Por favor, não seja profissional
É sempre positivo o incentivo a busca de conhecimento, certo? Mas não é estranho ouvir por aí que quando alguém estuda demais, essa pessoa acaba ficando um tanto que biruta. Já ouviu isso?
Apesar de soar engraçado, é possível sentir gotas de sabedoria nessa afirmação.
A busca por conhecimento pode acarretar em arrogância, assim como o seu resultado pode cair na compreensão das incertezas, o que pode deixar qualquer um sem chão.
Estádio Hudson Buck Ferreira, fevereiro de 2001.
Não era sua primeira vez num ambiente como esse, mas o garoto que começava a pegar gosto pelo jogo, estava ansioso pelo início da partida entre Matonense e Palmeiras, pelo Campeonato Paulista.
A expectativa era grande do pequeno torcedor, já que não era sempre que podia ver seu time em campo, pois era do interior do Estado, muito longe da Capital. Aliás, a criança ainda não tinha muito tempo que havia se mudado para cidade onde ocorreu o jogo.
Talvez por ainda não estar muito familiarizado com o novo lar, estava torcendo muito contra o time da casa.
No concreto, devidamente fardado, ao lado de seu pai, que estava junto de um amigo com nome Arquimedes, começa a avistar os jogadores entrando em campo e uma pergunta é feita: quem é o melhor jogador do time?
A resposta é firme e vinda dos dois:
— Alex, o nosso camisa 10.
Apesar do entusiasmo, o jogo começa e não demora muito para o time de azul e branco abrir o placar. O espírito insatisfeito palestrino surge com naturalidade.
Quando avista e ouve os torcedores adversários rindo, tirando uma com os que estavam trajados de verde, a raiva sobre o seu próprio time vem a tona com sucessivas reclamações.
Seu pai apenas diz:
— Calma, filho.
Mas o seu olhar, na verdade, traduzia aquelas palavras para: bem-vindo.
O empate não demorou a vir, assim como o segundo gol do time da casa e assim terminava o primeiro tempo. E assim transcorria até mais da metade do segundo tempo, quando o garoto já se via sentado e só reclamando de seu time.
Então, com um jogo um tanto que parado, vem um golaço! Era o empate já com o jogo terminando e era a vez dele rir e comemorar olhando para os torcedores da Matonense.
Quando ainda estava pulando, outro golaço! Virada, meus amigos. Êxtase, elevação, gritaria, abraço, risada e tudo o que você quiser. Tanto faz…
Engraçado que, ainda em clima de comemoração, a pergunta do menino foi: foi do Alex, pai?
— Sim!
Disse, sem hesitar.
Aquilo viria a repercutir muito ainda na vida do menino.
A sua saída do time; o gol de letra contra o Flamengo, na final da Copa do Brasil; doeram bastante.
Também pôde se deleitar com os vídeos alternativos na internet que mostravam os lances dos jogos do Fenerbahçe e torcer muito pelo clube na Champions League.
Chegou até a enviar e-mail endereçado para a ESPN Brasil, mais especificamente para o programa Futebol no Mundo, que daria para a frase mais criativa uma camisa do time turco, com a assinatura do capitão.
O menino foi crescendo, contudo. Então, não era só mais bola que encantava o agora rapaz, que passou a admirar a forma de pensar do jogador de nome com grafia diferenciada.
O que fez com que a sua escolha pelo Coritiba, quando da volta ao Brasil, o deixasse ainda mais feliz, por perceber que Alex, além de craque (palavra que deve ser proferida a poucos), tinha ideais que de fato seguia.
As contradições da vida parecem nos deixar sem respostas, sem caminho. Mas é justamente o contrário: quando duas afirmações são colocadas em xeque, porque não estão corretas, mas também estão certas, é porque há um caminho do meio a ser seguido, uma terceira via.
Quando vemos um cara como o Alex, que se fez grande por vias não ditas tradicionais, e continua sua caminhada baseada numa paixão pelo esporte, aliando sua experiência com estudo e preparação, acho que vemos um pouco disso dentro dessa perspectiva.
O inevitável treinador será, também, inevitavelmente grande.
A compreensão de funcionamento da imprensa, da realidade dos clubes, e da vida pessoal dos jogadores, fazem de suas críticas e elogios diferentes do que se costuma ver.
O que se espera não ser inevitável é que Alex se torne Alexsandro de Souza.
Aliás, caso queira saber um pouco mais, essa entrevista dada ao Léo Miranda é espetacular.
Mas voltemos ao problema de quem costuma estudar demais: talvez esse seja o do menino citado anteriormente. Vendo entrevistas em que foi dito que maior parte de sua família é de orientação corintiana; outras em que ele não quer dizer qual o time que ele gostaria de ter jogado; além de sua postura sempre muito profissional.
Ao buscar o vídeo do jogo em que ele o viu pela primeira vez, pôde constatar todos os fatos que sua memória lhe diziam ter sido reais. Mas, o último gol não foi de Alex…
Maus indícios são por ele sentidos. Coisas das quais não queria ter buscado conhecimento.
Informações privilegiadas aqui podem ser ditas a respeito daquele menino, que só tem um pedido:
O meio termo, o caminho não óbvio. Alex, por favor, não seja profissional.