globoesporte.com, mais de 340 jogadores foram infectados até final de novembro deste ano. O resultado disso, vocês já sabem: diversos times desfalcados, a ponto de quase não terem atletas para as posições, como no caso do Athletico/PR no confronto contra o Palmeiras pela 23ª rodada do campeonato nacional.

E vale ressaltar que estamos de falando do futebol de elite do Brasil, com clubes que tem estrutura para poder buscar alternativa nestes casos.

Não é o melhor dos cenários para se ter futebol. Para piorar, ninguém coopera para que os eventos aconteçam da melhor maneira. Clubes, federações, jogadores e torcidas jogam contra nesta luta, e todos tem sua parcela de culpa para todos esses acontecimentos.

O posicionamento e “grito” para mudanças neste cenário dos sindicatos não foi ouvido, nesse instante. Mas com certeza não foi em vão. Para continuar é necessário modificação, mais do que isso, conscientização de todos, inclusive sua, torcedor.

Torcedores do América/MG comemorando classificação da Copa do Brasil na partida contra o Internacional/RS — Foto: twitter.com/AmericaMG

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