Filme “O Roupeiro”
A cada jogo que o Independiente Del Valle-ECU superou na campanha do vice-campeonato na Libertadores de 2016, os jogadores e o treinador foram celebrados, os torcedores se orgulharam de serem os melhores equatorianos do ano e a diretoria colheu os frutos que plantou com a melhor participação do clube na competição. Isso tudo estava nas capas de jornal, nos debates do rádio, nos replays da TV. Mas outro personagem acompanhou e viveu de perto a luta pelo título de um ponto de vista próprio: o roupeiro.
O roupeiro é uma posição que passa despercebida pela escalação dos 11 iniciais, mas é um pilar fundamental na organização do vestiário, no clima da concentração e na alegria do dia a dia dos clubes. O caso de Mario Alcacer não é diferente e, à seu estilo, o simpático roupeiro equatoriano honra seu papel com mais do que devoção. Do patamar de sua atuação invisível, ele desempenha sua função impecavelmente e brilha com seu carisma sob as lentes de Andrés Cornejo.
Recebendo o poderoso Boca Juniors-ARG no jogo de ida da semi-final da Libertadores, os xeneizes abriram o placar. Poderia ter sido o início do fim de uma bonita trajetória do del Valle, que já tinha superado campeões como Colo-Colo-CHI e River Plate-ARG pelo caminho. Mas se uma pessoa não deixou de acreditar no Del Valle. esta era Mario Alcacer. Ele não pode deixar o vestiário durante as partidas, mas sabe, apenas pela vibração da torcida, tudo o que se passa no jogo. Quem ataca, quando sai gol, quando o goleiro defende um pênalti, se o juiz está indeciso. E ele soube quando seu time virou o jogo.
Ilustração perfeita do lema “não existe eu no time”, Alcacer colocava o bem estar do time em favor do seu e se doava das mais diversas formas. Se não era carregando o material esportivo nas costas, era tentando pegar atalhos no trânsito para chegar no estádio a tempo. Cobrou a polícia argentina, minutos antes do jogo de volta: “o comandante pode ser do Boca e não libera esse trânsito. Aí me fodo”. Alcacer é símbolo de entrega ao time, cuidando de tudo e de todos.
Uma obra de cinema direto como manda o manual, a câmera apenas observa as ações de Alcacer, e ele, como um ator experiente, segue o roteiro sem hesitação. E nem mesmo se atuasse, expressaria reações tão espontâneas quanto as registradas no emocionante jogo que assegurou a vaga para a grande final.
O resultado do torneio já é sabido e não é pela decisão do placar que o documentário é incrível. O filme retrata uma figura única dentro de um time, tão especial quanto ordinária, indispensável para que o monte de jogadores treinadores e assistentes sejam, juntos, chamados de time.
Avaliação: 8
(El Utilero, 2017, Andrés Cornejo, 25 min, Equador)