Filme ‘En la Boca’
O Boca Juniors é um dos clubes de futebol mais famosos do mundo por sua hegemonia na Argentina e pela sua característica popular. Mas o conceito de ser um “clube do povo” é bem diferente para uma equipe sulamericana do que é para uma europeia. O bairro que abriga o time é também um dos mais pobres da capital Buenos Aires e muitos de seus torcedores encontram na paixão pelo Boca e uma chance de sobrevivência. É o caso do personagem principal Matías Molina.
Morando num ferro velho próximo a La Bombonera com seus pais e irmã mais nova, o homem não apareceu sóbrio por um instante sequer ao longo dos 25 minutos do curta-metragem. Nem quando ia prestar sua única contribuição para a renda da casa, estacionando carros e fazendo negócios em dias de jogo do Boca. Ou mesmo brincando com seu bebê, que o avô diz que em breve estará seguindo o caminho dos homens da família: revendendo ingressos, com muito cuidado para que as cópias falsas não sejam pegas pela polícia. Se não, ele poderá ir para a prisão, se for desleixado como Matías, que coleciona infrações.
A câmera captura momentos íntimos e duros da vida daquela família e merece elogios por extrair planos bem compostos de um ambiente tão pequeno, ainda mais aparentando ser ignorada pelos personagens. Sem contar os entulhos, não há mais nada a se mostrar na rotina dos Molina além de apreensão e miséria.
Com igual excelência, a direção do suíço Matteo Gariglio coordena o olhar do espectador para o desfecho, que já é conhecido desde o início do filme. Ciente do destino de Matías, a percepção sobre quem ele se tornou e o que faz pode ser relativizada, e entende-se a importância do recado que o avô manda ao neto.
Avaliação: 8
(En la Boca, 2016, Matteo Gariglio, 25 min, Suíça/Argentina)