Raízes do Estádio
(…) quase quarenta e oito minutos, vai termi-e se marca o segundo gol, hein? Complica a vida do Verdão… Vai terminar o primeiro tempo; APITA M-ÁRBITRO! Acabou… Fim do primeiro tempo na Arena do Corinthians em Itaquera! O Coringão tá na frente, gol de Gil, de cabeça!… Um frango do Weverton (…)
— Olha a pipoca! Pipoquinha! Pipoca!
— Pai, eu posso?
O pai só acena positivamente com a cabeça e se inclina para pegar a carteira do bolso de trás da calça.
— Moço, eu quero uma!
— Pra já, chefia! Dez conto!
Com a cara de espanto, o pai já tira as duas notas de cinco da carteira e estica o braço para entregar ao jovem vendedor, mas pergunta:
— Dez conto?
O vendedor dá aquele sorriso amarelo, pega o dinheiro e já entrega a pipoca a menina.
— Dez reais numa pipoquinha dessa complica pra gente, né?
Perguntou um homem mais velho.
— Pois é, depois de quase seis anos da inauguração, tive coragem de trazer minha menina para o estádio. Arena, né? Sei lá… Importante é que estamos ganhando do freguês!
— Ô moço, pra quê esse rádinho no ouvido se o jogo está passando na sua frente?
— Clarice! Respeito com o senhor!
Positivamente surpreso, o homem gesticula para o pai para que não se preocupasse.
— Que lindo seu nome; o meu é Jorge. Muito boa a sua pergunta, Clarice. Eu me faço a mesma pergunta quando eu vejo aqueles a nossa esquerda, cantando o jogo todo, pulando, ficando várias vezes de costas para o campo, sem ver o jogo.
— Eu também não entendo aqueles ali no camarote. Parecem estar preocupados com tudo, menos com o jogo.
— Desculpe, qual o seu nome?
Perguntou, Jorge. E respondeu a Clarice:
— É Carlos! Mas todo mundo chama ele de Machado.
— Muito prazer, Machado… Talvez todas essas diferenças sejam um pouco do que Sérgio Buarque de Holanda escreveu.
— Confesso que não sou muito de ler…
Balança a cabeça negativamente a Clarice.
— Eu li recentemente um livro dele que diferencia os homens do trabalho e os da aventura, digamos assim… O ponto é que esses dois tipos pensam de forma muito diferente e não conseguem se entender.
— Faz sentido… Eu nunca vou entender esse tipo de gente que vem ao estádio sem muita conexão com o jogo… Chato demais…
— Verdade, Machado.
Quando os jogadores voltam para o gramado, a última sentença é de Clarice.
— Mas todos esses que a gente falou querem o gol, né? Todo mundo acaba comemorando junto. Não é?
(…) Apita o árbitro! Boa sorte a todos nós! BOM FUTEBOL PRA VOCÊ! (…)