Raízes do Estádio

Guilherme Prisco
um a zero
Published in
3 min readJul 25, 2020

(…) quase quarenta e oito minutos, vai termi-e se marca o segundo gol, hein? Complica a vida do Verdão… Vai terminar o primeiro tempo; APITA M-ÁRBITRO! Acabou… Fim do primeiro tempo na Arena do Corinthians em Itaquera! O Coringão tá na frente, gol de Gil, de cabeça!… Um frango do Weverton (…)

— Olha a pipoca! Pipoquinha! Pipoca!

— Pai, eu posso?

O pai só acena positivamente com a cabeça e se inclina para pegar a carteira do bolso de trás da calça.

— Moço, eu quero uma!

— Pra já, chefia! Dez conto!

Com a cara de espanto, o pai já tira as duas notas de cinco da carteira e estica o braço para entregar ao jovem vendedor, mas pergunta:

— Dez conto?

O vendedor dá aquele sorriso amarelo, pega o dinheiro e já entrega a pipoca a menina.

— Dez reais numa pipoquinha dessa complica pra gente, né?

Perguntou um homem mais velho.

Imagens meramente ilustrativas do site do Corinthians

— Pois é, depois de quase seis anos da inauguração, tive coragem de trazer minha menina para o estádio. Arena, né? Sei lá… Importante é que estamos ganhando do freguês!

— Ô moço, pra quê esse rádinho no ouvido se o jogo está passando na sua frente?

— Clarice! Respeito com o senhor!

Positivamente surpreso, o homem gesticula para o pai para que não se preocupasse.

— Que lindo seu nome; o meu é Jorge. Muito boa a sua pergunta, Clarice. Eu me faço a mesma pergunta quando eu vejo aqueles a nossa esquerda, cantando o jogo todo, pulando, ficando várias vezes de costas para o campo, sem ver o jogo.

— Eu também não entendo aqueles ali no camarote. Parecem estar preocupados com tudo, menos com o jogo.

Twitter de Alex Tobias
Rodrigo Gazzanel | Ag. Corinthians
Business Lounge (arena.corinthians.com.br)

— Desculpe, qual o seu nome?

Perguntou, Jorge. E respondeu a Clarice:

— É Carlos! Mas todo mundo chama ele de Machado.

— Muito prazer, Machado… Talvez todas essas diferenças sejam um pouco do que Sérgio Buarque de Holanda escreveu.

— Confesso que não sou muito de ler…

Balança a cabeça negativamente a Clarice.

— Eu li recentemente um livro dele que diferencia os homens do trabalho e os da aventura, digamos assim… O ponto é que esses dois tipos pensam de forma muito diferente e não conseguem se entender.

— Faz sentido… Eu nunca vou entender esse tipo de gente que vem ao estádio sem muita conexão com o jogo… Chato demais…

— Verdade, Machado.

Quando os jogadores voltam para o gramado, a última sentença é de Clarice.

— Mas todos esses que a gente falou querem o gol, né? Todo mundo acaba comemorando junto. Não é?

(…) Apita o árbitro! Boa sorte a todos nós! BOM FUTEBOL PRA VOCÊ! (…)

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